Economia

China diz estar preparada para 'choques' enquanto mundo se prepara para novas tarifas de Trump

Primeiro-ministro chinês, Li Qiang, disse que países devem abrir seus mercados diante do crescente cenário de fragmentação econômica na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China

O presidente Xi Jinping conversa com o primeiro-ministro Li Qiang (Pedro Pardo/AFP)

O presidente Xi Jinping conversa com o primeiro-ministro Li Qiang (Pedro Pardo/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 23 de março de 2025 às 11h12.

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, afirmou que o país está preparado para “choques que excedam as expectativas”, enquanto o mundo se prepara para o anúncio de novas tarifas comerciais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 2 de abril.

Li disse a um grupo de líderes empresariais globais e ao senador republicano Steve Daines, na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China, em Pequim, neste domingo, que os países devem abrir seus mercados diante do crescente cenário de fragmentação econômica.

— A instabilidade e a incerteza estão em alta. Neste momento, acho ainda mais importante que cada um de nossos países abra mais seus mercados e que todas as nossas empresas compartilhem mais seus recursos — afirmou o primeiro-ministro chinês.

Executivos de alto escalão, incluindo Tim Cook, da Apple; Cristiano Amon, da Qualcomm; Albert Bourla, da Pfizer; e Amin Nasser, da Saudi Aramco, participam da conferência de dois dias.

A Bloomberg News informou anteriormente que há planos para que grandes empresários se encontrem com o presidente chinês Xi Jinping na próxima sexta-feira, dia 28, segundo fontes familiarizadas com o assunto.

Daines, que representa o estado de Montana e integra o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, reuniu-se com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, no sábado, em um raro encontro público entre autoridades dos EUA e da China desde o retorno de Trump à Casa Branca.

O senador também se encontrou com o primeiro-ministro Li na tarde de domingo, no Grande Salão do Povo, acompanhado por executivos seniores de sete empresas americanas – FedEx, Boeing, Cargill, Medtronic, Pfizer, Qualcomm e UL Solutions. Autoridades chinesas, incluindo representantes dos ministérios das Relações Exteriores e do Comércio, também estiveram presentes.

O senador por Montana, que viveu vários anos na China e em Hong Kong, tinha como prioridades discutir dois temas de tensão entre Pequim e Washington: as relações econômicas e o tráfico de fentanil, uma droga que tem causado uma crise nos EUA e cujos precursores químicos são produzidos na China.

— A história nos mostra que China e Estados Unidos têm a ganhar com a cooperação e a perder com o confronto — disse Li ao grupo.— Esperamos que os Estados Unidos trabalhem em conjunto com a China para promover um desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações sino-americanas.

E acrescentou:

— As duas partes devem escolher o diálogo em vez da confrontação, a cooperação ganha-ganha em vez da competição de soma zero.

Stephen Orlins, presidente do Comitê Nacional de Relações EUA-China, disse, por sua vez, que é necessário um encontro entre o presidente Trump e o presidente Xi para que ambos os governos ''instruam suas burocracias a adotar políticas construtivas”:

— Se não houver reunião, a inércia favorecerá o aumento das tarifas, das restrições às exportações e dos limites ao investimento – todas essas questões que tornarão as relações EUA-China mais difíceis.

Na abertura do Fórum de Desenvolvimento da China, o primeiro-ministro chinês também reafirmou o compromisso do banco central de cortar as taxas de juros e o índice de reservas bancárias quando for “oportuno”, prometendo mais apoio sempre que necessário para garantir o bom funcionamento da economia.

O número dois do gigante asiático afirmou ainda que seu país continuará comprometido com “a direção correta da globalização econômica” diante da crescente “fragmentação” da economia mundial, à medida que uma nova guerra comercial com Washington se intensifica.

— Como um grande país responsável, a China se manterá firme no lado correto da história (...)” e agirá de forma justa, declarou o primeiro-ministro Li.

Ele acrescentou que seu país “praticará um verdadeiro multilateralismo e se esforçará para ser uma força de estabilidade e certeza”.

O discurso de Li ocorre em um momento em que a China tenta atrair investimentos estrangeiros após a queda dos aportes no país no ano passado, atingindo o nível mais baixo em mais de três décadas.

— Estamos começando a ver um novo engajamento de investidores internacionais na China— disse Bill Winters, CEO do Standard Chartered, à margem do fórum. — A única área que está desacelerando um pouco é o crédito ao consumidor, porque sabemos que a economia está um pouco fraca, então esse setor não tem crescido tão rapidamente.

O crescimento fraco e as crescentes tensões comerciais têm prejudicado o apelo de investir na segunda maior economia do mundo. Nos próximos dias, os EUA devem concluir uma revisão do cumprimento, por parte de Pequim, do acordo comercial de Fase 1 firmado no primeiro mandato de Trump e impor tarifas recíprocas de grande impacto global.

As autoridades chinesas tentam aproveitar o impulso do setor privado, impulsionado pela startup de inteligência artificial DeepSeek, e apresentar Pequim como um pilar da estabilidade global. Recentemente, a China lançou um plano de incentivo ao consumo para proteger sua economia contra riscos externos.

O governo chinês estabeleceu uma meta ambiciosa de crescimento econômico de cerca de 5% para 2025 e elevou a meta do déficit fiscal ao maior nível em mais de três décadas. No entanto, se a guerra comercial com os EUA se intensificar, economistas dizem que a China precisará implementar um estímulo substancial para atingir sua meta de crescimento neste ano.

Como um prenúncio do que pode ser uma grande perturbação no comércio global, as compras chinesas de algodão, carros com motores de grande porte e alguns produtos energéticos dos EUA despencaram nos dois primeiros meses do ano. Todos esses bens foram alvo de tarifas retaliatórias chinesas em resposta às medidas comerciais de Trump.

O Fórum de Desenvolvimento da China começou em 2000, com o apoio do então primeiro-ministro Zhu Rongji, servindo como uma plataforma de diálogo de alto nível entre a China e o mundo.

Na maioria dos anos, o discurso principal era proferido por um vice-primeiro-ministro, enquanto o primeiro-ministro realizava uma reunião a portas fechadas com executivos. Em uma quebra de tradição, Li discursou no fórum no ano passado, enquanto Xi se encontrou com diversos líderes empresariais americanos após o evento, em um esforço de Pequim para combater a narrativa negativa sobre sua economia.

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