Economia

Com fim de benefícios, Europa se aproxima de crise no mercado de trabalho

Nos próximos meses, os programas de emergência vão expirar em todo o continente, criando o risco de uma segunda onda de desemprego na economia

Cadeiras recolhidas em restaurante fechado em Lisboa, Portugal.  (ose Sarmento Matos/Bloomberg/Getty Images)

Cadeiras recolhidas em restaurante fechado em Lisboa, Portugal. (ose Sarmento Matos/Bloomberg/Getty Images)

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Bloomberg

Publicado em 25 de junho de 2020 às 17h56.

Última atualização em 25 de junho de 2020 às 22h12.

No norte de Portugal, Tiago Carvalho conta nervosamente os dias até que seu negócio possa ficar de pé.

O dono do restaurante em Braga, onde fica a catedral mais antiga do país, diz que a receita é menos de um terço do valor antes do coronavírus afastar turistas e confinar residentes em casa. Mesmo com as restrições de isolamento social amplamente revertidas, os clientes continuam longe, refletindo o lento ritmo de recuperação na Europa.

A menos que a situação mude logo, Carvalho e milhares de outros como ele estão com problemas. No final de julho, Portugal planeja suspender o chamado programa de demissão simplificada que, como dezenas de programas governamentais similares em toda a Europa, ajudou a manter empregos pagando parte do salário para funcionários que não podiam trabalhar.

A difícil situação de empresas e trabalhadores em Portugal deve ser repetir na maior parte da Europa. Nos próximos meses, os programas de emergência vão expirar em todo o continente, criando o risco de uma segunda onda na economia.

A medida para a proteção do emprego tem que continuar ou os restaurantes terão que demitir trabalhadores, disse Carvalho, de 40 anos, que administra dois restaurantes em Braga e atua como porta-voz de uma associação local que representa cerca de 140 restaurantes. Na hora do almoço na semana passada, ele serviu apenas duas mesas em um de seus restaurantes.

Depois de julho, o governo português planeja fazer a transição para outras medidas que incluem incentivos para empresas manterem empregos, mas o impacto é incerto.

Governos de outros países também estão cientes do perigo. Muitos estão diminuindo os programas, em vez de suspendê-los, e alguns tentam estender a ajuda, apesar da pressão nos orçamentos. Na quarta-feira, a França traçou planos para um novo esquema de proteção do emprego que pode durar até dois anos.

Mas isso pode não ser suficiente com a demanda em todo o continente bem distante dos níveis anteriores à crise e que, provavelmente, não irá se recuperar totalmente tão cedo. Números do Insee, agência de estatísticas da França, mostram que a atividade na segunda maior economia da Europa ainda está 10% abaixo do normal.

Governos já injetaram bilhões em esquemas de apoio e estouraram orçamentos no processo. No centro dos pacotes estão programas de licença, com mais de 45 milhões de trabalhadores protegidos durante as paralisações. No entanto, alguns são temporários, o que significa que podem estar apenas adiando demissões.

Para empresas que viram a vida cotidiana mudar com a paralisação das economias, fica claro que reativá-las se mostra muito mais difícil.

António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, concorda: “a crise não termina por decreto e o consumo não começa por decreto”.

(Com a colaboração de Jeannette Neumann, Alessandra Migliaccio, William Horobin, Alessandro Speciale, Chris Reiter e Zoe Schneeweiss).

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