Economia

Classe média extensa favorece mobilidade social, diz estudo

Quanto maior a classe média, maior a possibilidade de uma criança sair da pobreza e subir de vida, defende estudo recente do Center for American Progress

Pedestres caminham em Boston, cidade com uma das maiores taxas de mobilidade social dos EUA (Brent Lewin/Bloomberg)

Pedestres caminham em Boston, cidade com uma das maiores taxas de mobilidade social dos EUA (Brent Lewin/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 10 de setembro de 2013 às 18h24.

São Paulo - Uma criança pobre que nasce em uma região com uma classe média mais extensa tem uma possibilidade maior de subir na vida do que se tivesse nascido em uma região com uma classe média menor.

Essa é a conclusão principal de um estudo divulgado na semana passada por Ben Olinsky e Sasha Post, pesquisadores do think tank liberal Center for American Progress (Centro para o Progresso Americano).

O trabalho da dupla é uma interpretação de dados que geraram bastante repercussão quando foram publicados em julho por quatro economistas da Universidade de Harvard e da Universidade da Califórnia em Berkeley. 

Investigando 741 áreas dos Estados Unidos, eles mostraram que a mobilidade social de uma geração para outra varia muito de acordo com região do país - é baixa em Atlanta e alta em Boston, por exemplo - e está conectada sistematicamente com alguns fatores locais, como qualidade das escolas e nível de participação em instituições cívicas e religiosas.

Ben e Sasha pegaram os 28 fatores analisados e perceberam que o tamanho da classe média apresenta um coeficiente de relação com a mobilidade social de 0,69. Isso significa que só de olhar o tamanho da classe média em determinada região, eles são capazes de prever com um nível relativamente alto de precisão qual a probabilidade de uma crianças pobres naquele lugar subir de nível de renda. 

Para cada aumento de um ponto na porcentagem de uma população que é de classe média, uma criança que nasce na parcela de renda imediatamente abaixo pode esperar subir meio ponto percentual na escala ao longo da vida. O tamanho da classe média é o fator mais fortemente associado com a mobilidade social, só perdendo para a concentração de mães solteiras e a taxa de divórcio. 


Os próprios autores do estudo apontam (e rebatem) duas possíveis objeções às suas conclusões. A primeira é que "porcentagem da classe média" pode ser interpretada apenas como outro nome para "porcentagem de pobres", e que esse sim seria o fator explicativo.

Os economistas rebatem argumentando que mesmo quando os dois fatores são isolados, é o tamanho da classe média que continua tendo maior relação estatística.

O que leva à segunda ressalva: o fato de que duas coisas estão relacionadas não significa que uma seja causa da outra. A mobilidade social é que poderia estar criando uma classe média mais forte, por exemplo.

Eles respondem a esse argumento com outros estudos que mostram uma relação indireta. Pesquisadores já verificaram que locais com uma classe média mais ampla tendem a investir mais em educação, que por sua vez é um fator central de promoção da mobilidade.

Para Ben e Sasha, as conclusões são parte de uma série de trabalhos que apontam o aumento vertiginoso da concentração de renda nos Estados Unidos como principal responsável pela erosão da mobilidade social no país. Eles pedem políticas públicas para fortalecer a classe média e acreditam que as evidências derrubam a tese econômica do desenvolvimento "de cima para baixo" . 

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