Em evento da B3, Roberto Campos Neto elogiou o trabalho da gestão do ex-presidente Ilan Goldfajn à frente da instituição (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de abril de 2019 às 15h30.
Última atualização em 26 de abril de 2019 às 15h31.
São Paulo — O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira, 26, que o projeto do governo de dar mais autonomia ao BC removeria um prêmio de risco que existe hoje, em razão de experiências recentes em que a credibilidade da instituição foi testada. Além disso, disse que "a taxa de juros estrutural ficaria mais baixa".
Roberto Campos Neto também disse que é importante formular políticas em parceria com o Congresso e disse que a agenda da instituição que depende do Legislativo tem pouca resistência entre os parlamentares, porque é uma agenda inclusiva.
Além disso, disse ainda que é importante ter um alinhamento de ideias com a equipe econômica do governo federal, mas ressaltou que, embora tenha ajudado na campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, junto com o ministro Paulo Guedes (Economia), os dois desempenham funções diferentes.
As declarações foram dadas durante evento da B3 realizado em parceria com a consultoria de risco político Eurasia, na sessão de perguntas e respostas que ocorreu após sua apresentação.
Em sua participação no evento, o presidente do Banco Central afirmou que "não existe juro baixo com inflação baixa e ancorada, com fiscal desarrumado por muito tempo", em referência à agenda de reformas que busca equilibrar as contas públicas do governo, em especial a da Previdência.
"Estamos vendo o fiscal em três grandes blocos: a Previdência, o juro sobre a dívida, e aqui a solução é patrimonial, que envolve privatizações, e uma parte do funcionalismo, que o ministro da Economia, Paulo Guedes já explicitou várias vezes", disse ele.
Campos Neto evitou comentar a proposta para a Previdência e o tempo de tramitação da reforma no Congresso, mas disse que o "cenário central" do BC é de aprovação. "Não cabe ao BC quantificar o efeito financeiro nem o timing de aprovação, vamos observar e discutir quando as decisões forem tomadas", disse. "O que interessa para o BC é como isso afeta os canais de transmissão em termos de expectativa na inflação corrente, expectativa futura de inflação e restante de variáveis macro", afirmou.
O presidente do Banco Central elogiou o trabalho da gestão de Ilan Goldfajn à frente da instituição, tanto na condução da política monetária quanto na comunicação, e disse que seu mandato teve a preocupação de manter a mesma narrativa dos últimos comunicados.
"Trabalho anterior foi excelente e não queríamos mudar nada", disse. "Entre nós, diretores, há opiniões diferentes sobre todos os fatores (de risco), mas vimos que a coisa certa é esperar para elaborar um pouco mais", acrescentou o presidente do BC, ressaltando que a instituição está de olho principalmente na parte externa, no hiato do produto no Brasil e no avanço da agenda de reformas.
Ainda segundo Campos Neto, a inflação tem convergido para a meta em função de três fatores: o início de um governo reformista, em referência à gestão do ex-presidente Michel Temer, à credibilidade do Banco Central na gestão do ex-presidente do BC Ilan Goldfajn e ao hiato do produto.
Ele lamentou que o spread seja muito alto no Brasil e disse que isso "polui" o canal de transmissão da política monetária para o custo do dinheiro na ponta. "Quando comparamos com outros emergentes, tirando Argentina e Turquia, por motivos óbvios, percebemos que a as taxas de juros, inflação e inadimplência não são muito diferentes, mas o spread no Brasil é muito mais alto, de 17 p.p no Brasil, contra 4,6 p.p na média dos emergentes", disse.
O presidente do BC pontuou também que há um gap muito grande entre a confiança dos empresários no Brasil e o nível de investimentos. Ao destacar que essa magnitude atual do gap é rara, acredita que a tendência é que ou a confiança caia ou os investimentos se recuperem.