Economia

Com crise política, mercado reduz aposta em queda dos juros

A expectativa da maior parte dos economistas do mercado financeiro é de que o colegiado reduza a Selic em 1 ponto porcentual, de 11,25% para 10,25% ao ano

Michel Temer: antes da crise, várias instituições esperavam por 1,25 ponto de corte (Ueslei Marcelino/Reuters/Reuters)

Michel Temer: antes da crise, várias instituições esperavam por 1,25 ponto de corte (Ueslei Marcelino/Reuters/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de maio de 2017 às 09h42.

Última atualização em 30 de maio de 2017 às 09h43.

Brasília - A diretoria do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira, 30, sua primeira reunião para decidir os rumos da taxa básica de juros desde que, há duas semanas, a delação de executivos da JBS provocou um terremoto no governo Michel Temer.

Com a crise política, que ameaça a aprovação das reformas no Congresso, a expectativa da maior parte dos economistas do mercado financeiro é de que o colegiado reduza a Selic em 1 ponto porcentual, de 11,25% para 10,25% ao ano.

Antes da crise, várias instituições esperavam por 1,25 ponto de corte. Levantamento realizado pelo Projeções Broadcast mostra que, de 57 instituições financeiras, 47 esperam por corte de 1 ponto porcentual da Selic nesta quarta-feira, 31.

Outras oito casas projetam corte menor, de 0,75 ponto, enquanto apenas duas mantêm a expectativa por redução de 1,25 ponto porcentual.A maior cautela em relação aos juros é resultado direto do aumento do risco político.

Até a delação da JBS, instituições como Itaú Unibanco e Banco Safra haviam elevado de 1 para 1,25 ponto porcentual a estimativa de corte da Selic. Após o estouro da crise, os economistas dos dois bancos voltaram atrás e passaram a citar redução menor, de 1 ponto porcentual. O mesmo ocorreu com outras instituições.

Por traz disso está a leitura de que, com as delações da JBS, o governo Temer terá dificuldades para aprovar no Congresso as reformas trabalhista e previdenciária. "A crise política tornou a decisão do Copom mais difícil exatamente porque elevou o grau de incerteza em relação aos próximos meses", avalia o economista Mauro Schneider, da MCM Consultores Associados.

Para ele, o momento ainda é favorável para o corte de juros, já que a inflação está comportada. "Ainda mais com a redução recente do preço da gasolina e da bandeira tarifária de energia. E temos também a atividade, que lamentavelmente não dá sinais de muita força", afirma Schneider.

"O problema é que, com a crise política, naturalmente as perspectivas para as reformas e para o câmbio ficaram mais incertas", diz o economista. Assim, a MCM é uma das casas que espera por corte de 1 ponto porcentual da Selic - e não de 1,25 ponto.

Na semana em que a crise estourou, o próprio presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ao abordar as reformas, defendeu "a importância de se continuar no caminho correto, a despeito do aumento da incerteza política".

Para José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, o corte de apenas 1 ponto porcentual da Selic deve ser colocado na conta da crise política. "O Copom comenta muito sobre a necessidade de aprovação de reformas. E essa questão, nós sabemos que não há a mínima ideia de como vai ficar", afirma.

Focus

No Relatório de Mercado Focus divulgado nesta segunda-feira, 29, pelo Banco Central, as instituições financeiras também projetaram redução da Selic de 11,25% para 10,25% ao ano. A estimativa é de que a taxa termine 2017 em 8,50% ao ano.

O documento indicou ainda efeito negativo das delações da JBS sobre as demais projeções econômicas. A expectativa para o IPCA - o índice oficial de inflação - em 2017, após cair por 11 semanas consecutivas, subiu de 3,92% para 3,95%. Já o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) esperado para este ano foi de 0,50% para 0,49%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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