Economia

China prefere tarifas a se curvar à pressão dos EUA, dizem especialistas

País asiático não deve reformular décadas de planejamento estatal e modelo econômico

EUA-China: potências tentam acordo comercial (Qilai Shen/Bloomberg/Getty Images)

EUA-China: potências tentam acordo comercial (Qilai Shen/Bloomberg/Getty Images)

R

Reuters

Publicado em 4 de março de 2019 às 11h34.

Pequim - A China reconhecerá concessões feitas em qualquer acordo comercial com os Estados Unidos para estabilizar as relações abaladas, mas é improvável que ceda às exigências de que altere seu modelo econômico, ainda que enfrente tarifas contínuas, acreditam muitos especialistas em comércio.

O presidente dos EUA, Donald Trump, alertou que pode desistir de um pacto com a China que não seja bom o suficiente para Washington, apesar de seus assessores terem alardeado um progresso "fantástico" rumo a um acordo para encerrar a disputa, que levou à adoção de tarifas recíprocas de bilhões de dólares em produtos.

Este otimismo ganhou outros contornos em Pequim, onde a prorrogação de um prazo antes "inflexível" de 1 de março para um aumento de tarifas dos EUA reforçou a visão de que o apetite de Trump por medidas rígidas enfraqueceu agora que a eleição presidencial de 2020 está se aproximando e a economia norte-americana dá sinais de abatimento.

As concessões chinesas em qualquer acordo provavelmente ficarão aquém das exigências norte-americanas de mudanças profundas na maneira como a segunda maior economia do mundo funciona.

Reformular décadas de planejamento estatal não é algo que acontecerá da noite para o dia, argumentam especialistas chineses.

E o presidente chinês, Xi Jinping, enfrenta obstáculos políticos em casa, onde ser visto como alguém que se curva a Trump seria menos palatável do que lidar com o impacto de curto prazo que as tensões comerciais contínuas podem ter na economia em desaceleração da própria China, dizem.

Uma autoridade chinesa disse à Reuters que a reforma doméstica é um processo de longo prazo.

"Se os Estados Unidos aplicarem restrições ou pressões generalizadas com base em seus próprios interesses, a China não aceitará", disse a autoridade.

Tu Xinquan, especialista em comércio da Universidade Internacional de Negócios e Economia de Pequim, disse que seria difícil para Xi concordar com as exigências de Washington de que a China reformule o papel de empresas estatais e outras diretrizes industriais do país.

Xi provavelmente estaria disposto a ceder a ponto de mostrar "compromissos visíveis e politicamente influentes" a Trump, como comprar mais produtos dos EUA e aprimorar a proteção dos direitos de propriedade intelectual - há tempos os EUA se queixam de que Pequim vem obtendo propriedade intelectual de empresas norte-americanas sistematicamente por meio da coerção e do roubo puro e simples.

Alguns diplomatas e empresários dos EUA estão preocupados que Trump poderá se apressar em aceitar poucos compromissos chineses, que são referidos por ele há semanas com ar de grandiosidade.

Na sexta-feira, Trump adiou o prazo de 1 de março para elevar tarifas de importação sobre 200 bilhões de dólares em mercadorias chinesas de 10 para 25 por cento.

Shi Yinhong, diretor do Centro para Estudos Americanos da Universidade Renmin, afirmou que além a China precisa cuidar de sua "própria dignidade e autoridade".

"Se a China fizer concessões muito grandes para os EUA, ela poderá criar desordem econômica doméstica. Além disso, como você vai explicar isso aos membros do Partido Comunista e ao povo chinês?", afirmou Shi, que tem assessorado o governo de Pequim em questões de diplomacia.

Acompanhe tudo sobre:ChinaEstados Unidos (EUA)

Mais de Economia

Pacheco afirma que corte de gastos será discutido logo após Reforma Tributária

Haddad: reação do governo aos comentários do CEO global do Carrefour é “justificada”

Contas externas têm saldo negativo de US$ 5,88 bilhões em outubro

Mais energia nuclear para garantir a transição energética