Economia

Câmara aprova regulamentação da reforma tributária e texto segue para sanção presidencial

Texto unifica cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — com a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e com o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS)

Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 18h31.

Última atualização em 17 de dezembro de 2024 às 18h51.

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira, 17, com 324 votos favoráveis e 123 contrários, o texto do projeto de lei complementar (PLP) nº 68 de 2024, que regulamenta a reforma tributária. O texto segue agora para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A proposta aprovada pelos deputados traz modificações no texto anterior que havia sido aprovado pelo Senado, incluindo a reincorporação das bebidas açucaradas — como refrigerantes, refrescos e chás prontos — à lista de produtos sujeitos ao imposto seletivo, popularmente conhecido como "imposto do pecado". Entretanto, defensivos agrícolas, armas e munições não terão incidência do imposto do pecado.

Na semana passada, a medida havia sido aprovada pelo Senado, mas o imposto seletivo foi retirado do texto. Os senadores haviam aprovado um ajuste na alíquota do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), elevando-a de 26,5% para 28,55%.

A regulamentação representa um dos passos fundamentais para a implementação do novo sistema tributário, que substituirá os tributos federais, estaduais e municipais por um IVA dual, simplificando o sistema atual.

O que muda com a reforma tributária?

Na busca pela simplificação do sistema tributário do país, a reforma tem como principal efeito a unificação de cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — em uma cobrança única, que será dividida entre os níveis federal com a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), estadual e municipal, com o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que formam dois impostos de valor agregado (IVA).

O IVA é usado em mais de 170 países e, além de mitigar a complexidade do sistema anterior, busca acabar com a guerra fiscal.

Imposto seletivo

O relator da proposta na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), apresentou parecer favorável à maior parte das mudanças propostas pelo Senado.

O parlamentar, no entanto, destacou algumas alterações rejeitadas visando manter a alíquota geral do IVA em 26,5%. Entre elas está a reinclusão do imposto seletivo sobre bebidas açucaradas.

Essa é uma das novidades que vêm com a reforma tributária. A criação do imposto seletivo funciona como uma espécie de sobretaxa que poderá incidir sobre a produção, comercialização ou importação de produtos com risco à saúde e ao meio ambiente.

Veículos a combustão e elétricos; embarcações e aeronaves; produtos fumígenos; bebidas alcoólicas; bens minerais extraídos e concursos de prognósticos (apostas e loterias, físicas ou virtuais) e fantasy games pagarão uma alíquota maior de imposto.

As bebidas açucaradas haviam sido retiradas pelo Senado da lista do imposto do pecado, na semana passada, mas voltam ao Imposto Seletivo. O relator também retirou a possibilidade de redução do Imposto Seletivo para empresas que realizassem ações de mitigação de danos ambientais ou à saúde humana.

O que vai mudar com a Reforma Tributária?

O projeto de lei unifica impostos federais, estaduais e municipais e busca a redução de custos para empresas. Além disso, o texto cria um sistema de cashback para as famílias de menor renda.

O texto propõe a substituição de dois tributos federais (PIS e Cofins) por uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), gerida pela União; e de outros dois tributos (ICMS e ISS) pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), gerido por estados e municípios. Já o IPI vai virar um imposto seletivo.

  • IPI, PIS e Cofins são impostos federais;
    ICMS é estadual e o ISS é municipal.

Além disso, serão gerados créditos tributários ao longo da cadeia produtiva para não haver incidência em cascata, ou seja, imposto cobrado sobre imposto.

Durante o período de teste, os impostos terão a seguinte cobrança:

  • IVA federal terá alíquota de 0,9%
  • e o IVA estadual e municipal, de 0,1%

A reforma tributária vai diminuir ou aumentar os impostos?

A proposta do Congresso e do governo é simplificar o sistema tributário e acabar com distorções para as empresas. A ideia é que não ocorra nem redução e nem aumento da carga tributária.

Isenção ou desconto na cesta de alimentos

A regulamentação da reforma tributária também define os itens serão isentos de impostos na cesta básica nacional de alimentos. Assim como especifica a cesta estendida, que incorporar outros produtos como carne e itens de higiene pessoal, por exemplo. Esses e outros artigos terão desconto de 60% nos tributos para consumidores de baixa renda.

No Senado, a proposta manteve os itens da cesta básica adicionados pela Câmara dos Deputados, incluindo carnes e queijos. No texto original do governo para a regulamentação, a cesta básica com isenção total de impostos tinha 15 itens, entre eles: arroz, feijão, pão e leite.

