Para estimular a economia, o governo da presidente Dilma Rousseff reagiu com uma série de incentivos (Lailson Santos/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2012 às 14h39.
São Paulo - A série de medidas do governo para estimular o crescimento da economia vai dar frutos ao longo do ano, permitindo que o Brasil alcance o ritmo dos vizinhos latino-americanos ao custo de uma inflação mais alta, mostrou pesquisa da Reuters publicada nesta quinta-feira.
Após uma alta de apenas 2,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, a economia deve ganhar fôlego com base no mercado de trabalho praticamente em pleno emprego para crescer 3,2 por cento em 2012 e 4,3 por cento em 2013, de acordo com a mediana das previsões de 35 analistas consultados.
No levantamento anterior, de janeiro, o mercado previa expansão de 3,3 por cento neste ano e de 4,5 por cento em 2013.
O México deve crescer 3,5 por cento este ano e no próximo, apoiado na recuperação da economia dos Estados Unidos, e a Colômbia, impulsionada pela forte demanda local, deve ir além de seus vizinhos para crescer 5 por cento em cada ano.
"A dúvida parece mais sobre o ritmo dessa retomada, não quanto à retomada em si", disse o economista-chefe do J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall. "Já há uma recuperação no (primeiro) trimestre. Mas não é uma recuperação exuberante", acrescentou ele, sem informar qual a projeção para este período.
O Brasil tem flertado com a recessão desde a metade do ano passado por causa da fraqueza da indústria e da diminuição das exportações líquidas em meio ao temor, agora amenizado, de uma nova crise global de crédito por causa dos problemas de dívida na zona do euro.
Para estimular a economia, o governo da presidente Dilma Rousseff reagiu com uma série de cortes de juros básicos, reduções de impostos, crédito subsidiado e medidas para frear a alta do real. Uma das ações mais recentes foi o pacote de mais de 60 bilhões de reais, entre desonerações de folha de pagamento e novos aportes ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na quarta à noite, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic pela sexta vez seguida para 9 por cento ao ano, pouco acima da mínima recorde histórico de 8,75 por cento.
O crescimento econômico na América Latina, embora menor que em países da Ásia, continua mais rápido do que na maior parte dos países desenvolvidos, segundo outras pesquisas da Reuters.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê expansão de 3,7 por cento este ano e de 4,1 por cento em 2013 da economia latino-americana, informou na terça-feira que a região tem perspectivas "promissoras" na medida em que as autoridades locais têm contrabalançado os riscos vindos da Europa com os efeitos da entrada excessiva de capitais.
Assim como o FMI, 16 de 28 economistas na pesquisa da Reuters que opinaram sobre os maiores riscos à América Latina mencionaram a entrada de capitais, que pode valorizar as moedas locais e superaquecer as economias.
Outros riscos mencionados por pelo menos 10 dos analistas foram volatilidade do preço das commodities, protecionismo e inflação -que, inclusive, deve voltar a subir no Brasil como efeito colateral da estratégia pró-crescimento.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses deve subir 5,3 por cento no final de 2012 e 5,6 por cento em 2013, acima do centro da meta do governo de 4,5 por cento e de outros países da região, segundo a pesquisa da Reuters.
Os preços ao consumidor devem avançar 3,8 por cento no México, 3,5 por cento no Chile e 3,4 por cento na Colômbia no fim deste ano, de acordo com a pesquisa. A exceção é a Argentina, onde a inflação supera 20 por cento de acordo com estimativas privadas.
A alta da inflação, no entanto, não deve provocar um aumento dos juros no Brasil antes do último trimestre de 2013, mostrou a pesquisa, feita dias antes da última reunião do Copom. Analistas acreditam que o BC tolerará uma inflação ligeiramente acima da média para manter o crescimento por mais tempo.
"A inflação pode ser um risco para o Brasil, mas é um risco que está diminuindo," disse José Francisco de Lima Gonçalvez, economista-chefe do Banco Fator.