Economia

China se lança à corrida pelos veículos autônomos

Governo de Pequim anunciou em meados de abril "roteiro nacional" para acelerar o desenvolvimento de veículos inteligentes

Carros: grande potencial do mercado chinês atrai os investimentos dos fabricantes de automóveis, segundo consultor (Carl Court/Getty Images)

Carros: grande potencial do mercado chinês atrai os investimentos dos fabricantes de automóveis, segundo consultor (Carl Court/Getty Images)

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AFP

Publicado em 4 de maio de 2018 às 18h56.

A China aspira a se tornar líder mundial dos carros autônomos, um setor-chave no futuro do automóvel em que competem tanto fabricantes tradicionais como grandes companhias de internet, mas que ainda gera preocupação entre os usuários.

Embora suas grandes cidades com engarrafamentos permanentes não pareçam ser o melhor lugar para testar os carros sem motorista, a China, o primeiro mercado mundial de automóveis, está multiplicando os testes destes veículos.

Em março, o acidente de um carro autônomo da Uber nos Estados Unidos, que matou uma pessoa, gerou novas dúvidas sobre a segurança desta tecnologia e poderia levar a um reforço da normativa sobre sua circulação.

O Arizona proibiu à empresa americana continuar testando seus carros autônomos nas estradas do estado, e o japonês Toyota suspendeu seus próprios testes.

No entanto, poucos dias depois do acidente, a prefeitura de Pequim autorizou a Baidu, uma das grandes companhias chinesas da internet, a testar um carro autônomo na capital, como já fazem em outras cidades chinesas o fabricante de automóveis Baic e a start-up Nio.

Em meados de abril, o governo de Pequim anunciou um "roteiro nacional" para acelerar o desenvolvimento de veículos inteligentes.

"A China tem um melhor ecossistema [para testar carros autônomos] que o Vale do Silício, que agora será mais prudente por medo dos julgamentos após o acidente da Uber", indica Ferdinand Dudenhöffer, diretor do Center Automotive Research, com sede na Alemanha.

A China conta, além disso, com o apoio das autoridades e sobretudo com suas grandes companhias tecnológicas, como Huawei ou ZTE, que estão desenvolvendo a internet móvel 5G, indispensável para o funcionamento dos carros autônomos.

"A China quer ter 5G em todo seu território em 2025, está muito mais avançada que a Europa", assegura Dudenhöffer.

Laboratório

Além disso, o grande potencial do mercado chinês "atrai os investimentos dos fabricantes" de automóveis, que o transformam em seu laboratório, aponta Jeremy Carlson, da consultora IHS.

Baidu é uma das companhias líderes de internet, especialista em inteligência artificial, e colabora com fabricantes chineses como JAC, BAIC ou Chery para implementar veículos semiautônomos antes de 2020.

Além disso, Baidu criou um fundo de 1,3 milhão de euros para desenvolver os veículos sem motorista e administra a plataforma Apollo, que compartilha tecnologia com fabricantes e start-ups com o objetivo de competir com o americano Alphabet (Google) e sua subsidiária Waymo.

Tencent e Alibaba, outras duas grandes companhias chinesas de internet, também estão desenvolvendo suas próprias tecnologias.

Segundo uma pesquisa publicada em dezembro pela Ford, 83% dos chineses asseguram ser muito otimistas sobre o futuro dos carros autônomos, em comparação com 50% dos americanos ou uma quantidade ainda menor entre os europeus.

No entanto, ainda há muitos obstáculos antes de que se generalizem os carros autônomos. É o caso da Volvo Cars, que adiou o lançamento de seus veículos todo terreno autônomos.

"Percebemos que é algo muito mais complexo que uma interface entre o motorista e a máquina. Temos que ser mais céticos, continuam existindo perigos", explicou Hakan Samuelsson, diretor do grupo.

Embora Baidu assegure que os carros 100% autônomos poderão começar a circular em um período de entre três e cinco anos, o ministro da Indústria chinês fala de entre oito e dez anos, devido aos problemas de segurança.

Segundo Trevor Worthington, vice-presidente da Ford, a solução poderia ser interconectar os veículos entre eles e criar infraestruturas inteligentes. "Os desafios existem, mas não investiríamos dinheiro se não acreditássemos" neste setor, assegurou.

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