Desempregados fazem fila diante de um escritório de empregos: a criação de postos de trabalho com carteira assinada em janeiro foi a pior para o mês desde 2009 (Dominique Faget/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2013 às 17h45.
São Paulo - A atual taxa de desemprego brasileira é de fazer inveja a outros países, como a Espanha, onde o resultado passa de 25%. O que deve preocupar os brasileiros nesse momento contudo, avalia o professor da USP e especialista em relações do trabalho José Pastore, é a capacidade de gerar empregos.
Para ele, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que apontam a geração de empregos em janeiro pedem mais atenção do que a taxa de desemprego do primeiro mês do ano, divulgada nesta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "O Brasil tem uma taxa baixa de desemprego mais porque tem menos pessoas procurando do que porque tem mais empresas gerando emprego", disse.
Dados do Caged apontam que, em janeiro deste ano, foram criados 28,9 mil postos de trabalho com carteira assinada, já descontadas as demissões. O resultado foi o pior para o mês desde 2009, auge da crise internacional. "Eu não vejo a geração de emprego para 2013 com muito otimismo, vejo com uma preocupação séria. Mas o desemprego não vai explodir. Pode ficar em 5,5%, 6%", afirmou Pastore.
De acordo com o economista, o crescimento baixo do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 afetou a geração de emprego, mas não a taxa de desemprego, pois a sociedade brasileira passou por uma mudança demográfica estrutural. "Nos últimos 20 anos, a taxa de natalidade no Brasil baixou muito, o que faz diminuir o número de pessoas que procuram emprego. Há menos jovens do que no passado e eles estão passando mais tempo na escola", comentou Pastore. Para ele, isso explica em parte a baixa taxa de desemprego brasileira.
Uma mudança no atual patamar da taxa de desemprego só aconteceria, explica, caso a geração de emprego registrasse drástica baixa. "A taxa de desemprego só vai dar um salto grande se por acaso a geração de emprego despencar de uma vez, porque ela está caindo, mas ainda mantém um nível que dá para empregar." Questionado sobre o que faria a geração de empregos cair de forma mais significativa, Pastore respondeu: "O setor que mais preocupa é a indústria, que perdeu competitividade em quase todos os seus setores".
Se a indústria não mostrar reação, portanto, não só a geração de emprego como também a baixa taxa de desemprego ficam ameaçadas. "Ao perder competitividade, a indústria não está conseguindo investir e, se o investimento continuar baixo, a geração de emprego na indústria seguirá muito baixa em 2013", disse Pastore. A recuperação para o setor é esperada, mas o economista alerta que conquistar competitividade novamente "não acontece do dia para a noite". "A competitividade depende de inúmeros fatores que, ainda que estejam sendo considerados no Brasil hoje, têm resultado demorado."