Economia

Brasil e emergentes podem enfrentar problema novo: armadilha de liquidez

O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman diz que o problema agora se espalhou para alguns mercados

Krugman: “Não há nada na lógica da armadilha de liquidez que diga que isso não pode acontecer em um país em desenvolvimento”, disse (Jerome Favre/Bloomberg)

Krugman: “Não há nada na lógica da armadilha de liquidez que diga que isso não pode acontecer em um país em desenvolvimento”, disse (Jerome Favre/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 13 de maio de 2020 às 06h01.

Última atualização em 13 de maio de 2020 às 20h44.

Dois meses após a crise mais profunda em décadas, algumas das maiores economias da América Latina estão perto de perder sua principal ferramenta de combate à recessão: cortes das taxas de juros.

Peru e Chile já reduziram o juro para quase zero e são obrigados a considerar novas táticas para resgatar as economias em colapso. Brasil e Colômbia podem em breve estar no mesmo barco.

A chamada armadilha de liquidez, quando a política monetária perde força à medida que as taxas de juros se aproximam de zero, atormenta países ricos há anos. O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman diz que o problema agora se espalhou para alguns mercados emergentes.

“Não há nada na lógica da armadilha de liquidez que diga que isso não pode acontecer em um país em desenvolvimento”, disse Krugman em entrevista por telefone em 8 de maio.

Problemas de primeiro mundo: Peru e Chile cortaram sua taxa básica de juros a quase zero

Problemas de primeiro mundo: Peru e Chile cortaram sua taxa básica de juros a quase zero (Divulgação/Bloomberg)

Na semana passada, o banco central do Peru disse que está pronto para usar diferentes tipos de estímulo monetário para sustentar a demanda durante a pandemia de coronavírus, enquanto no Chile a autoridade monetária começou a comprar títulos emitidos por bancos. Porém, medidas desse tipo são uma forma muito menos eficaz de estímulo do que simplesmente reduzir a taxa básica, de acordo com Krugman.

Dívida em dólar

Muitos países em desenvolvimento enfrentam a crise atual com inflação baixa e níveis modestos de dívida em dólar. Isso os torna menos vulneráveis a uma crise de mercado emergente tradicional, na qual uma onda vendedora na moeda desencadeia uma espiral inflacionária ou dificulta o serviço da dívida externa. Em vez disso, os emergentes enfrentam um novo conjunto de problemas.

“Se olhamos para a Turquia ou Argentina, estão passando por um tipo relativamente clássico de crise de mercado emergente com um corte nas entradas de capital”, disse Krugman. “Mas grande parte do mundo emergente avançou muito nessas questões, e o mais perverso é que, ao ganhar algum tipo de credibilidade no estilo do primeiro mundo, conseguiram se tornar vulneráveis aos tipos de problemas do primeiro mundo.”

Quando a crise financeira global atingiu a América Latina há 12 anos, bancos centrais no Brasil, Colômbia, Chile e Peru reduziram as taxas de juros em cinco pontos percentuais ou mais. Essa não é uma opção neste momento.

Quando a pandemia surgiu, os quatro países tinham a taxa básica abaixo de 5%. Agora, os juros variam de 0,25% no Peru a 3,25% na Colômbia. Algumas das menores economias da região, como Paraguai e Guatemala, agora também têm juros próximos a zero, assim como vários mercados emergentes na Ásia e no Leste Europeu.

O México, a única grande economia da América Latina que ainda possui taxas significativamente acima da inflação, também corta os juros rapidamente, com outra redução de meio ponto percentual prevista para esta semana.

Estímulo fiscal

Enquanto países como EUA, Reino Unido e Japão têm “uma enorme margem de manobra” para emprestar dinheiro destinado a programas de estímulo, devido ao longo histórico de devedores confiáveis, mercados emergentes são mais restritos na capacidade de usar estímulo fiscal, disse Krugman.

O economista diz que se fosse ministro da Fazenda de um mercado emergente “ficaria nervoso” em adotar o tipo de estímulo na escala da Europa e EUA.

O Chile, com níveis mais baixos de dívida e um histórico mais longo de solvência, tem “muito mais margem de manobra” do que o Brasil, segundo Krugman.

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