Trump-Bolsonaro: líderes estreitam relações entre os dois países (Kevin Lamarque/Reuters)
Reuters
Publicado em 30 de julho de 2019 às 15h46.
Última atualização em 30 de julho de 2019 às 16h43.
Brasília — O Brasil tem um objetivo ambicioso na sua relação com os Estados Unidos, afirmou nesta terça-feira, 30, o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, ressaltando que o país quer avançar tanto em acordo envolvendo tarifas como em temas não tarifários.
Após o encontro que será realizado nesta quarta-feira, 31, entre autoridades do governo Jair Bolsonaro e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, em Brasília, a equipe econômica quer estabelecer marcos temporais para o que será possível fazer nos próximos seis meses em áreas como infraestrutura, investimento e facilitação de negócios, disse Troyjo, em entrevista à Reuters.
"Acho que vai sair dessas conversas um cronograma conjunto para examinar essas coisas todas", disse.
"Principal interesse do Brasil é a expansão e melhoria do seu intercâmbio econômico e comercial com os EUA. São as duas maiores democracias do Ocidente, mas têm comércio bilateral muito aquém do seu potencial."
Mais cedo, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que sua administração vai buscar um acordo de livre comércio com o Brasil.
"O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram um monte de tarifas, mas, fora isso, nós amamos o relacionamento", disse Trump a repórteres nesta terça, quando também elogiou Bolsonaro.
Além disso, secretário de comércio americano, Wilbur Ross, afirmou nesta terça-feira, 30. durante evento da Amcham (Câmara Americana de Comércio) que o presidente americano, Donald Trump, está comprometido em reduzir barreiras entre os dois países e expandir relações econômicas e laços comerciais, especialmente nas áreas de energia, infraestrutura, agricultura e tecnologia. "O presidente Trump está comprometido com uma relação forte e dinâmica com o Brasil", disse.
Ele lembrou que a relação de apoio entre Estados Unidos e Brasil é longa, citando o reconhecimento da independência brasileira pelos EUA. E destacou que essa "longa relação está mais forte do que nunca". Segundo ele, além do comércio, o país apoia o Brasil no fortalecimento da democracia na região.
Ross pontuou ainda que, com o avanço das recentes reformas, os EUA estão "fortemente comprometidos" em apoiar a entrada do Brasil na OCDE.
Ross afirmou que os americanos precisam costurar mais parcerias estratégicas, de forma a gerar "empregos, prosperidade e paz na região". Ele apontou que o acordo entre Boeing e Embraer é um bom exemplo de cooperação entre governos e empresas dos dois países.
Ross também destacou que há uma equipe de cerca de 50 pessoas ligadas ao Departamento do Comércio dos EUA trabalhando para facilitar as relações bilaterais, o que torna o Brasil um dos três países com maior rede americana. "Estamos trabalhando de perto com o Brasil e outros países da América Latina", reforçou, ao dizer que os EUA têm interesse em impulsionar a economia regional. "Há potencial para elevarmos o comércio lateral de mútuo benefício", disse.
Troyjo lembrou que, pelo fato de o país integrar o Mercosul — uma união aduaneira —, uma discussão sobre acordo comercial envolvendo tarifas tem que ser feita entre o bloco e os EUA.
Mas ele chamou a atenção para a "conexão e coincidência de propósitos" hoje existente entre Bolsonaro, Trump e o presidente da Argentina, Mauricio Macri.
"Essas boas relações entre o presidente Bolsonaro e o presidente Macri foram fundamentais pra gente concluir o acordo com a União Europeia", disse ele, a respeito do acordo de livre comércio que foi fechado pelo Mercosul no fim de junho após negociações iniciadas há 20 anos.
"Os três presidentes — Bolsonaro, Macri e Trump — querem também melhorar as relações econômicas e comerciais entre o Mercosul e os Estados Unidos. Então a gente tem essa conjuntura que é muito favorável", completou.
Colaborando para o que vê como janela de oportunidade, Troyjo destacou a vigência de uma espécie de aval conferido pelo Congresso norte-americano à Casa Branca para que o presidente dos EUA possa negociar acordos comerciais envolvendo tarifas que não sejam bilaterais. A chamada Trade Promotion Authority (TPA) vai até junho de 2021.
"O bacana de você ter um objetivo ambicioso é que seu objetivo é tão maior que você consegue resolver (no caminho) questões supostamente mais específicas", frisou Troyjo.
"Vistos para homens de negócios, acordos de bitributação, comércio eletrônico, comércio de bens digitais— tudo isso você consegue avançar mais se você tem esse objetivo maior adiante", finalizou ele, a respeito dos temas que estão no radar do governo.
Em fevereiro, antes da visita de Bolsonaro aos EUA, a administração Trump pediu ao Brasil a suspensão de uma tarifa de 20% aplicada às importações de etanol que superem 150 milhões de litros por trimestre.
Em contrapartida, a indústria de açúcar brasileira pediu a liberação de tarifas de importação estipuladas por Washington. O Brasil conta apenas com uma pequena cota de açúcar para exportação aos EUA com taxa mais baixa.
Em meio a irregularidades no setor frigorífico brasileiro identificadas pelos norte-americanos, os EUA suspenderam as importações de carne in natura do país, em 2017.
Na viagem do presidente Bolsonaro a Washington, em março, havia a expectativa de que as exportações de carne in natura do Brasil para os EUA pudessem ser retomadas, o que acabou não acontecendo.
Em meio às negociações, um acordo entre EUA e Brasil foi firmado para o estabelecimento de uma cota sem tarifa de importação de trigo produzido fora do Mercosul, algo que ainda não foi regulamentado.
Ross afirmou ainda que há diferenças entre as exigências para comércio com a União Europeia com quem o Mercosul fechou acordo recentemente e com os Estados Unidos. Ele pediu cuidado para que o país "não caia em armadilhas" que dificultem um acordo futuro com os americanos.
"Nós temos diferenças com a comissão da União Europeia em automóveis, alimentos, farmacêuticos, químicos, em todo tipo de setor", disse, completando que há diferenças também em relação a indicadores geográficos e regulação sanitária e fitossanitária. "Por favor, tenham cuidado e não caiam em armadilhas com algo que seja inconsistente com o acordo de livre comércio conosco", disse.
Ross afirmou que houve, nos últimos anos, uma preocupação por parte das empresas americanas e do investidor estrangeiro em relação à corrupção no Brasil, sobretudo dentro dos conselhos das empresas. Ele afirmou, contudo, que entende que a gestão do presidente Jair Bolsonaro tem tentado conter o problema.
"Eu sei que o Brasil fez um esforço grande sob a administração do presidente Bolsonaro para conter a corrupção", disse. Ele reafirmou que o país quer o livre comércio com o Brasil.
"Nos movermos em direção a acordo seria forma de cooperarmos mais em agricultura", afirmou Ross. Questionado sobre a dificuldade de recuperar o emprego no Brasil, o secretário disse que, para os Estados Unidos, uma "reforma regulatória", com alterações na legislação e retirada de entraves para as empresas, teve efeito positivo.
Ross afirmou que acordos comerciais "têm muitas páginas e podem levar muito tempo". quando perguntado se há um cronograma para o anúncio de um pacto de livre-comércio entre o país e o Brasil.
Ele afirmou que os dois países têm trabalhado no assunto desde março, após o encontro dos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, que desenvolveram uma relação pessoal "muito boa".