Economia

Com guerra de tarifas, governo teme aumento da oferta de produtos chineses e disputas setoriais

Avaliação na equipe econômica é de que países asiáticos taxados pelos Estados Unidos devem deslocar parte das exportações para o Brasil

Porto de Santos: guerra comercial deve aumentar a entrada de produtos chineses e asiáticos no Brasil (Germano Lüders/Exame)

Porto de Santos: guerra comercial deve aumentar a entrada de produtos chineses e asiáticos no Brasil (Germano Lüders/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 6 de abril de 2025 às 09h30.

A guerra de tarifas iniciada pelos Estados Unidos e a pronta retaliação da China é acompanhada com preocupação pelo governo brasileiro, afirmaram à EXAME técnicos da equipe econômica.

A disputa comercial tem potencial de deslocar parte da oferta de produtos chineses e dos demais países asiáticos para o Brasil, com preços abaixo dos praticados no mercado interno, disseram à reportagem técnicos do Ministério da Fazenda e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Como consequência desse processo, os mesmos técnicos do governo temem uma disputa setorial entre empresas brasileiras e asiáticas, além de uma pressão para que sobretaxas de importação passem a incidir sobre os produtos importados.

Pedidos de sobretaxação para importados chineses

São esperadas pelo governo pressões dos setores têxtil, de aço e alumínio, de produtos eletrônicos e outras manufaturas no curto prazo, diante da mudança das rotas comerciais com a guerra tarifária entre Estados Unidos e China.

Essa avaliação de parte da equipe econômica reduz espaço para que o governo possa tirar dividendos políticos de uma eventual disputa com os Estados Unidos, a partir de um discurso de união nacional, avaliaram técnicos da MDIC, da Fazenda e da Casa Civil.

"Temos mais a perder do que ganhar em uma disputa com os Estados Unidos. Uma guerra com os norte-americanos nos afasta de outros parceiros comerciais, que também nos excluiriam. Além disso, a tendência é que tenhamos, no curto prazo, disputas com China, Malásia, Vietnã e outros países asiáticos", disse um técnico do governo.

Busca por negociação

A avaliação ainda predominante no governo é de que a negociação é o melhor caminho a ser construído diante do novo rearranjo do comércio global. Segundo técnicos da Fazenda, do MDIC e do Casa Civil, existem, de fato, pressões por uma ala do PT por retaliações aos Estados Unidos.

Entretanto, as alas mais ponderadas do governo têm conseguido convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o Brasil tem mais a perder do que a ganhar em uma disputa com os Estados Unidos.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, em reunião com ministros os instruiu a não usar a palavra retaliação nas declarações públicas para evitar inflamar esse debate. Lula tem criticado Trump publicamente, mas de maneira considerada moderada por ministros da equipe econômica.

"Temos que buscar incansavelmente a negociação. O Brasil é favorável ao multilateralismo e não podemos mudar essa postura. Quando esgotada a negociação, devemos retornar para a mesa e negociar mais uma vez", disse um técnico do governo.

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