Economia

“Brasil vai crescer menos do que os EUA”, diz Forbes

Imprensa e analistas internacionais destacam o mau desempenho do país, com queda do IBC-Br de maio, além de desaceleração na indústria e no comércio

Analistas duvidam que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, consiga evitar um 'pibinho' (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

Analistas duvidam que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, consiga evitar um 'pibinho' (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

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Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2012 às 20h44.

São Paulo - Depois de ser um dos “queridinhos do mercado” no ano passado, o Brasil não é mais visto pelos investidores internacionais como um lugar sem crise e em pleno desenvolvimento. Matéria da revista Forbes desta quinta-feira destaca que entre os BRICs – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China – o país é o que vai crescer menos.

A reportagem ressalta que a economia doméstica terá desempenho pior que a americana, epicentro da crise financeira internacional, que até hoje luta para voltar a crescer. “A projeção é que os Estados Unidos cresçam 2% neste ano, o maior avanço entre os países desenvolvidos. Entretanto, o PIB do Brasil parou completamente, dando-lhe o pior desempenho entre os quatro maiores emergentes (BRICs)”, diz a Forbes.

A publicação repercute o índice de atividade econômica do Banco Central, o IBC-Br, divulgado nesta quinta-feira. O dado – que é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – teve em maio retração de 0,02% na comparação com abril. Apesar de a queda ter sido muito leve, a estatística revelou uma mudança de tendência (antes só se via alta no índice) que surpreendeu o mercado. Além disso, o índice de abril foi revisado para baixo: a expansão real passou a 0,10%, contra os 0,22% apurados anteriormente. Nos cinco primeiros meses do ano, o IBC-Br acumulou alta de 0,40% em comparação com mesmo período de 2011, ao passo que, no acumulado de doze meses, o aumento foi de 1,27%.

A Forbes lembra ainda que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia divulgado dois indicadores ruins em julho: as vendas do varejo caíram 0,8% em maio ante abril, a maior baixa desde novembro de 2008, e a produção industrial mostrou declínio mensal de 0,9%, o que significou o terceiro resultado negativo consecutivo neste tipo de comparação.


Projeções – A expectativa de que o país passe vexame entre os emergentes e fique, inclusive, atrás de uma economia desenvolvida em dificuldade, a americana, é endossada por analistas. Robert Wood, da Economist Intelligence Unit (EIU), afirmou ao site de VEJA que, por ora, suas projeções apontam para uma expansão de 2% tanto para a economia dos EUA como para a do Brasil. "Mas existe um risco cada vez maior de o crescimento do PIB brasileiro ficar ainda mais fraco que os 2% que espero para os EUA", destacou. Também consultado pela reportagem, Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs e o criador do termo BRICS, procurou não endossar a projeção pessimista da Forbes. "Espero alta de 3,4% para o PIB do Brasil neste ano e 2,2% para a economia americana, mas vou revisar esses dados na semana que vem", declarou.

Fracasso do modelo – Outras publicações, como o prestigiado jornal britânico Financial Times, também registraram a queda do IBC-Br nesta quinta-feira. Sob o título “Economia brasileira: indo para lugar nenhum”, o jornal inglês diz ainda que o indicador “jogou combustível ao argumento de que o modelo do Brasil, baseado no desenvolvimento impulsionado pelo estado, tem levado o crescimento a um beco sem saída”.

O jornal contesta a efetividade das medidas – monetárias e econômicas – tomadas pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda para alavancar o consumo e dar suporte à indústria. “Com o México crescendo em seu espelho retrovisor, líderes brasileiros devem pensar se não poderiam aprender com os concorrentes de crescimento mais rápido e pensar em reformas, como a do mercado de trabalho”. Na quarta-feira, o Banco Central anunciou novo corte na taxa Selic, para 8% ao ano, destacando o fato de que a desaceleração da economia e a crise internacional abrem espaço para a queda dos juros.

O The Wall Street Journal, dos Estados Unidos, lembra que, no mês passado, o banco Credit Suisse revisou para baixo sua expectativa de crescimento para a economia nacional para apenas 1,5% neste ano, abaixo do consenso do mercado que está por volta de 2%. Isso foi “uma surpresa para a nação sul-americana, que uma vez foi sinônimo de crescimento rápido”.

O jornal afirma que o Brasil é, em parte, vítima de seu próprio sucesso. Com o real em alta na última década e investidores colocando bilhões de dólares no país, a indústria doméstica agora tem dificuldade de competir no mercado externo. A apreciação do câmbio descortina, na prática, as deficiências estruturais da economia brasileira. O grande problema, segundo analistas consultados pelo WSJ, é que o modelo de crescimento do Brasil – que mistura exportação de commodities, protecionismo industrial e a demanda do consumidor alimentada pelo crédito – parece ter perdido o fôlego.

Fora dos BRICs? – A publicação lembra também que o economista Jim O’Neill acredita que a desaceleração pode levantar questões sobre a permanência do Brasil no grupo dos BRICs. Ele tem argumentado, segundo o WSJ, que o país pode ter atingido seu limite de crescimento e agora os investidores estariam migrando para outras economias da região como México, Chile, Colômbia e Peru, que crescem mais que o Brasil.

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