Economia

Canadá se mostra otimista com avanço das negociações do "novo" Nafta

O primeiro-ministro do Canadá disse que há uma chance de aderir ao acordo comercial continental com os EUA e o México até o final da semana

Trudeau e Trump: o primeiro-ministro disse que assinará acordo caso seja "bom" para seu país (Jonathan Ernst/Reuters)

Trudeau e Trump: o primeiro-ministro disse que assinará acordo caso seja "bom" para seu país (Jonathan Ernst/Reuters)

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AFP

Publicado em 29 de agosto de 2018 às 15h16.

O Canadá está "encorajado" pelo avanço nas negociações com os Estados Unidos para um novo Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), após o acordo alcançado entre Washington e México, disse nesta quarta-feira a chanceler canadense, Chrystia Freeland.

"Continuo me sentindo encorajada pelas boas negociações que estamos tendo e pelo avanço que estamos conseguindo", declarou Freeland, em uma pausa das reuniões que acontecem no gabinete do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) em Washington.

Pouco depois, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que há uma chance de chegar a um acordo sobre um acordo comercial continental com os EUA e o México até o final da semana.

"Há uma possibilidade de obter um bom acordo para o Canadá até sexta-feira. Mas qualquer acordo "dependerá da existência ou não de um bom acordo para o Canadá", disse Trudeau em um comício de estudantes em Kapuskasing, no norte de Ontário.

Ao chegar no gabinete do representante comercial americano, Robert Lighthizer, Freeland destacou o "acordo de alto nível" alcançado com os Estados Unidos na primavera boreal, assim como o pacto anunciado na segunda-feira com o México.

"O México fez algumas concessões importantes, que serão realmente boas para os trabalhadores canadenses. Sobre essa base, somos otimistas em ter algumas conversas produtivas muito boas esta semana", disse.

O bom ritmo das negociações para um Nafta 2.0 anima os investidores: nesta quarta-feira, Wall Street continuou batendo recordes pelo quarta dia consecutivo.

Freeland, que já falou nesta manhã com Lighthizer após uma reunião "muito construtiva" na terça, pretende revisar "assuntos específicos" em relação ao Canadá e analisar "de perto" possível mudanças sugeridas.

A ministra também conversou nesta terça-feira à noite com adelegação mexicana, liderada pela chanceler Luis Videgaray. Foi "uma boa reunião", disseram os negociadores mexicanos ao abandonar a embaixada canadense, de acordo com relatórios da imprensa.

Canadá e México estão em "permanente" comunicação, apontaram ambas as partes.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, declarou seu compromisso com um Nafta 2.0, mas advertiu que assinará um acordo que seja "bom" para seu país.

Dois pontos podem ser conflitivos entre Ottawa e Washington: a abertura do protegido setor lácteo canadense e a modificação do capítulo 19 de solução de controvérsias em práticas desleais, duas pretensões dos Estados Unidos que o Canadá rejeita.

"Decisões difíceis" do México

Freeland retorna à mesa de negociações depois que a revisão do Nafta entre os três sócios não avançou em maio, em parte por conta da proximidade da eleição presidencial mexicana.

As diretrizes para um Nafta 2.0 anunciadas por Estados Unidos e México incluem percentuais maiores de conteúdo regional para a indústria automotiva, assim como requisitos de mão de obra em faixas salariais mais elevadas, proteções mais rígidas para os trabalhadores e um prazo de vigência de 16 anos do tratado, com possível revisão a cada seis.

Trump, que deixou incerto o futuro do Nafta ao sugerir negociar dois tratados separadamente caso não chegasse a um acordo com o Canadá, destacou o negociado com seus vizinhos mexicanos.

"Nosso novo Acordo de Comércio com o México se concentra em AGRICULTORES, CRESCIMENTO para nosso país, derrubando BARREIRAS COMERCIAIS, EMPREGOS e fazendo que as empresas continuem VOLTANDO AO NOSSO PAÍS. Será um grande sucesso!", tuitou na terça-feira à noite.

A chanceler canadense destacou que o México tomou "algumas decisões difíceis" em relação à indústria automotora, tão crucial para sua economia.

Segundo o acordado, entre 40% e 45% dos veículos deverá ser fabricado por trabalhadores que ganhem pelo menos 16 dólares a hora. "Isso é algo significativo para o Canadá", disse.

"Esse entendimento bilateral abre a porta para a reincorporação do Canadá no processo e nos coloca na reta final para alcançar um acordo trilateral que permita concluir definitivamente as negociações", disse a empresários o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto.

Peña Nieto e o presidente eleito Andrés López Obrador, que negociaram nos Estados Unidos como "uma frente comum", insistiu que o Nafta deve continuar sendo trilateral.

O futuro presidente, um esquerdista que afirmava na campanha que a abertura comercial do México havia traído o progresso para poucos a custa do sofrimento de muitos, é hoje apontado como peça-chave do consenso alcançado em Washington.

O leite da discórdia

O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, acredita que o Canadá aceitaráos termos negociados com o México, mas, assim como Trump, advertiu que se o tratado com Ottawa não prosperar, Washington poderá optar pelo caminho bilateral.

"Acho que teremos sucesso, mas novamente, se não tivermos, seguiremos em frente com o México e depois chegaremos a um acordo em separado com o Canadá", apontou.

Trump questiona as tarifas que o Canadá impôs sobre os produtos lácteos, que podem chegar a até 300%, enquanto Trudeau rejeita a demanda americana de abrir o mercado de leite.

O governo de Trump disse que notificará ao Congresso na sexta-feira sobre o acordo com o México, o que permitiria cumprir o prazo de 90 dias requerido para que Peña Nieto possa assiná-lo antes de passar o poder em 1 de dezembro.

Para que seja assinado por Peña Nieto, o texto de um Nafta 2.0 deverá estar pronto até 30 de setembro, informaram legisladores e ex-funcionários de comércio dos EUA. Eles ressaltam também que a Casa Branca não tem autoridade para substituir o Nafta por um acordo comercial bilateral.

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