Economia

Ciclo de alta de juros deve acabar antes das eleições

O Palácio do Planalto já deixou claro que quer um aumento alto e em curto prazo na Selic; o motivo são as eleições

Estrategista, Meirelles obedece às ordens do Palácio do Planalto, para evitar aumento na Selic dois meses antes das eleições.  (.)

Estrategista, Meirelles obedece às ordens do Palácio do Planalto, para evitar aumento na Selic dois meses antes das eleições. (.)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h45.

Brasília - A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic em 0,75 ponto porcentual, por unanimidade, demonstrou que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, construiu um consenso de que é melhor um ajuste mais intenso e de curto prazo na taxa de juros para frear a atividade econômica e trazer a inflação para o centro da meta em 2011. Essa estratégia é política e obedece à orientação do Palácio do Planalto de não ter aumentos dos juros nos dois meses que antecedem às eleições, na expectativa de que a política monetária não contamine o debate eleitoral.

Meirelles apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira passada, o cenário macroeconômico, antes de iniciar uma viagem a Washington para o encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI). Deixou claro que os indicadores comprovam que a atividade da economia está acelerada e que a inflação não está sendo motivada por "fatores temporários", como avalia o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O próprio Mantega, depois de resistir, reconheceu que "fatalmente" a inflação será maior este ano, mas que estará no patamar adequado nos próximos 12 meses. Apenas não concorda com a análise de que a alta dos preços não é provocada por fatores pontuais. Ele mantém a leitura de que a economia pode crescer 5 3% este ano, sem pressão inflacionária.

A alta de 0,75 ponto porcentual, que jogou a taxa Selic para 9 5% ao ano, foi aprovada pelo Copom, diante da percepção de que a inflação no primeiro quadrimestre veio alta. Portanto, era necessário quebrar a inércia que arrastaria a alta dos preços para os próximos meses. A diretoria do Banco Central avaliou que se optasse por uma alta de 0,50 ponto porcentual, o ajuste seria mais longo e o custo final maior ainda.

A tese técnica que sustenta a decisão é a de que correções de meio ponto exigiriam uma alta ainda maior da Selic anual, no fim do processo, para que a inércia fosse quebrada. A estratégia política desejada pelo Planalto - tudo dependerá da evolução do quadro da atividade econômica nos próximos meses - é a de concentrar as altas da Selic nas próximas reuniões do Copom, encerrando o ciclo de elevação dos juros antes das eleições.

A situação sugere, como disse uma fonte, que o governo já tinha assimilado a alta de 0,75 ponto, que validou a posição majoritária do mercado financeiro. "Já estava previsto, não é?", indagou um assessor. O que está prevalecendo, neste momento, é a definição da intensidade de alta da Selic para que a trajetória de inflação retorne ao centro da meta. A aposta é de uma correção entre dois a três pontos porcentuais, se aproximando da própria expectativa do mercado de uma taxa Selic de 11,75% em dezembro.

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