Economia

Câmbio flutuante tem um limite, diz diretor da OMC

Para Roberto Azevêdo, eleito para o principal cargo da organização, a partir de certo ponto governos influenciam no dólar


	Roberto Carvalho de Azevêdo, diretor eleito da OMC: “Acho muito improvável que se acredite firmemente na ideia de uma taxa cambial livremente oscilante”
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Roberto Carvalho de Azevêdo, diretor eleito da OMC: “Acho muito improvável que se acredite firmemente na ideia de uma taxa cambial livremente oscilante” (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2013 às 16h15.

São Paulo - Roberto Carvalho de Azevêdo, eleito diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), não vê como se pode esperar que uma organização que trata apenas de comércio, como a OMC, vai resolver a questão do câmbio.

“Acho muito improvável que se acredite firmemente na ideia de uma taxa cambial livremente oscilante”, disse Azevêdo. Segundo o diplomata, a taxa de câmbio flutua dentro de certos limites – e a partir dele os governo atuam. “Se isso pode ser considerado uma guerra cambial eu não sei. Acho que não teremos nada como tivemos nos anos 80”, disse em apresentação no evento “Novo momento no Comércio Mundial”, realizado pelo jornal Valor Econômico em São Paulo.

“O câmbio não é uma variável da economia que você lida de maneira cirúrgica. De maneira geral, o câmbio é uma consequência de uma quantidade enorme de medidas. E a OMC não tem competência e nem jurisdição para tratar de todos esses temas, a OMC trata apenas da área comercial”, disse. Do ponto de vista da OMC, o que se tem agora, segundo Azevêdo, é uma discussão sobre o impacto comercial da atuação de países como Japão e Suíça na moeda, por exemplo, e como a valorização ou desvalorização cambial pode ter impacto comercial e se há maneiras de dar tratamento a isso, mas essa não é uma discussão fácil, segundo o embaixador.

Para Azevêdo, embora o uso do câmbio possa dar um resultado positivo, é muito raro encontrar um país que adote uma medida tão grande do ponto de vista macroeconômico apenas para dar competitividade ao seu produto - o país pode adotar a medida se ela estiver em um contexto maior, como no caso dos Estados Unidos e a adoção dos Quantitative Easing. “É muito difícil encontrar um pais que use a valorização ou desvalorização cambial como instrumento comercial puramente”, disse Azevêdo.

“Vivemos num mundo hoje em que as oscilações cambiais estão ganhando valor e velocidade. A velocidade de apreciação e depreciação é extraordinária”, disse Azevêdo que diz observar em suas conversas com a Fiesp que a taxa cambial é uma preocupação grande.

“Ninguém hoje no Brasil tem muita clareza se estamos num patamar de câmbio que vai se valorizar nos próximos anos ou seguir na desvalorização ou se esse é um momento transitório que vai fazer a taxa se valorizar de novo”, disse Azevêdo, que assume o cargo de diretor geral da OMC em 1º de setembro.

Rodada Doha

A próxima conferência ministerial da OMC será realizada em Bali (Indonésia), em dezembro. No encontro, se tentará obter resultados nas seções sobre a facilitação do comércio e da agricultura e em diferentes questões de desenvolvimento. Como a rodada Doha está travada há algum tempo, a reunião em Bali é considerada por muitos uma última oportunidade. 


“Acho que temos condições de conseguir entendimento em Bali apesar de agora em Genebra o clima não ser bom, ser muito pessimista - mas acho que é uma mania de Genebra, achar que tudo é impossível – e Bali é uma oportunidade de mudarmos esse hábito de ser pessimista com relação às negociações, podemos dar uma injeção de ânimo no sistema”, afirmou. 

Sistema multilateral 

O sistema multilateral tem grande importâncias para países como o Brasil, segundo Azevêdo – porque são países que não tem o cacife de mudar as regras do jogo repentinamente. “Isso vale para o Brasil e mais ainda para os países menores”, disse.

O sistema multilateral tem que dar as regras, as disciplinas, segundo Azevêdo. Esse sistema já foi mais relevante no processo de tomada de decisões, de acordo com o diplomata. “Ninguém mais acompanha de perto o que acontece na OMC e ela está se desgarrando do mundo real”, afirmou. Em termos de disciplinas, a organização ficou parada no tempo. “Meu objetivo seria trazer à organização essa dinâmica nas negociações que tínhamos no começo (...) Eu gostaria de devolver isso para o sistema, essa capacidade de ser relevante, de ser um foro de negociação”, afirmou.

“Tem que mudar o paradigma, deixar de pensar no que se queria que a OMC fizesse e ver o que ela efetivamente pode fazer. Isso significa que teremos que modular melhor o que estamos negociando”, disse Azevêdo. Para o diplomata, é necessário modular para encontrar o realismo necessário para fechar as negociações.

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