Economia

China injetará 2 trilhões de iuanes na economia para amenizar crise

Economia da China enfrenta dificuldades para recuperar a demanda por conta da paralisação dos principais parceiros comerciais

China: com crise do coronavírus, PIB chinês caiu 6,8% (xPACIFICA/Getty Images)

China: com crise do coronavírus, PIB chinês caiu 6,8% (xPACIFICA/Getty Images)

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AFP

Publicado em 22 de maio de 2020 às 09h06.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 13h53.

A China anunciou nesta sexta-feira (22) uma série de medidas para revitalizar sua economia no contexto da crise do coronavírus, embora pela primeira vez não tenha estabelecido uma meta de crescimento.

Primeiro no mundo a ser afetado pelo coronavírus, o país conseguiu controlar a pandemia em seu território, mas as consequências para sua economia serão duradouras e imprevisíveis.

Pela primeira vez, na abertura da sessão anual do Parlamento, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, não estabeleceu uma meta de crescimento específica, quebrando assim uma tradição do regime comunista.

"Nosso país enfrentará certos fatores difíceis de prever" por causa da pandemia de covid-19 que paralisa o planeta e sobrecarrega a economia mundial, disse Li em discurso de cerca de uma hora no solene Palácio do Povo de Pequim.

O poder chinês é "cauteloso com o futuro", porque "acredita que a recuperação será lenta e incerta", estima Song Houze, do grupo de reflexão MacroPolo, especializado na economia chinesa.

O país "enfrenta desafios sem precedentes em seu desenvolvimento e que ainda vão durar algum tempo", afirmou o primeiro-ministro.

Além da crise do novo coronavírus, pairam as ameaças do presidente dos Estados Unidos de impor novas tarifas para que Pequim "pague" por ter, Donald Trump, ocultado o início da pandemia.

Pela primeira vez em sua história moderna, o Produto Interno Bruto (PIB) da China afundou no primeiro trimestre (-6,8%), devido ao efeito do vírus. A pandemia paralisou quase completamente a atividade econômica no país.

O crescimento já havia caído no ano passado para 6,1%, seu pior resultado em quase 30 anos, coincidindo com a guerra comercial com os Estados Unidos.

Apesar da retomada gradual da atividade, as empresas não conseguem recuperar a demanda, em um contexto em que seus principais clientes, na Europa e na América do Norte, estão paralisados pelo vírus e em que o consumo doméstico está diminuindo.

Para apoiar a economia, o Estado deixou seu déficit crescer até 3,6% do PIB (comparado a 2,8% no ano passado). O déficit aumentará em 1 bilhão de iuanes (128 bilhões de euros), segundo Li.

"Se a situação [econômica] for realmente ruim, a China poderá aumentar ainda mais seu déficit orçamentário", diz o analista Tommy Xie, do banco OCBC.

Nesta semana, o "Global Times", um jornal em inglês considerado próximo ao poder, disse que o déficit poderia chegar a 8% do PIB.

O primeiro-ministro também anunciou um trilhão de iuanes de títulos de dívida específicos ("coronabonds") para responder à pandemia.

Este total de dois trilhões de iuanes (256 bilhões de euros) apoiará o emprego e será destinado exclusivamente às administrações locais, para que priorizem o emprego.

A atual taxa de desemprego é de 6% e, em fevereiro, atingiu um recorde de 6,2%. Este número reflete apenas a situação na zona urbana, porém, e exclui milhões de trabalhadores migrantes, em situação de fragilidade pela pandemia.

As autoridades chinesas estão "extremamente preocupadas" com as consequências do vírus no emprego, diz Michael Pettis, professor de economia da prestigiada Universidade Tsinghua de Pequim.

Por isso, o governo está disposto a "financiar coisas inúteis", como infraestruturas supérfluas, ou apartamentos que ficarão vazios, "para impedir o aumento do desemprego", aponta Pettis.

O primeiro-ministro também anunciou um grande plano de investimento em infraestruturas do "futuro" no valor de 3,75 trilhões de iuanes (481 bilhões de euros), que inclui a implantação da Internet móvel 5G.

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