Economia

Brasileiros na China se "armam" contra o coronavírus

Mesmo a mais de mil quilômetros da cidade foco de Wuhan, brasileiros que vivem em Pequim relatam temor de que o surto se espalhe por outras regiões

China: ruas estão vazias no país (INSTAGRAM/EMILIA/Reuters)

China: ruas estão vazias no país (INSTAGRAM/EMILIA/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 11h45.

Última atualização em 29 de janeiro de 2020 às 12h12.

São Paulo — Enormes avenidas vazias. Pontos turísticos fechados durante o feriado do ano-novo lunar. Nas raras saídas de casa, máscaras de proteção como item obrigatório.
O cenário fantasma em nada lembra a rotina frenética da nação mais populosa do mundo. Brasileiros que vivem na China relatam temor de que o surto do coronavírus em Wuhan, na Província de Hubei, se espalhe por outras regiões do país.

"As ruas parecem um grande deserto. Isso é um pouco impressionante nesta época do ano", diz a radialista Denise Melo, de 35 anos. "Em Pequim, fecharam todos os pontos turísticos: a famosa Cidade Proibida, o Palácio de Verão, que normalmente é lotado, está tudo fechado."

Paulistana, Denise mora na capital chinesa há um ano e meio. Ela tem saído de casa apenas para ir ao trabalho na Xinhua, agência de notícias do governo chinês. Mesmo a mais de mil quilômetros do epicentro do surto, não se sente totalmente segura. Pequim tem casos de infecção e anteontem as autoridades confirmaram a primeira morte na capital chinesa.

A cerca de 300 quilômetros a sudoeste de Pequim, o engenheiro geológico Júlio Cézar Kattah, de 24 anos, foi orientado a não deixar o alojamento da universidade onde estuda em Shijiazhuang, capital da Província de Hebei.

"A universidade não permite que a gente saia daqui a menos que tenha alguma circunstância especial", diz Kattah. "Muitos estão pensando em ir embora." O mineiro de Belo Horizonte conseguiu escapar ao ajudar uma professora na compra de mantimentos para a universidade. Kattah se surpreendeu com a cidade vazia e gravou vídeos para registrar a "situação muito estranha".

"Todo mundo está ficando dentro de casa mesmo. Ninguém está saindo. Você vê no WeChat (aplicativo de mensagens chinês) o pessoal perguntando se alguém tem uma série para recomendar", diz Kattah. "Colegas que ligam para mim, fazem videoconferência para preencher esse tempo."

Sem medo

Já em Qindgdao, na Província de Shandong, a mais de mil quilômetros de Wuhan, a engenheira eletricista Joice Fiaux diz que o cenário não é de pânico, apesar da recomendação para ficar em casa e de algumas restrições em viagens intermunicipais. "Não há pânico. Ações estão acontecendo de modo coordenado", diz a carioca, que cursa mestrado na Universidade de Petróleo da China.

Os três brasileiros lembram que muitos serviços já estariam fechados por causa do ano-novo lunar. O governo chinês decidiu estender o feriado até o próximo domingo. "A China sempre se prepara para um ano-novo muito colorido e, neste ano, não foi diferente. Tem lanternas, luzes, grandes estátuas e cartazes", lembra Joice.

"A diferença é que as pessoas estão mais em casa." Os brasileiros contam que a vigilância sanitária é rígida. Na entrada dos mercados e estações ferroviárias, há agentes de saúde que medem a temperatura das pessoas. Nas universidades, Kattah e Joice são examinados diariamente. E ninguém é visto na rua sem máscara.

Denise diz que tem um estoque de máscaras em casa. Já Kattah afirma que o item está em falta em Shijiazhuang e só conseguiu comprar pela internet, pagando caro. Ele diz que alguns golpistas estão retirando máscaras do lixo e desinfetando-as para revendê-las.

Os três acham afirmam estar preparados para enfrentar o coronavírus. "Não tenho medo. Observo bem as medidas de segurança do governo chinês e vejo que eles estão realizando um trabalho muito sério", diz Joice. "Manter a calma e esperar é o melhor a fazer." Denise pede que brasileiros que têm parentes na China não entrem em pânico, pois a situação não é desesperadora. "Acho que é (um recado) mais para minha mãe", brinca.

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