Os deputados acrescentaram carnes, queijos, todos os tipos de farinha, aveia, sal e óleo de milho, somando 22 itens. E os senadores somaram ainda a tapioca e a erva-mate, o que foi mantido no texto atual.

O relator na Câmara retirou do texto a redução de 60% na alíquota para água mineral, biscoitos e bolachas. E voltou com o café verde para a lista, junto ao torrado. Os produtos da cesta básica nacional serão definidos por lei complementar.

Alimentação - itens com imposto zerado:

  • carne bovina
  • carne de frango
  • carne suína
  • peixe e ovos
  • farinhas de trigo de mandioca e de milho
  • massas alimentícias e pão francês
  • leite UHT
  • leite em pó
  • iogurte
  • leite fermentado
  • queijos
  • soro de leite e manteiga
  • frutas, verduras e legumes
  • arroz
  • feijão
  • trigo
  • café
  • açúcar
  • óleo de soja
  • óleo vegetal
  • margarina
  • erva-mate
  • tapioca

Alimentos que terão redução da CBS:

  • Leite fermentado, bebidas e compostos lácteos
  • Sal mineralizado
  • Mel natural, mate, farinhas de outros cereais, amido de milho
  • Óleos de palma, girassol, cártamo, algodão e canola e coco
  • Crustáceos (exceto lagosta)
  • Extrato de tomate
  • Massas alimentícias recheadas
  • Sucos naturais de fruta ou de produtos hortícolas sem adição de açúcar, adoçantes ou conservantes
  • Polpas de frutas sem adição de açúcar, adoçante ou conservante

Cashback

O desconto será concedido através da devolução de impostos, um mecanismo chamado cashback. O modalidade também está prevista na devolução de impostos para os mais pobres nas contas de luz e gás de cozinha.

Há ainda na reforma o estabelecimento de regimes diferenciados e de exceções. Entre eles, uma tributação específica para serviços prestados por determinados profissionais liberais, que deverá ser equivalente a 70% do valor da alíquota geral; e sobre setores como educação, saúde, serviços de transporte coletivo e insumos agropecuários, que devem receber tratamento diferenciado.

Profissões que pagarão menos impostos

Ao menos 19 profissões intelectuais de natureza científica, literária ou artística contarão com redução de 30% das alíquotas de CBS e IBS.

São eles: administradores, advogados, arquitetos e urbanistas, assistentes sociais, bibliotecários, biólogos, contabilistas, economistas, economistas domésticos, profissionais de educação física, engenheiros e agrônomos, estatísticos, médicos veterinários e zootecnistas, museólogos, químicos, profissionais de relações públicas, técnicos industriais e técnicos agrícolas.

O deputado Reginaldo Lopes retirou da lista os representantes comerciais, que foram incluídos no rol de profissões que pagarão menos impostos pelo Senado.

Saneamento

O relator também propôs a retirada do saneamento básico da lista de serviços de saúde com desoneração de 60% dos futuros tributos CBS e IBS.

Na avaliação do parlamentar, a concessão do benefício para todos os contribuintes é injusta, e a parcela mais pobre já será atendida pelo cashback, com devolução dos tributos na conta de água e esgoto. Os serviços funerários, de cremação e de embalsamamento continuam com 60%.

Medicamentos

A regulamentação da reforma tributária voltou a ter a lista de 383 medicamentos com alíquota zero. O relato descartou a proposta do Senado que permitia ao Comitê Gestor do IBS e ao Ministério da Fazenda incluir medicamentos nesta lista.

A lista tem medicamentos como insulina, utilizada no tratamento de diabetes; diazepan, administrado contra a ansiedade, losarta, destinado ao controle da pressão alta e isotretinoína para acne.

Educação

Serviços privados de educação terão o Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) reduzido em 60%.

Lopes retirou, porém, o dispositivo que previa a alíquota reduzida em 60% para atividades complementares de educação, como cursos de línguas estrangeiras, treinamentos e serviços de educação cultural, desportiva e recreacional.

Futebol

O parecer também estabelece que as SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) tenham a alíquota para os tributos unificados elevadas novamente de 5% para 8,5%.

O relator retirou outros benefícios dados pelo Senado, como a isenção de Imposto de Renda nas transações de jogadores.

Outras mudanças

Saíram do texto o mecanismo de substituição tributária, que havia sido criado pelo Senado. Reginaldo Lopes retirou o dispositivo que permitia o aumento da lista de defensivos agropecuários destinados à fabricação de agrotóxicos com redução de alíquota e rejeitou a alteração do regime específico do transporte aéreo regional que ampliou o limite de tamanho das aeronaves de 150 para 186 assentos.

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