Economia

Cinco desafios que o chefe do Fed pode enfrentar nos próximos quatro anos

Seja qual for a escolha de Biden, o próximo chefe do Fed precisará resolver as principais questões sobre política monetária e a natureza do dinheiro

Jerome Powell: Joe Biden terá que decidir se o atual presidente do Fed continuará no cargo. (Al Drago/The New York Times/Bloomberg)

Jerome Powell: Joe Biden terá que decidir se o atual presidente do Fed continuará no cargo. (Al Drago/The New York Times/Bloomberg)

R

Reuters

Publicado em 7 de setembro de 2021 às 15h15.

Última atualização em 8 de setembro de 2021 às 11h51.

A iminente decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre se vai reconduzir o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, após o término de seu mandato em fevereiro ou passar as rédeas para outra pessoa, chegará em um momento crítico para o banco central dos Estados Unidos.

Os democratas progressistas querem que o Fed assuma um papel mais abrangente na economia, intensificando os esforços para impulsionar o emprego, evitando riscos climáticos e enfrentando a desigualdade. Os conservadores querem que ele se atenha à política monetária, prestando mais atenção na contenção da inflação e reduzindo sua pegada nos mercados financeiros e na frente de supervisão.

Seja qual for a escolha do presidente democrata, o próximo chefe do Fed precisará resolver as principais questões sobre política monetária e a natureza do dinheiro.

Aqui estão alguns dos maiores desafios dos próximos quatro anos:

ACERTAR A POLÍTICA MONETÁRIA

Depois do baque do coronavírus, o Fed reduziu sua taxa de juros de referência para quase zero e comprou trilhões de dólares em títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas.

Com a economia se recuperando rapidamente, as autoridades do Fed provavelmente começarão a desacelerar as compras de ativos ainda este ano.

Mas, sob uma nova estrutura de política monetária adotada em agosto passado, eles planejam esperar para aumentar os juros até que a economia alcance o pleno emprego, e a inflação esteja em 2% e a caminho de ultrapassar moderadamente esse nível.

É uma promessa que um novo chefe do Fed pode ter dificuldade em cumprir. A maioria dos formuladores de política monetária do Fed acredita que o atual surto de inflação acima de 2% é temporário. Mas se os aumentos de preços se mostrarem mais persistentes, quem quer que chefie o banco central pode acabar supervisionando um aumento nas taxas antes que todos os aspirantes a trabalhadores consigam um emprego.

Em agosto, havia 5,3 milhões de norte-americanos a menos empregados do que antes da pandemia.

"Há muitas coisas que serão diferentes daqui para frente que são aspectos estruturais implícitos da economia aos quais acho que teremos que prestar muita atenção para ter certeza de que estamos apropriadamente calibrando nossa política para a economia", disse a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, em uma entrevista em agosto.

FED COMO REGULADOR

Se a nova estrutura do Fed mantiver a política monetária mais frouxa por mais tempo em busca de um mercado de trabalho mais forte, dizem os analistas, pode ser necessário apertar as regulamentações financeiras para evitar comportamentos de risco que poderiam precipitar uma crise.

"A regulamentação financeira, na minha opinião, é o segundo item da agenda, e especialmente continuar a lidar com a questão de conter o risco financeiro em um ambiente de taxas de juros historicamente baixas", disse David Wilcox, ex-economista do Fed e atualmente pesquisador do Peterson Institute for International Economics.

Quem lidera o Fed também precisa olhar para a estabilidade financeira de forma mais ampla, disse Wilcox.

Fraquezas sistêmicas na forma como os Treasuries e os mercados monetários são negociados foram expostas em março passado pelo quase colapso dos mercados financeiros na sequência das paralisações relacionadas à pandemia.

A crescente popularidade de "stablecoins", uma forma amplamente não regulamentada de criptomoeda que pode ser indexada ao dólar, também representa uma ameaça crescente à estabilidade financeira, argumentou o presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren.

DIGITALIZANDO?

Uma questão principal será se o Fed decide emitir sua própria moeda digital. Powell não se comprometeu com isso até agora. A diretora do Fed Lael Brainard, outra candidata importante para o cargo de chair do banco central dos EUA, disse que acha difícil não fazer isso. O Fed planeja publicar um documento de discussão sobre o assunto em setembro.

Os defensores dizem que uma moeda digital bem projetada pode reduzir os custos de transação e aumentar o acesso ao sistema bancário para grupos desfavorecidos. Outros temem que os bancos possam ser marginalizados se as famílias e empresas americanas dispensarem as contas correntes regulares e forem diretamente ao Fed.

A China e outros países já estão emitindo suas próprias moedas digitais, assim como empresas privadas como a Amazon.com Inc. Se amplamente adotados, esses tokens podem fragmentar o sistema de pagamentos, ameaçar a capacidade do Fed de controlar os juros e colocar em risco o domínio global do dólar.

"O Federal Reserve precisa desvendar isso muito rapidamente", disse Andrew Levin, professor de economia do Dartmouth College. "Este é um desafio em que a poeira pode baixar dentro de um ou dois anos."

RISCOS CLIMÁTICOS

O chefe do Fed também estará sob pressão para compreender e lidar com as implicações econômicas e financeiras de incêndios florestais descontrolados, furacões superpoderosos e outros impactos devastadores da mudança climática.

Tanto Powell quanto Brainard dizem que é função do Fed garantir que os bancos sejam resilientes a, por exemplo, quedas nos valores dos ativos devido a eventos climáticos extremos ou ordens do governo para limitar as emissões de dióxido de carbono.

Mas o mandato do Fed não inclui qualquer mandato para combater a mudança climática diretamente, como é o caso de alguns outros bancos centrais.

O Fed criou dois painéis internos no ano passado, um com foco nos riscos relacionados ao clima em bancos individuais e outro nas ameaças de todo o sistema. Ele também se tornou o último grande banco central a aderir a uma rede para tornar o sistema financeiro mais verde, que desenvolve recomendações para que os bancos centrais respondam às mudanças climáticas.

Ambos podem ser meios para o chefe do Fed fazer mais na frente climática, embora uma postura mais agressiva em paridade com outros bancos centrais possa ser difícil sem uma nova legislação.

LACUNAS RACIAIS E DE GÊNERO

As autoridades do Fed também se tornaram mais francas sobre o potencial de as desigualdades raciais e de gênero prejudicarem o crescimento econômico.

"Isso está causando muita inquietação com o que o Fed está fazendo para resolver alguns dos grandes problemas de nossos dias, que incluem desigualdade e disparidades nos resultados do mercado de trabalho e distribuição de riqueza", disse Julia Coronado, ex-economista do Fed que é agora presidente da MacroPolicy Perspectives.

Quem quer que comande o Fed poderia ajustar suas ferramentas para reduzir potencialmente algumas dessas lacunas, inclusive por meio de programas destinados a aumentar os empréstimos para pequenas empresas e mudanças na supervisão que incentivem os bancos a trabalhar com consumidores que lutam para pagar seus empréstimos, disse Coronado.

Assine a EXAME e conte com a ajuda dos maiores especialistas do mercado.

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)EXAME-no-InstagramFed – Federal Reserve SystemJerome PowellJoe Biden

Mais de Economia

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados

Haddad: pacote de corte de gastos será divulgado após reunião de segunda com Lula

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos