Juros (TimArbaev/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de setembro de 2017 às 10h33.
São Paulo - A forte turbulência no cenário político nos últimos dias contrasta com dados cada vez mais positivos vindos da economia. O IPCA, índice oficial de inflação do País, fechou o mês de agosto em 0,19%, abaixo das estimativas do mercado, segundo dados divulgados ontem, 06, pelo IBGE. Em 12 meses, a inflação está em 2,46%. E, também ontem, 06, o Banco Central reduziu a Selic, taxa básica de juros da economia, de 9,25% para 8,25% ao ano.
Até ontem, 06, as apostas majoritárias do mercado financeiro apontavam para uma Selic de 7,25% ao final do ano. Com isso, igualaria o nível mais baixo da taxa de juros no Brasil, registrado em 2012, no governo Dilma Rousseff. Mas, com a inflação em níveis tão baixos, economistas começam a apostar em uma taxa ainda menor, até abaixo dos 7%.
E, diferentemente da época do governo Dilma, quando a queda da Selic foi mais uma questão política, sem amparo nas condições macroeconômicas (quando o ex-presidente do Banco Central Alexandre Tombini deixou o cargo, no ano passado, os juros já estavam em 14,25% ao ano), a avaliação agora é de que há condições para o País, finalmente, manter tanto a inflação quanto a Selic em níveis baixos, o que tem um efeito benéfico tanto na vida das pessoas quanto das empresas.
"A nossa expectativa é que a inflação se mantenha baixa pelo menos nos próximos dois anos", disse o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados. "E, com a inflação em níveis mais comportados, a Selic pode cair e se manter, o que não é usual no Brasil." O senão nesse quadro, diz, é a questão fiscal, ainda muito complicada, e que só vai se resolver com a aprovação das reformas econômicas, especialmente a da Previdência.
Para o economista, a inflação deve ficar este ano em torno de 3%, o que pressionará o Banco Central a baixar ainda mais os juros, talvez até abaixo dos 7,25% previstos atualmente. A meta de inflação perseguida pelo BC é de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. Quando essa meta é descumprida, o presidente do banco precisa enviar uma carta ao Ministério da Fazenda explicando porque isso ocorreu.
Além da sazonalidade
Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e sócio-diretor da Schwartsman & Associados, a surpresa com o IPCA de agosto mostra que o resultado vai além de questões puramente sazonais e da queda nos preços dos alimentos. Segundo ele, as condições para o IPCA fechar até abaixo de 3% este ano são crescentes.
Além disso, o ambiente desinflacionário que tende a persistir em 2018 - ainda que em menor magnitude - deve permitir que a Selic continue caindo em 2018, a despeito dos sinais de retomada da atividade econômica. "A possibilidade de aumento de juros no ano que vem é remota. O desemprego ainda está muito elevado", afirmou.
Conforme o economista, a ociosidade elevada dá espaço para que a taxa Selic caia abaixo do nível histórico de 7,25%. Por ora, ele prevê a taxa de juros fechando este ano em 7%, mas não ignora a possibilidade de a Selic terminar em 6,75%. Para ele, o principal risco desse cenário favorável em termos de juros e inflação é o quadro fiscal, ainda bastante complicado.
"Há vários argumentos da inflação que sugerem que há espaço para mais reduções (da taxa de juros). Dá a impressão de que a Selic teria condições de terminar este ano mais perto de 6% do que de 7%", disse o economista Hélcio Takeda, da consultoria Pezco.
Após o anúncio do BC, o porta-voz do presidente Michel Temer, Alexandre Parola, fez um pronunciamento para comentar o "conjunto amplo de notícias que confirma o bom momento que atravessa a economia brasileira e sua plena recuperação". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.