Carteira de Trabalho: o emprego pode fechar o ano com uma retração de 0,5% (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2014 às 13h51.
Brasília - Os principais indicadores industriais devem encerrar o ano em queda, caso não haja uma recuperação nos próximos meses, avaliou o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fábio Guerra. Segundo a entidade, como base no chamado efeito carregamento, se a atividade se mantiver no nível atual, o faturamento e as horas trabalhadas na produção devem encerrar 2014 com um queda em torno de 3%. O emprego, por esse mesmo efeito estatístico, pode fechar o ano com uma retração de 0,5%.
O economista afirmou que os dados de agosto confirmam que as horas trabalhadas cresceram em julho, depois de quatro meses em queda, por questões atípicas.
"A base de junho foi muito comprometida pela redução dos dias úteis por conta da Copa", disse, explicando porque o indicador cresceu em julho na comparação com o mês anterior. Guerra destacou que julho também teve menos dias úteis e, ainda assim, as horas trabalhadas em agosto sofreram redução. "Mesmo tendo mais dias úteis, a atividade operou em ritmo inferior", disse.
O nível médio de capacidade instalada da indústria e o número de horas trabalhadas guardam semelhança de comportamento em 2014, segundo a CNI, mostrando uma acomodação forte na indústria.
Como resposta, o emprego continua caindo. Foi a sexta retração consecutiva. Por outro lado, a massa salarial ainda está crescendo. Guerra disse que esse indicador apresenta uma defasagem em relação ao ritmo da atividade porque os salários ainda têm um grau de indexação na economia. "É natural que no primeiro momento, mesmo que a atividade e o emprego estejam caindo, que a massa esteja subindo", explicou.
A CNI está revisando suas previsões, mas acredita que o PIB industrial deve cair em torno de 1,7% em 2014, enquanto que a economia brasileira deve ter uma expansão em torno de 0,5%.
"A deterioração do setor industrial já vem há algum tempo. Lá fora, o ambiente é de dificuldade de competição e, aqui, houve uma acomodação do consumo das famílias que cresce em torno de 1% ao ano. Isso bate no setor industrial", disse o economista-chefe da CNI, Flavio Castelo Branco.
Ele desvinculou o resultado da indústria ao momento eleitoral. "Os dados de agosto pouco refletem o momento que a gente está vivendo. Tem pouca relação com o ciclo eleitoral no curto prazo", disse.
Segundo ele, o desempenho do setor reflete as dificuldades da economia, como desaceleração na demanda agregada e no consumo das famílias e queda dos investimentos. "Isso evidentemente explica o ciclo de dificuldade da indústria", afirmou.
Castelo Branco avaliou que não se deve esperar uma mudança muito significativa do quadro industrial nos próximos meses. Segundo ele, os a resultados eleitorais a partir de novembro darão um quadro de maior previsibilidade e de maior crescimento para o futuro, mas o impacto será apenas em 2015.
Câmbio
Ainda de acordo com Castelo Branco, a elevação recente da taxa de câmbio não deve ter impacto imediato no desempenho do setor industrial.
"O câmbio mais desvalorizado favorece competição com produtos estrangeiros aqui e lá fora. Mas a gente não pode achar que só o câmbio resolve o problema da competitividade brasileira", afirmou.
Segundo ele, no passado, a taxa de câmbio já teve relação mais direta com o desempenho do setor industrial. "Os efeitos positivos tendem a mostrar certa defasagem e com uma intensidade menor que no passado", disse. Segundo ele, há uma dificuldade de acessar mercado no exterior e as empresas têm dificuldades de fazerem substituição de importações com rapidez.
"Para o câmbio ter efeito sob a atividade produtiva, precisamos deixar passar essa volatilidade de curto prazo e olhar a tendência de mais médio e longo prazo. Acredito que a gente vai ter mais para o futuro um câmbio mais desvalorizado, por questões domésticas e pela normalização da política monetária do Fed", afirmou.
Sobre as medidas anunciadas na última segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para o setor exportador, Castelo Branco disse que elas têm efeito limitado no curto prazo.
"O Reintegra é muito importante porque permite melhor planejamento para as empresas nas suas vendas. Mais importante que a vigência do Reintegra para 2014, é o anúncio para 2015, que permite um trabalho mais confiante das empresas", disse.