Economia

Brasil é um dos vencedores com retaliação da China em guerra comercial

A China aplicará tarifas de 25% às importações de 106 produtos dos Estados Unidos, o que deve abrir espaço no seu mercado para produtores sul-americanos

Lavoura de soja em mato grosso: Brasil pode ficar com mercado perdido pelos EUA (JC Patricio/Getty Images)

Lavoura de soja em mato grosso: Brasil pode ficar com mercado perdido pelos EUA (JC Patricio/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 4 de abril de 2018 às 12h05.

Última atualização em 4 de abril de 2018 às 12h54.

A China não demorou para reagir ao ataque do presidente dos EUA, Donald Trump, aos seus produtos de alta tecnologia. A segunda maior economia do mundo retaliou aplicando seu próprio pacote de tarifas a cerca de US$ 50 bilhões em importações americanas.

A China aplicará tarifas de 25 por cento às importações de 106 produtos dos EUA e produtores rurais e fabricantes de aviões e automóveis americanos deverão sofrer o impacto. Trata-se de uma resposta à possível aplicação de tarifas de 25 por cento a 1.300 produtos chineses pelos EUA.

Confira alguns dos vencedores e perdedores:

Perdedores: produtores rurais da região Centro-Oeste dos EUA

As tarifas são um grande revés para os produtores americanos, especialmente para os dos estados do Centro-Oeste, de que Trump precisa para se reeleger em 2020. A China é a maior compradora de soja dos EUA, consumidora de cerca de um terço de toda a safra americana. O negócio é avaliado em cerca de US$ 14 bilhões. Os preços da soja chegaram a cair 5,3 por cento nas negociações em Chicago, maior recuo desde julho de 2016.

Vencedores: produtores rurais sul-americanos

O Brasil e a Argentina são os principais concorrentes dos produtores americanos no mercado da soja e do milho. Os dois países estarão ansiosos para ficar com qualquer mercado perdido pelos EUA, mas não conseguirão assumir a totalidade da participação dos EUA. A safra da Argentina foi prejudicada pela seca neste ano, por isso o país não poderá vender tanto.

Perdedoras: fabricantes de veículos dos EUA (inclusive a Tesla)

A China, que importou 36.000 veículos dos EUA nos dois primeiros meses do ano, também planeja aplicar tarifas à maioria dos veículos, inclusive aos elétricos. A Tesla corre um risco particular porque suas receitas na China dependem de veículos fabricados nos EUA. Outras fabricantes de veículos americanas, como a General Motors e a Ford Motor, produzem na China.

Perdedora: Boeing

As tarifas da China podem prejudicar as vendas de alguns dos aviões mais vendidos da Boeing, como a família de jatos de passageiros 737, e colocar a empresa em desvantagem em relação à Airbus. A China é um mercado fundamental para a Boeing. Mais de 50 por cento dos jatos comerciais que operam na China são aviões da Boeing.

Vencedor: setor metalúrgico dos EUA

A última série de tarifas propostas tem como alvo várias categorias específicas de aço e alumínio fabricadas na China. Soma-se às tarifas anunciadas no mês passado, o que significa que alguns tipos de produtos enfrentarão tarifa de 50 por cento para chegar aos EUA, aumentando ainda mais os preços de alguns produtos.

Perdedoras: fabricantes de medicamentos genéricos

Empresas como a Mylan deverão ter que pagar mais por ingredientes brutos, como a insulina usada pelos diabéticos e a epinefrina, uma droga de reação antialérgica. Outros produtos, como as vacinas e os antidepressivos, estão na lista de produtos que serão atingidos por tarifas.

Perdedor: churrasco chinês

A China é de longe a maior consumidora mundial de soja, em sua maioria esmagada para alimentar porcos. As tarifas à soja americana poderiam acabar elevando os custos dos produtores de suínos chineses e os preços da carne para 1,3 bilhão de habitantes.

 

Queda percentual no preço da soja após anúncio da retaliação da China aos Estados Unidos no dia 04 de abril de 2018

Queda percentual no preço da soja após anúncio da retaliação da China aos Estados Unidos no dia 04 de abril de 2018 (Infográfico/Bloomberg)

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