Economia

Com coronavírus, "empresas zumbis" se multiplicam nos EUA

Companhias sentem o impacto da pandemia e se afundam em dívidas apesar dos esforços do FED em fortalecer os mercados de crédito

Empresas zumbis: não lucram o suficiente para cobrir pagamentos de juros e sobrevivem em parte pela generosidade de bancos centrais (Alexander Spatari/Getty Images)

Empresas zumbis: não lucram o suficiente para cobrir pagamentos de juros e sobrevivem em parte pela generosidade de bancos centrais (Alexander Spatari/Getty Images)

Janaína Ribeiro

Janaína Ribeiro

Publicado em 20 de maio de 2020 às 21h41.

Enquanto o Federal Reserve faz todos os esforços para fortalecer os mercados de crédito, empresas dos Estados Unidos se afundam em dívidas.

Empresas como Carnival, Marriott International, Delta Air Lines, Gap e Avis Budget, atingidas pelo surto de coronavírus, precificaram bilhões de dólares em títulos e empréstimos nas últimas semanas.

Não importa que os lucros tenham evaporado e que as operações comerciais não sejam viáveis agora ou no longo prazo. Desde que sejam apoiadas pelo Fed, investidores estão dispostos a emprestar.

No entanto, as expectativas de recuperação econômica em forma de V desaparecem rapidamente e um número cada vez maior de veteranos do setor começa a mostrar preocupação com essa dinâmica de endividamento. Alguns alertam que o Fed está colocando os mercados de crédito no caminho de uma futura onda de inadimplência que deve ofuscar o ritmo atual de pedidos de proteção contra falência.

Outros veem consequências ainda mais graves.

Nesse cenário, dizem, empresas moribundas em setores profundamente marcados pela pandemia continuarão a tomar empréstimos. Observadores do mercado, como o economista-chefe do Deutsche Bank, Torsten Slok, temem que uma nova leva das chamadas empresas zumbis - que não lucram o suficiente para cobrir pagamentos de juros e sobrevivem em parte pela generosidade de bancos centrais - possa trazer graves consequência para todos, desde trabalhadores a investidores, nos próximos anos.

“O Fed e o governo estão interferindo no processo de destruição criativa”, disse Slok em entrevista. “A consequência é que corremos o risco de que, quanto mais tempo isso persistir - empresas que fechariam as portas caso não recebessem ajuda -, começará a pesar no potencial geral de crescimento da economia e na produtividade”.

Não é que esses riscos signifiquem que a atual política do Fed esteja equivocada. Dado o escopo do colapso econômico e o aumento sem precedentes do desemprego, a maioria dos analistas avalia que os formuladores de políticas tiveram que fazer todo o possível para atacar o problema. Só que essa forte intervenção traz grandes riscos que terão que ser abordados no futuro.

“O Fed não teve outra escolha a não ser fazer o que fez”, disse Slok.

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