Economia

Crescimento do Brasil pode desabar com Trump presidente

Trump presidente faria o crescimento cair de 0,97% para 0,49% em 2017 e de 1,83% para 1,53% em 2018, segundo consultoria

Uma eventual eleição de Trump pode prejudicar bastante o Brasil (Brian Snyder/Reuters)

Uma eventual eleição de Trump pode prejudicar bastante o Brasil (Brian Snyder/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de novembro de 2016 às 17h09.

Última atualização em 7 de novembro de 2016 às 18h42.

São Paulo - O Brasil seria um dos países mais afetados por uma vitória de Donald Trump, de acordo com a Euromonitor.

A consultoria divulgou recentemente uma estimativa do impacto que a eleição do candidato republicano teria sobre o PIB de países selecionados.

No caso do Brasil, a taxa de crescimento seria meio ponto percentual menor do que no cenário-base, com vitória de Hillary Clinton.

Trump presidente faria o crescimento cair de 0,97% para 0,49% em 2017 e de 1,83% para 1,53% em 2018.

De uma forma ou de outra, a consultoria está menos otimista em relação ao Brasil do que a média do mercado - que segundo o Boletim Focus, espera crescimento de 1,2% no ano que vem.

Outros países seriam ainda mais afetados, como o México (corte de 0,85 ponto percentual) e Irlanda (corte de 0,79 ponto percentual).

Os primeiros países da lista são, não por acaso, grandes parceiros comerciais dos americanos.

A Irlanda manda para lá quase um quarto das suas exportações; México e Canadá são parte do NAFTA, acordo de livre comércio que Trump promete rever.

Trump também promete fazer o México pagar por um muro na fronteira, e a retórica incendiária já traz consequências concretas.

Uma análise recente do mercado financeiro feita por uma dupla de economistas verificou que quando as chances de Trump aumentam, o peso mexicano desaba e a volatilidade dispara.

Se ele ganhar, outras moedas de emergentes também devem perder valor - incluindo o real - e a incerteza deve causar aversão ao risco e inibir o investimento estrangeiro, essencial para a recuperação da economia brasileira.

Além disso, os EUA são o nosso segundo maior parceiro comercial e o México, o sétimo.

Resultado: a postura protecionista também acabaria batendo por aqui justo em um momento onde o Brasil, uma das grandes economias mais fechadas do mundo, mostra sinais tímidos de querer se abrir.

Mas ninguém sairia perdendo mais do que os próprios Estados Unidos: a Euromonitor estima que o crescimento do PIB do país cairia da faixa dos 2% para 0,3% em 2017 e 1% em 2018.

O plano fiscal de Trump prevê cortes de impostos com altas de gastos, o que faria explodir o déficit, e as restrições ao comércio e aos imigrantes aumentariam preços e fariam encolher a força de trabalho.

"Relações internacionais tensas também devem levar à perda de confiança, o que deprimiria o gasto do consumidor e o investimento das empresas", diz o texto da analista Kotryna Tamoseviciene.

Até Trump sairia perdendo: sua eleição levaria a quedas fortes na receita até 2020 de setores onde ele atua, como imobiliário (US$ 384 bilhões a menos) e de hotelaria (US$ 70 bilhões a menos).

Vale lembrar que essa nem é o pior cenário possível, já que a consultoria está supondo que as propostas mais radicais de Trump acabariam diluídas pelo Congresso e pelo Senado.

Ainda assim, o estrago seria grande. Há uma semana, vencedores do Prêmio Nobel de Economia assinaram uma carta chamando Trump de “uma escolha perigosa e destrutiva para o país."

Recentemente, o Wall Street Journal entrou em contato com 45 economistas que já passaram pelo Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca durante gestões republicanas e democratas.

Nenhum declarou apoio a Donald Trump; alguns afirmam que vão votar por Hillary Clinton e outros preferem não declarar nenhum apoio.

A eleição americana acontece nessa terça-feira e os resultados devem começar a aparecer durante a madrugada.

Hillary Clinton perdeu nos últimos dias uma parte da vantagem que mantinha contra Trump nas pesquisas, mas sua vitória continua sendo o cenário mais provável.

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