Economia

Brasileiro quer distância de dívidas

A prioridade dos consumidores é tentar quitar financiamentos já feitos e não contrair novas dívidas

Cartões de crédito empilhados: nos últimos 12 meses, a oferta de financiamentos para pessoas caiu cerca de 60% (Getty Images)

Cartões de crédito empilhados: nos últimos 12 meses, a oferta de financiamentos para pessoas caiu cerca de 60% (Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de dezembro de 2016 às 14h45.

Última atualização em 18 de dezembro de 2016 às 16h54.

São Paulo - Este Natal tende a ser de crédito minguado. Nos últimos 12 meses, a oferta de financiamentos para as empresas caiu cerca de 40%. Para as pessoas em geral, o tombo foi maior ainda, de 60%. O pior é que o desfecho desse segundo ano de economia em recessão pode ser apenas o início de um ciclo de escassez ainda maior, na avaliação do economista Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

"Temo que o País esteja vivendo uma mudança estrutural: a oferta de crédito desceu um degrau - ou vários. Vamos precisar de muitos anos, de reformas e de melhorias no ambiente regulatório para os bancos, na recomposição do capital das empresas e do orçamento das famílias, para que a gente volte ao patamar de crédito que vimos nos últimos anos."

Nesta virada de ano, o espírito segue nessa linha: a prioridade é tentar quitar financiamentos já feitos e não contrair novas dívidas. A professora Marina Morena, de 41 anos, foi às compras natalinas movida pela boa vontade. Não tem filhos. Costuma comprar mimos para crianças carentes. "A crise é para todos, e a gente pode aliviar a de quem tem menos", diz. Nas sacolas, boneca, bola, brinquedos "mais em conta".

Mas Marina tem destino certo para fatia mais gorda de todo dinheiro que entrar: pagar cerca de R$ 9 mil do cheque especial e do cartão de crédito - que, ela já avisou ao banco, não quer mais. "Não vai sobrar nem para Miojo quando eu quitar tudo, mas não quero virar o ano com dívidas", diz.

A empresária Juliana Ardengue, de 29 anos, tem uma pretensão mais radical: viver à vista. Em 2013, quando se mudou com o marido para Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, passou a empreender. Deu-se muito bem no mercado de alimentação, por ter aberto, em sociedade com um amigo, um restaurante no lugar certo. "Estávamos cercados de prédios de escritório, lotava, tinha fila na hora do almoço", diz ela. Resolveram, então, ampliar o negócio. Primeiro, atender à noite. Depois, fazer uma expansão para Três Lagoas, polo em franca expansão, onde instalariam uma cozinha industrial para fornecer alimentação a empresas. Entre elas, estava a Petrobras, que teria uma fábrica de fertilizantes no município.

Veio a crise, os escritórios na capital foram cortando funcionários, os clientes, sumindo. Em Três lagoas, a Petrobras adiou a abertura da unidade. Juliana precisou fechar o restaurante e assumir as contas: R$ 30 mil de dívidas trabalhistas - parte ainda em negociação; R$ 20 mil de dívidas tributárias - parte ainda em negociação; e R$ 80 mil do financiamento de capital de giro em 36 parcelas (a metade já quitada), que ela paga religiosamente todo mês ao banco. "E até hoje não consegui fechar a empresa", diz ela.

São casos individuais como esses, multiplicados aos milhares, que reforçam a análise de Lisboa e explicam o clima nas ruas. Na sexta-feira, a uma semana do Natal, era possível caminhar tranquilamente na Rua 25 de Março, o centro de compras da capital paulista que costuma lotar nesta época. Poucas pessoas tinham sacolas. Algumas lojas estavam até vazias. A esperança dos lojistas era que no final de semana, os consumidores se animassem, movidos pelo espírito natalino e pelo dinheiro extra do 13º salário.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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