Entre as prioridades está a aprovação do PL 108 do Comitê Gestor, a definição de normas da IA, que a CNI ainda espera uma mudança na abordagem do tema, assim como na Lei de Concessões (Seminário de Construção Agenda Legislativa da Indústria 2025/CNI)
Repórter
Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 06h45.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 20h51.
As queixas dos empresários industriais sobre as condições macroeconômicas do Brasil são antigas e conhecidas. Nesse ano, por exemplo, a Agenda Legislativa da Indústria chega a sua 30ª edição como um dos instrumentos de interlocução dessas demandas do setor manufatureiro com o Congresso Nacional e com o mesmo entrave que foi definido pela primeira vez três décadas atrás: o Custo Brasil.
Criada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a publicação sistematiza os principais desafios regulatórios e tributários, e busca identificar os efeitos produzidos pela carga tributária elevada, falta de investimentos, créditos caros, legislações defasadas, entre outros problemas, que reduzem a competitividade das empresas no país e fora dele.
Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI, avalia, no entanto, que o Custo Brasil segue como desafio, mas já não é o mesmo de 30 anos atrás. O cenário mudou e a agenda legislativa da representação de 27 federações, 1.300 sindicatos patronais, 930 mil empresas e cerca de 10,5 milhões de colaboradores acompanhou esse movimento, diz ele.
No dia 25 de março, em solenidade na Câmara dos Deputados, a CNI entregará an Agenda Legislativa da Indústria de 2025, que deve ter ao todo 15 proposições — cinco delas, prioridades.
A lista inclui o Projeto de Complementar (PLP) 108/2024 de regulamentação da reforma tributária que trata da instituição do Comitê Gestor; o PL 2338/2023 de definição de normas e diretrizes para uso de Inteligência Artificial; o projeto 2159/2021 do Licenciamento Ambiental; o PL 1874/2022 de instituição da Política Nacional de Economia Circular e o PL 7063/2017, da Lei Geral de Concessões.
"São projetos não apenas de relevância financeira, mas social e também ambiental. Essa voz da indústria que emerge por meio da agenda tem a ideia de tornar o Brasil mais competitivo, com maior geração de emprego e nível de investimento, olhando também a pauta externa, como o mundo se movimenta. E isso fortalece a intenção do legislador, referendado por um setor tão importante, que é responsável por 26% do PIB e quase 37% de todo imposto federal. A Agenda ajuda as duas Casas Legislativas a priorizarem esses esses projetos", diz Muniz à EXAME.
Os projetos escolhidos são resultado de um debate que mobiliza toda a base de associados da CNI. A equipe técnica da entidade identificou 7.636 propostas legislativas de interesse. Ao passar por um segundo filtro, esse total foi reduzido a 1.041 até uma nova análise de impacto junto aos representados, que resultou em 368 proposições.
O diretor da CNI detalha que essas mais de três centenas se reduziram para 135 — e 91 delas são transversais a todos os diversos setores que formam a indústria brasileira. Desse total, chegou-se, no início de fevereiro, na pauta mínima, de 15 projetos.
A decisão foi referendada pela diretoria da confederação nesta terça-feira, 18, quando os novos presidentes de federações e associações industriais também tomaram posse do mandato.
"É importante falar desse processo, porque ele dá legitimidade. Fizemos um olhar de avaliação anteriormente a esses projetos que estão sendo debatidos, juntamente com a base para alcançar, assim, milhares de empresas que estão vivenciando esse dia a dia da indústria", justifica Muniz.
No ano passado, perto de 750 propostas foram analisadas pelo seminário que escolheu 134, dessas 17 projetos de lei da agenda mínima. O balanço da CNI mostra que 8 projetos foram aprovados e três avançaram nas Casas Legislativas.
Para esse ano, a representação da indústria pela primeira vez consultou o governo federal para entender a agenda de interesses da União. A estratégia, segundo o dirigente e ex-senador, visava mais que um olhar técnico sobre os PLs, mas preparar os setores para os temas que serão indutores dentro do Congresso.
Muniz observa que a bioeconomia, por exemplo, irá emergir, conforme mostrou a pesquisa junto ao Executivo. O tema deve ganhar holofotes principalmente por causa da COP30, a Conferência do Clima da ONU que, neste ano, será realizada em Belém.
"Procuramos na nossa base quem tem interesse, empresas e associações, de participar na formulação de pareceres técnicos para que tenhamos a maior observância, primeiro, sobre a base legal que existe, mas também das oportunidades que uma nova lei pode oportunizar para um setor", afirma.
Nesse sentido, o diretor da CNI também viu convergências da pauta industrial com as 25 medidas apresentadas ao Congresso, no início de fevereiro, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para deslanchar a economia.
Em comum está a aprovação do PL 108 do Comitê Gestor, a definição de normas da IA, que a CNI ainda espera uma mudança na abordagem do tema, assim como na Lei de Concessões.
Muniz defende que esse acompanhamento impulsionou reformas históricas, como ele define as reformas trabalhista e a tributária, além de legislações setoriais que destravaram investimentos, como o novo marco do saneamento.
Ao longo do ano passado, a pauta da indústria também passou a incorporar a economia verde, refletindo uma nova visão de negócios, com projetos como o Mover, para inovação na cadeia automotiva, e o marco regulatório do hidrogênio verde e a aprovação do Combustível do Futuro.
Para ele, o Brasil segue lidando com seus custos — mas, ao longo dessas três décadas, aprendeu que o preço de não fazer nada pode ser ainda maior.
A entidade também diz manter a expectativa de crescimento da indústria nacional que encerrou 2024 com alta de 3,1%, apesar do contraste com o último trimestre, que registrou desaceleração da atividade.
"Temos uma apreensão sobre a questão fiscal, óbvio, mas nosso olhar é otimista, de manutenção do crescimento porque houve a retomada na ideia da política pública, de que a indústria é importante, tanto é que pela primeira vez nós tivemos a questão da NIB, a Nova Indústria Brasil".
Agora é preciso lidar com as oportunidades, segundo o diretor da CNI, que vê uma "aura positiva" e de "instação de diálogo" entre os novos presidentes da Câmara e Senado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas que reconhece também um novo desafio: a possível antecipação das disputas políticas eleitorais, que desaguam, muitas vezes, em posicionamentos mais hostis a boas proposições.
"Temos um ambiente institucional mais qualificado, homogêneo e de diálogo, mas com a possibilidade de antecipação das pautas políticas partidária e isso pode gerar uma disputa não focalizada do mérito, mas sim na posição política", finaliza o diretor.