Economia

Brasil deve se esforçar mais, diz Martin Wolf

No jornal Financial Times, economista prevê perdas para o `país do presente´, caso a estabilidade alcançada pelos brasileiros não gere dinamismo à economia

O economista Martin Wolf, durante conferência dos ministros das Finanças do G7 (.)

O economista Martin Wolf, durante conferência dos ministros das Finanças do G7 (.)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de junho de 2010 às 08h24.

Londres - O Brasil já não é o país do futuro, mas do presente "embora só até certo ponto", e deve fazer maior esforço para equiparar-se em desempenho econômico a outras economias emergentes como China e Índia, avalia um colunista do jornal britânico "Financial Times" (FT).

O renomado economista Martin Wolf emite sua opinião em um comentário em um suplemento que a publicação de referência da City dedica hoje ao gigante sul-americano.

"As grandes conquistas brasileiras dos últimos 15 anos são sua estabilidade política e econômica. Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil alcançou um Governo democrático estável", escreve Wolf.

Graças ao plano "real", lançado por Fernando Henrique em 1994, "foi possível controlar a inflação", e em 1999, uma crise monetária obrigou o Brasil a adotar uma taxa de câmbio flutuante para sua moeda, lembra o comentarista.

"Desde então, continua Wolf, o banco central reduziu as taxas de juros de 45% para 8,75% em 2009. A estabilidade foi escorada pelas reservas em moeda estrangeira acumuladas, que alcançaram em fevereiro os US$ 235 bilhões frente aos US$ 33 bilhões em janeiro de 1999".

Mas "estabilidade não é igual ao dinamismo", escreve o jornalista econômico, quem assinala que o crescimento do Brasil foi de só 2,9% anual entre 1995 e 2009.

"Como a contração sofrida em 2009 foi modesta, de só 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê para o período 2010-2013 um crescimento de 4,5%, muito abaixo dos previstos para China e Índia".


Outra deficiência do Brasil é a desigualdade de renda entre os cidadãos: conforme o Banco Mundial, a distribuição da renda é uma das mais desiguais do planeta, assinala também Wolf, por isso que embora "se acelerasse o crescimento, a maior parte dos lucros iria provavelmente para as mãos da parcela mais rica da população".

Em 1980, o PIB da China era de só 7% do brasileiro, enquanto o da Índia representava 11%, mas em 2009 chegava a 63% e 28%, respectivamente.

Entre 1995 e 2009, assinala o comentarista do FT, o Brasil só aumentou em 22% sua renda per capita, enquanto a Índia o fez em 100% e a China, em 226%.

Resultado de tudo isso, diz Wolf, é que a parte correspondente ao Brasil da produção econômica mundial, por paridade de poder de compra, se reduziu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009, enquanto a da China passou de 5,7% para 12,5% e a Índia de 3,2% para 5,1%.

"O Brasil, escreve Wolf, é um exemplo paradigmático de um país que caiu no que os economistas chamam de armadilha da renda média".

Wolf acredita, no entanto, que o país pode melhorar no futuro, para isso tem de superar "enormes desvantagens estruturais", das quais a mais importante é sua "baixíssima taxa de poupança": 17% do PIB frente a 38% na Índia e 54% na China.

Se o Brasil não conseguir aumentar sua taxa de poupança até 30%, é pouco provável que alcance um crescimento rápido e sustentado de seu nível de vida, explica.

O comentarista assinala que só 45% das exportações de mercadorias brasileiras correspondiam em 2008 a produtos manufaturados frente a 63% no caso da Índia e 93% no da China.

"A industrialização será difícil de conseguir por meio do comércio", escreve Wolf, de acordo com o qual o Brasil sofreu também da "apreciação do real, estimada em 156%, entre outubro de 2002 e abril deste ano.

"Além disso, a relação entre o comércio e o PIB era no caso brasileiro de 28% contra 51% na Índia e 65% na China, e com a apreciação do real é pouco provável que isso aconteça, diz Wolf, se não houver uma maior abertura da economia ao comércio (internacional)".


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