Mulher com telefone celular na sede do PBOC, banco central chinês, em Beijing (Qilai Shen/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 16h33.
Última atualização em 12 de dezembro de 2017 às 17h29.
São Paulo - A China é a grande economia do mundo onde é maior o risco de uma crise financeira, com quase o dobro da probabilidade do segundo colocado.
O alerta parte de uma nota do Deutsche Bank assinada por Michael Spencer, economista-chefe para região da Ásia-Pacífico.
A probabilidade de crise na China ficou em 13%, seguido por Canadá (8.6%), Arábia Saudita (7,7%), Turquia e Chile (7,4%), Hong Kong (7%) e Australia (6,9%). O Brasil tem 1,7%.
Ainda assim, o risco chinês não chega nem perto dos 50% verificados, por exemplo, em países como Espanha e Irlanda em 2010, quando despontava o problema da dívida europeia.
O modelo também indica, ainda que de forma menos contundente, a gestação da crise financeira asiática dos anos 90 em países como Tailândia, que mostrava risco de 30% na época.
Histórico
Os riscos chineses já estão no radar faz algum tempo. Em maio, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito da China pela primeira vez em quase 30 anos.
Em setembro, foi a vez da Standard & Poor's fazer o mesmo e rebaixar a nota em um degrau, citando o aumento dos riscos econômicos e financeiros.
A dívida total não-financeira chinesa explodiu de 160% do PIB em 2008 para 260% do PIB atualmente, em grande parte fruto de estímulos para amortecer o tranco da crise financeira americana.
O crescimento do PIB seguiu em patamares elevados, mas a dose do remédio passou a preocupar. O Fundo Monetário Internacional alertou em dezembro que "a crescente complexidade do sistema semeou riscos de estabilidade financeira".
O diagnóstico é que uma política fiscal e monetária expansionista e o desenvolvimento de um sistema bancário paralelo menos regulado vêm incentivando apostas cada vez mais arriscadas de investidores.
Isso não costuma acabar bem, mas há particularidades que dificultam comparações com outros países e momentos históricos.
A China tem repetidos superávits em conta corrente há mais de 20 anos e sua dívida é basicamente doméstica, com o governo controlando quase todo o sistema financeiro e a maior parte dos devedores.
"O padrão típico de crises em mercados emergentes, de fluxos de entradas subitamente se revertendo e pondo fim ao boom econômico, simplesmente não se encaixa com o que vem acontecendo na China", diz o Deutsche.
Além disso, os dados mais recentes sugerem que o risco na China está recuando, já que o crescimento do crédito desacelerou para o mesmo ritmo do PIB nominal, estabilizando a relação crédito/PIB.
"Se este ambiente macro continuar por mais um ano, a probabilidade de crise vai cair rapidamente", diz o banco, apontando para a importância de manter os superávits como colchão de segurança mesmo que isso cause conflitos políticos com os Estados Unidos.