Economia

Brasil mira Argentina e dificulta entrada de perecíveis, diz fonte

O foco da medida é retaliar ações protecionistas da Argentina

A decisão é mais um capítulo da difícil disputa comercial entre os dois vizinhos (Getty Images)

A decisão é mais um capítulo da difícil disputa comercial entre os dois vizinhos (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de maio de 2012 às 21h47.

Brasília  - De olho na Argentina, o governo brasileiro decidiu nesta segunda-feira lançar mão do licenciamento não automático para cerca de 10 produtos perecíveis importados, informou à Reuters uma alta fonte do governo.

O foco da medida, que cria a necessidade de autorização prévia para importações -com demora de até 60 dias para sair-, é retaliar ações protecionistas da Argentina, acrescentou a fonte, que pediu para não ser identificada.

A decisão é mais um capítulo da difícil disputa comercial entre os dois vizinhos.

A lista de perecíveis inclui maçãs, batatas, farinha de trigo, uvas passas, queijos e vinhos, que até agora tinham a autorização de entrada da autoridade de indústria e comércio imediata. Com o licenciamento não automático, o Brasil tem até 60 dias para autorizar o ingresso dos produtos, o que pode tornar inviável a exportação de alguns dos bens para o país.

Oficialmente, a medida vale para produtos perecíveis de qualquer país que deseje vender para o Brasil. Mas, segundo uma das fontes, os produtos perecíveis escolhidos, ao lado dos automóveis, chegam a cerca de 70 por cento da pauta de comércio entre o Brasil e Argentina. O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina.


"É difícil o Brasil endurecer mais do que isso com a Argentina", afirmou à Reuters a fonte, reconhecendo que as medidas são um duro golpe no comércio dos produtos.

A decisão foi tomada em conjunto pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) com o Itamaraty. Não haverá anúncio formal. Procurado, o MDIC não comentou as medidas.

Questionada sobre a possibilidade de o consumidor brasileiro ser afetado pela dificuldade na entrada dos produtos, a fonte garantiu que o governo estudou como a medida afetaria o abastecimento de cada um dos bens.

"Nenhum produto da lista leva à possibilidade de desabastecimento do mercado brasileiro", afirmou à Reuters essa fonte.

Além das dificuldades de negociação com a Argentina, que tem criado barreiras para produtos brasileiros, outra fonte afirmou à Reuters que a queda nas exportações brasileiras ao país vizinho pesou na decisão. Em abril, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 27 por cento, na média diária, na comparação com o mesmo mês de 2011.

Reação -  A atitude do governo não causou surpresa para empresários brasileiros afetados por medidas argentinas consideradas semelhantes, como a barreira às exportações brasileiras de carne suína.

"Tudo caminhava para isso... Não havia alternativa, a Argentina não pode pretender fazer o que quer", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, Pedro de Camargo Neto, que considerou que o Brasil foi "paciente".

O tema deverá entrar na pauta da visita do ministro das Relações Exteriores argentino, Héctor Timerman, que estará em Brasília na terça-feira para reunião com o chanceler brasileiro, Antonio Patriota.

Em maio do ano passado, o Brasil decidiu impor barreiras à importação de veículos por meio de licenças não automáticas, afetando principalmente envios dos produtos argentinos e causando forte crítica do país vizinho.

Acompanhe tudo sobre:AlimentosAmérica LatinaArgentinaProtecionismoTrigo

Mais de Economia

Governo avalia mudança na regra de reajuste do salário mínimo em pacote de revisão de gastos

Haddad diz estar pronto para anunciar medidas de corte de gastos e decisão depende de Lula

Pagamento do 13º salário deve injetar R$ 321,4 bi na economia do país este ano, estima Dieese

Haddad se reúne hoje com Lira para discutir pacote de corte de gastos