Fila para receber auxílio emergencial: com a transmissão da covid-19 em alta, medidas para reabrir a economia tendem, neste momento, a passar longe do resultado desejado (Andre Coelho/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 5 de junho de 2020 às 17h46.
Última atualização em 9 de junho de 2020 às 15h02.
Poucas vezes o mercado de trabalho esteve tão vulnerável como agora. Com a economia em queda, as empresas endividadas e o fechamento de pequenos e médios negócios, 2020 deve ser o ano do extermínio de empregos. No Brasil, pelo menos 9 milhões de vagas formais devem ser perdidas este ano, uma enormidade.
A previsão é que a taxa de desemprego chegue a 18,7%, segundo um estudo inédito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), algo que não se via pelo menos desde 1992. No ano passado, havia cerca de 12,6 milhões de pessoas desocupadas no país – o índice de desemprego fechou em 12%. Em média, cada ponto percentual da taxa de desemprego corresponde a cerca de 1 milhão de postos de trabalho perdidos, daí a previsão dramática para 2020.
Um cenário complexo de incertezas contribui para as projeções negativas. A retomada econômica depende intrinsecamente de uma melhora significativa na crise da saúde pública – e, por enquanto, não se sabe quando isso vai acontecer. Com a transmissão do coronavírus em ritmo acelerado na maior parte do país, medidas para reabrir a economia tendem, neste momento, a passar longe do resultado desejado.
“Sem controlar a propagação do vírus, não adianta autorizar o comércio e outras atividades a funcionar, já que os consumidores provavelmente evitarão ir a esses locais para não se contaminar”, diz o economista Daniel Duque, da FGV, especializado em mercado de trabalho.
Mesmo depois de uma certa volta à normalidade, quando a pandemia estiver mais controlada, provavelmente serão necessários pelo menos alguns meses para que as empresas recomponham o caixa e se sintam confortáveis o suficiente para voltar a contratar. Até o final do ano, trata-se de algo que dificilmente vai acontecer, na visão dos economistas.
“Em um cenário de queda do PIB, que este ano deve ter uma retração de 6,5%, as pessoas em geral gastam menos e, portanto, as vendas das empresas diminuem”, afirma o economista Helio Zylberstajn, da Universidade de São Paulo.
A estimativa é que a queda no consumo das famílias seja diretamente impactada por essa conjuntura, com uma retração de 8%. O investimento das empresas, por sua vez, deve retirar 15%, segundo a FGV.
A massa de trabalhadores informais no Brasil, que chegou a 41% da população ocupada no ano passado, representa outro importante ponto de inflexão desse cenário. A reportagem “O Brasil Desempregado”, publicada na nova edição de EXAME, contribuiu para jogar luz esse tema, fundamental num momento em que o Brasil e o mundo estão de pernas para o ar.