Economia

Camboja inicia julgamento histórico sobre autoridades do Khmer Vermelho

Os acusados são processados por genocídio mais de 30 anos depois dos crimes

Khieu Samphan (esquerda) e Nuon Chea, dois dos quatro acusados que atualmente têm entre 79 e 85 anos (Mark Peters/AFP)

Khieu Samphan (esquerda) e Nuon Chea, dois dos quatro acusados que atualmente têm entre 79 e 85 anos (Mark Peters/AFP)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2011 às 09h21.

Phnom Penh, Camboja - O tão aguardado julgamento das quatro autoridades do regime Khmer Vermelho ainda vivas, processadas por genocídio e outras acusações, teve início nesta segunda-feira em Phnom Penh em tribunal patrocinado pela ONU, mais de 30 anos depois dos crimes.

O ideólogo do regime de Pol Pot, o "Irmão Número Dois" Nuon Chea, o ex-ministro das Relações Exteriores Ieng Sary, o presidente da "Kampuchea Democrática" Khieu Samphan e a ex-ministra de Assuntos Sociais Ieng Thirith são acusados de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio.

Os quatro, que atualmente têm idades entre 79 e 85 anos, estavam presentes, visivelmente cansados.

"Não estou feliz com esta audiência", declarou Nuon Chea, com óculos escuros, antes de informar que seu advogado falaria no tribunal.

As autoridades do regime de Pol Pot terão que explicar a implementação metódica e calculada, entre 1975 e 1979, de uma utopia marxista delirante que matou por exaustão, fome e doenças, ou com torturas e execuções, dois milhões de pessoas, 25% da população do Camboja na época.

O termo genocídio é utilizado com frequência para explicar o período, mas as atrocidades cometidas contra o povo khmer não são reconhecidas como tal pela ONU. Esta acusação é aplicada apenas ao massacre dos vietnamitas e da minoria étnica dos cham muçulmanos.

Para o promotor internacional Andrew Cayley, este é o caso mais importante e complexo desde Nuremberg, cidade alemã em que líderes nazistas foram julgados após a Segunda Guerra Mundial.

"É o processo mais importante que verá o tribunal patrocinado pela ONU", uma juridição híbrida criada em 2006, acrescentou.

Este processo contrasta com outros tribunais de exceção internacionais, já que acontece no local em que ocorreram os crimes julgados, ao contrário do Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (Haia, Holanda) e do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (Arusha, Tanzânia).

Até quinta-feira, as audiências preliminares serão dedicadas a questões processuais, em particular ao exame das listas de testemunhas, antes de uma suspensão de semanas de um julgamento que pode demorar anos.

Analistas e quase 4.000 demandantes temem que alguns réus não vivam o suficiente para ouvir o veredicto, e que a defesa se concentre em uma estratégia de obstrução.

Os primeiros depoimentos dos acusados, detidos em um edifício anexo ao tribunal desde 2007, só acontecerão em agosto, na melhor das hipóteses.

Apesar de já serem considerados culpados pela história, os acusados com certeza negarão todas as acusações, mesmo depois de alguns terem admitido a responsabilidade. Este é o caso de Nuon Chea, que em um recente documentário admitiu o massacre dos "traidores" que não puderam ser "reabilitados ou corrigidos".

No primeiro julgamento, o tribunal condenou, em julho de 2010, a 30 anos de prisão Kaing Guek Eav, conhecido como "Duch", ex-diretor da prisão de Tuol Sleng, onde 15.000 pessoas foram torturadas antes de ser executadas.

Duch, que fez uma confissão completa e pediu perdão às vítimas, pediu para ser absolvido em apelação, alegando que não foi uma grande figura do regime. A decisão será tomada nas próximas semanas.

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