Economia

Chinês vem para a Copa e para vender reformas

De Pequim, a necessidade por mais e melhores alimentos já compensa a menor importação de minérios


	Arroz: a China está promovendo uma ampla reforma de sua economia
 (China Photos/Getty Images)

Arroz: a China está promovendo uma ampla reforma de sua economia (China Photos/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2014 às 11h34.

São Paulo - As reformas econômicas na China começam a chacoalhar o comércio exterior brasileiro e a despertar o empresariado desses países para novos investimentos produtivos no País.

De Pequim, a necessidade por mais e melhores alimentos já compensa a menor importação de minérios. O Brasil aparece como alvo para a expansão de suas empresas no exterior.

Parte desses temas vai entrar na agenda do encontro entre os presidentes Dilma Rousseff e Xi Jinping, da China, em julho. O líder chinês desembarca no País para assistir a partida final da Copa do Mundo, no dia 13.

Antes de entrar na cúpula do fórum Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), em Fortaleza, entre os dias 15 e 16, Xi terá conversa reservada com Dilma.

A China está promovendo uma ampla reforma de sua economia, em especial para tornar seu crescimento menos dependente do binômio investimento-exportação e mais alicerçado no consumo doméstico.

O aumento da classe média nas últimas décadas já havia disparado a importação de alimentos. Com a reforma, a demanda por comida vai aumentar ainda mais.

Essas mudanças tiraram alguns pontos porcentuais de sua taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que foi de 7,7% ano passado, deverá chegar a 7,5% em 2014, e baixará para 6,5%, em cinco anos.

Mas a China igualmente trabalha como prioridade a transformação de seu parque produtivo - de itens de bens de consumo, para os de alta tecnologia - e o envio ao exterior de parte de sua indústria intensiva em mão de obra. O regime de Pequim quer superar os Estados Unidos em inovação até 2035.

O embaixador Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), adverte que essas mudanças trazem vantagens e ameaças ao Brasil.

No segundo caso, à necessidade de o País também disparar na corrida por maior tecnologia e inovação incorporada em sua produção industrial.

"A questão de fundo a ser decidida aqui é se o Brasil fará frente à China na fabricação de produtos baratos ou se competirá com esse país nos setores de alta tecnologia", afirmou.

Investimentos

Companhias chinesas dos setores energético, de infraestrutura e automotivo operam no Brasil e tendem a ampliar investimentos. Um dos tópicos das reformas chinesas é o incentivo para o investimento no exterior de médias empresas chinesas.

Segundo Amaral, trata-se de um segmento que teria alto potencial de compor parcerias com as brasileiras em projetos de infraestrutura e do agronegócio.

Outra expectativa está na redução do protecionismo chinês em áreas de alta competitividade brasileira, como a agrícola. A burocracia faz o trabalho oculto de travar os desembarques, e a condição da China de maior importador de commodities do mundo dá ao país a atribuição de formulador de preços internacionais desses itens. "O fato de a China importar muito um alimento não significa que esse item vá entrar facilmente naquele mercado", afirmou.

O comércio bilateral expressa o recuo do crescimento chinês. De janeiro a abril deste ano, as exportações brasileiras de produtos básicos e de semimanufaturas para esse mercado caíram 68,5% e 75,6%, respectivamente. Entre os dez principais itens de embarque do Brasil, tiveram queda o petróleo (41,0%), o minério de ferro (59,6%), o ferronióbio (19,3%), o catodo de cobre (35,3%). Mas aumentaram as vendas de soja (42,05), de açúcar (46,0%), de couro bovino (50,1%). O saldo ainda está positivo para o Brasil em US$ 1,4 bilhão.

O Brasil é o terceiro mercado mais atrativo para os investimentos chineses - perde apenas para os EUA e a Austrália. A mão contrária de investimento também interessa aos chineses, mas ainda esbarra na necessidade de associação do empresário estrangeiro a uma estatal local. Como a situação financeira das estatais chinesas não é transparente, há dúvidas sobre a expansão dessa via de negócios.

Segundo o CEBC, há apenas 57 empresas brasileiras com escritórios na China, das quais apenas sete são produtoras. Bancos brasileiros, em especial, começam a se posicionar no mercado chinês com a expectativa de ampliação do intercâmbio comercial e de investimentos. Para a consultoria Deloitte, o Brasil deveria apostar no seu soft power para ampliar os negócios com a China. O futebol, em tempos de Copa do Mundo, poderia ajudar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaComércioComércio exteriorreformas

Mais de Economia

Chinesa GWM diz a Lula que fábrica em SP vai produzir de 30 mil a 45 mil carros por ano

Consumo na América Latina crescerá em 2025, mas será mais seletivo, diz Ipsos

Fed busca ajustes 'graduais' nas futuras decisões sobre juros