Mohamed El- Erian, CEO da Pimco: "o Brasil está em um tipo de deslocamento financeiro de mercados emergentes que muitos esperavam que tivesse ficado na década de 1980 e início dos anos 2000" (Pete Marovich/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2015 às 11h12.
Nova York e São Paulo - O famoso gestor Mohamed El-Erian, ex-executivo-chefe da Pimco, escreveu um artigo na quarta-feira, 23, afirmando que o Brasil precisa desesperadamente de um choque para interromper a espiral negativa que engolfou a economia.
Sem isso, em vez de uma reversão natural com a mudança do ciclo econômico, a situação poderia se deteriorar ainda mais, afetando a população mais pobre e tornando o sistema político mais disfuncional.
"O Brasil está experimentando uma repetição do tipo de deslocação financeira de mercados emergentes que muitos esperavam que tivesse ficado na década de 1980 e início dos anos 2000. Os três principais mercados financeiros estão presos em um processo mutuamente alimentado de destruição de valor. O resultado é uma horrível combinação de forte desvalorização cambial, crescentes custos de financiamento externo e taxas de juros domésticas maiores", escreve El-Erian.
Segundo ele, essas tendências prejudiciais exacerbam o risco de dois ciclos viciosos adicionais. O primeiro é a ligação entre as dívidas soberanas e os títulos corporativos.
O segundo é o elo entre o setor financeiro e as projeções para a economia real. "Quanto pior estiverem os mercados financeiros, maior o risco para a economia mais ampla, que já está lutando com uma recessão e inflação elevada".
Para El-Erian, isso pode levar a um aumento estrondoso nos custos de produção, queda na atividade, alta no desemprego, recuo nos salários reais e crescente fuga de capital.
Relatório
A Pimco é a maior gestora de bônus do mundo, com US$ 1,5 trilhão em ativos sob gestão. Em relatório divulgado ontem, ela prevê que a recessão no Brasil deve piorar ainda mais este ano e avalia que os riscos negativos para o país "são significativos".
Além disso, o ambiente político deve seguir ditando os rumos do cenário macroeconômico do país.
"Estamos prevendo que a recessão vá se aprofundar ao longo deste ano com riscos descendentes significativos na medida em que a confiança dos empresários e os investimentos continuam fracos", afirma o documento, assinado pelos analistas Richard Clarida e Andrew Balls.
"No Brasil, as perspectivas macro serão em grande parte um derivado da política interna, uma vez que o impasse no Congresso continua."
A perspectiva para o avanço do ajuste fiscal no curto prazo permanece pequena, na medida em que a turbulência política deve continuar em Brasília, destaca o relatório. Para a inflação, a expectativa é um pouco melhor.
Os índices de preços devem ficar bem acima da meta do Banco Central em 2015, mas devem começar a cair a partir do primeiro trimestre de 2016.
Um dos riscos para pressionar os preços para cima seria a forte desvalorização recente da moeda, ressalta o documento. Por outro lado, uma piora da recessão pode ajudar a reduzir as pressões inflacionárias. Mesmo assim, a Pimco não espera que o BC baixe os juros de forma significativa.