Economia

Brasil só ganha de Mongólia e Venezuela em competitividade

Brasil caiu 23 posições desde 2010 no ranking da escola de negócios suíça IMD e agora está no 61º lugar entre 63 países

Construção: registrou aumento da confiança empresarial em julho  (Dado Galdieri/Bloomberg)

Construção: registrou aumento da confiança empresarial em julho (Dado Galdieri/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 31 de maio de 2017 às 15h00.

Última atualização em 31 de maio de 2017 às 16h18.

São Paulo – O Brasil só é mais competitivo do que Mongólia e Venezuela, de acordo com um ranking da escola de negócios suíça IMD divulgado hoje.

"É esperado que esses países ocupem essas posições por tudo o que acompanhamos nos noticiários sobre as questões políticas atuais. Mas essas questões estão na raiz da má eficiência dos governos, e isso diminui as posições no ranking", diz Arturo Bris, diretor do Centro Mundial de Competitividade do IMD.

Ficamos na 61ª posição entre 63 países, atrás de Índia, Turquia, Bulgária, Grécia e Argentina.

A queda brasileira é de 4 posições em relação ao ano passado e de 23 posições em relação a 2010, quando o país atingiu sua melhor posição (38º).

O Brasil obteve, em 2017, 55.829 pontos no índice agregado. Foi um avanço de 4.153 pontos em relação a 2016, mas insuficiente para gerar avanços no ranking geral.

Em competitividade, não é preciso apenas melhorar, mas melhorar mais do que os outros. Se o mundo avança rapidamente, correr atrás do prejuízo não é suficiente.

Ainda assim, “a queda apresentada pelo Brasil em 2017 não é apenas relativa, mas também absoluta se observada no longo prazo”, explica um dos autores, o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, que faz o levantamento da parte brasileira.

Hong Kong e Suíça lideram pelo segundo ano consecutivo e os Estados Unidos saíram do top 3 pela primeira vez em uma década.

Os 10 primeiros lugares são, na ordem: Hong Kong, Suíça, Singapura, Estados Unidos, Holanda, Irlanda, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Emirados Árabes Unidos.

Metodologia

O ranking é publicado desde 1989 e tem quatro pilares: performance econômica, eficiência do governo, eficiência empresarial e infraestrutura.

Dos 260 indicadores utilizados, dois terços são dados estatísticos e um terço vem de uma pesquisa de opinião com 6.250 executivos de alto escalão.

No Brasil, esse levantamento foi feito entre fevereiro e março, antes da crise política disparada pelas denúncias que enfraqueceram o presidente Michel Temer, em um momento em que os índices de confiança do empresariado estavam em forte alta.

Resultados

A recessão profunda e prolongada levou a uma queda acentuada do Brasil no pilar “Desempenho Econômico”, com perda de 23 posições em um ano no item “Emprego”.

O desemprego no país ficou em 13,6% no trimestre até abril, segundo números divulgados hoje pelo IBGE, contra 11,2% no mesmo período de 2016.

“A recessão é algo que explicita e afeta nossa capacidade de concorrer com outros”, diz Ana Burcharth, professora e pesquisadora do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e uma das autoras do estudo.

O país também caiu 5 posições em um ano no pilar de “Infraestrutura”. A infraestrutura científica, por exemplo, teve impacto da queda de recursos e de pessoas empregadas em pesquisa e desenvolvimento. No momento da crise, as empresas estão mais preocupadas em sobreviver do que em novar.

"Em um contexto político abalado e extremamente incerto, é um desafio mover pessoas e recursos em prol de um projeto de nação", diz Carlos Arruda.

Outros problemas citados são a dificuldade em atrair talentos de fora e as questões trabalhistas, assim como a baixa eficiência no uso de recursos.

Nosso gasto em educação, por exemplo, é compatível com nosso nível de renda e está na média de países comparáveis, mas nossos indicadores de qualidade ficam muito aquém na comparação.

Para Arturo, os países que conseguiram subir no ranking adotaram uma agenda de produtividade, melhora de ambiente de negócios e abertura para o comércio internacional. Ana diz que falta ao Brasil essa visão mais estratégica e consistente:

“Muitas vezes a gente fica refém de questões conjunturais, economia volátil e instabilidade institucional. Os países que conseguem melhorar e sustentar competitividade são aqueles que pensam em investimentos de longo prazo”, resume.

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