Economia

China da um passo adiante para liberalizar cotação do iuane

A desvalorização da moeda chinesa é um passo no longo caminho a ser percorrido pelo país para liberalizar a cotação da divisa, apontam analistas

O iuane, a moeda da China (AFP)

O iuane, a moeda da China (AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2015 às 18h34.

Xangai - A desvalorização da moeda chinesa é um passo no longo caminho a ser percorrido pelo país para liberalizar a cotação da divisa, apontam analistas.

Na terça-feira, o Banco Central da China anunciou uma desvalorização de 2% do iuane, explicando que a nova cotação faz parte de um plano de reformas mais amplo para flexibilizar a taxa de câmbio.

A repentina desvalorização de uma divisa que costuma flutuar foi interpretada pelos investidores como um indício de que a segunda maior economia do mundo está tendo um desempenho pior do que o informado e gerou preocupações sobre o possível começo de uma guerra cambial.

Essa queda do valor da moeda somou-se às preocupações que já estavam que já pairavam depois que as bolsas chinesas despencaram em junho, depois de terem tido uma alta de 150% nos últimos 12 meses.

Nesta sexta-feira, o Banco Central da China tranquilizou o mercado ao estabelecer uma taxa de cotação para o iuane em relação ao dólar um pouco mais alta do que no dia anterior. Ainda assim, a moeda chinesa acumulou uma queda de 5% em três dias.

Os analistas celebraram essa aproximação da cotação do iuane ao mercado, mas outros especialistas acreditam que o país busca um modelo de crescimento que leve em consideração o desaquecimento da economia.

"Reduzir a desvalorização do iuane (também chamado de renminbi) é uma mudança para a melhor, que elimina uma fonte de autoflagelo desnecessário", disse a economista-chefe do Banco Asiático de Desenvolvimento, Shang-Jin Wei.

Para o chefe de economia do ANZ Banking Group na China, Liu Ligang, trata-se de uma mudança muito importante, mas são necessárias mais reformas, como a liberalização dos fluxos de capitais, as taxas de juros e que sejam permitidos mais produtos financeiros de proteção contra o risco.

"Se o banco tivesse atuado antes, o impacto sobre a economia teria sido mais evidente", disse à AFP.

Dois coelhos com uma cajadada

Até agora, as autoridades chinesas dizem que a cotação da moeda se baseia em informação sobre as operações de mercado, mas na terça-feira o banco central disse que, serão incorporados no cálculo indicadores como o fechamento da véspera, dados do mercado cambial e as cotações das principais moedas.

A cotação do iuane está restrita a uma banda de flutuação de 2%, mas o conselho de governadores disse que quer ampliá-la.

A China deseja que sua moeda faça parte da cesta de divisas do FMI, mas o organismo com sede em Washington acredita que são necessárias mais reformas.

"Pequim está matando dois coelhos com uma cajadada só: pode pressionar a depreciação para ajudar o crescimento econômico e cumprir as exigências do FMI para que o iuane seja mais orientado pelo mercado", explicou à AFP Zhang Ning, economista do UBS.

A desvalorização também tem sido considerada como uma forma de ajudar a economia, tornando as exportações, motor do crescimento das últimas décadas, mais competitivas.

Para a empresa Henry Parts, a desvalorização significará mais pedidos dos componentes que fabrica.

"A desvalorização vai aumentar as receitas e poderemos receber todos as encomendas que não recebíamos antes", disse à AFP o administrador He Zhanyong.

A economia chinesa cresceu 7,4% em 2014, no pior resultado em quase 25 anos. Esse ano, a desaceleração foi ainda mais expressiva, com uma expansão de 7% no primeiro semestre.

Guerra cambial

No entanto, os riscos de uma "guerra cambial" persistem, já que a queda do valor do iuane pressiona os vizinhos regionais e outras economias emergentes.

"Em algum grau, o Banco Central da China tem servido como âncora para a região, e esse câmbio permite agora que outras divisas se desvalorizem", explicou a em um relatório.

As moedas da região Ásia Pacífico sofreram sua maior fase de vendas desde 1998, durante a crise financeira, enquanto o rublo bateu o menor patamar em seis meses.

Os funcionários do Banco Central chinês negam que exista uma guerra cambial, mas têm sido mais cautelosos em relação ao calendário para reformar a moeda.

Um funcionário público confirmou que a China se encaminha para abrir de forma ordenada o seu mercado a mais fluxos de investimentos ainda este ano.

"O calendário da China para a convertibilidade dos capitais está avançando com força", disse na quinta-feira em coletiva de imprensa o vice-governador do Banco Central, Yi Gang.

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