Economia

Brasil precisa retomar reformas para crescer mais, diz FHC

"Tudo isso (as reformas) requer um esforço enorme do presidente e do governo e desgasta, você perde popularidade", ponderou o ex-presidente

Houve uma espécie de confiança demasiada em que o impulso que tinha sido dado pela estabilidade e pelo mundo (...) tinha sido suficiente para assegurar o bem-estar 'ad aeternum'", disse FHC (Paulo Whitaker/Reuters)

Houve uma espécie de confiança demasiada em que o impulso que tinha sido dado pela estabilidade e pelo mundo (...) tinha sido suficiente para assegurar o bem-estar 'ad aeternum'", disse FHC (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2013 às 17h22.

São Paulo - O Brasil precisa retomar o caminho das reformas para mostrar aos investidores que o país tem rumo e assim voltar a crescer de forma mais robusta e consistente, avaliou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"O Brasil não continuou no caminho das reformas", disse nesta segunda-feira Fernando Henrique durante debate no Reuters Latin American Investment Summit.

"Houve uma espécie de confiança demasiada em que o impulso que tinha sido dado pela estabilidade e pelo mundo (...) tinha sido suficiente para assegurar o bem-estar 'ad aeternum'".

Nos últimos dois anos, o Brasil cresceu bem menos do que as previsões iniciais tanto do governo como do mercado, e abaixo de outras economias emergentes, apesar de medidas de estímulo adotadas pelo Executivo federal.

Mas o ex-presidente lembrou que fazer reformas não é algo simples e que normalmente embute custos políticos.

"Tudo isso requer um esforço enorme do presidente e do governo e desgasta, você perde popularidade", disse o ex-presidente que é do PSDB, o principal partido de oposição ao governo federal.

Como exemplo desse processo doloroso, ele citou a aprovação da medida provisória que criou um novo marco regulatório para o setor portuário do país na semana passada.

Durante seus oito anos de governo, Fernando Henrique conseguiu realizar algumas reformas importantes para a economia, como a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que ajudou a equilibrar as contas públicas, e a privatização de vários setores, como o de telefonia, que deu um impulso enorme para o segmento.

Luiz Inácio Lula da Silva chegou a aprovar uma modesta reforma da Previdência no seu primeiro mandato, mas não foi muito além. Como Fernando Henrique, Lula tentou e não conseguiu aprovar uma reforma tributária.

Já Dilma tem se restringido a medidas mais pontuais, evitando especialmente mudanças à Constituição, que requerem uma maioria qualificada no Congresso.


"Ela não negocia o necessário para que as coisas possam sair de uma maneira mais construtiva", disse o ex-presidente.

"Ela tem uma visão mais tecnocrática. Pode ser (bom), mas não basta", argumentou. "Como presidente, não basta ser tecnocrata, precisa ser político, tem que inspirar, tem que ter visão, tem que conversar com as pessoas, tem que liderar." Para Fernando Henrique, neste momento é preciso mostrar com clareza que o Brasil tem rumo. "O capital é medroso, quando tem dúvida, se encolhe".

Além das reformas, Fernando Henrique disse que para um crescimento econômico mais expressivo é preciso olhar também para outras questões, como a necessidade de "um novo ímpeto forte de reengajamento do setor produtivo manufatureiro ao processo global".

O ex-presidente citou a Embraer como um exemplo positivo a ser seguido nesse "reengajamento".

"Hoje nós já temos tecnologia, gente competente, condições de competitividade", argumentou.

BC e inflação

Num momento em que se discute o que pode ser feito para baixar a inflação dos patamares atuais sem que isso afete ainda mais o crescimento da economia, Fernando Henrique não mostrou uma grande preocupação com a alta dos preços.

"O xis da questão é como você vai olhar para inflação, tomar medidas adequadas para evitar que ela galope, e ela está longe de galopar no Brasil", disse. "A inflação nossa é de 5, 6 por cento (ao ano), quando eu era ministro era de 20 por cento ao mês." Em abril, o índice oficial da inflação acumulou alta de 6,49 por cento em 12 meses, praticamente atingindo o teto da meta do governo --que é de 4,5 por cento mais 2 pontos de tolerância.

Num cenário em que o Brasil tem registrado taxas mínimas históricas de desemprego, o ex-presidente rejeitou a necessidade de reduzir o emprego para se frear a inflação.

"O país não precisa de desemprego para lutar contra a inflação", disse, argumentando ainda que "nenhum governo vai fazer isso, tem eleição".

"Há mecanismo de controle da inflação que não são incompatíveis com a existência de crescimento." Fernando Henrique defendeu que o governo não interfira no trabalho do Banco Central, mas admitiu que em alguns momentos cabe ao presidente da República agir, lembrando que ele próprio demitiu presidentes do BC durante seu governo.


"Quando o BC entra em choque com a visão do presidente e do ministro da Fazenda e quem vai pagar o preço é o presidente, o presidente atua", justificou, argumentando que quem tem a legitimidade do voto é o presidente da República.

Europa

Com a Europa no olho do furacão da crise econômica internacional, Fernando Henrique não poupou críticas ao velho continente.

Para ele, faltam líderes na Europa e as políticas econômicas adotadas são equivocadas.

"O que a Europa está fazendo? Uma política de rigor fiscal, apertar os cintos, sem horizontes, sem esperanças. (Isso) é errado, porque você não pode pedir que o povo aperte os cintos a vida inteira."

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