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Brasil é beneficiado por sua indolência, afirma The Economist

Peso do governo no setor financeiro, um dos sinais das reformas não realizadas pelo país, agora é visto como um ponto positivo na crise

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2009 às 16h21.

Há algum tempo, qualquer lista de fatores responsáveis pelo atraso da economia brasileira incluiria a grande influencia do governo brasileiro no setor financeiro, segundo a revista britânica The Economist. Mas, agora, esse mesmo fator transformou-se em um elemento positivo para que o país enfrente a crise mundial que já arrasta os países desenvolvidos para a recessão.

"Outros países tentam aprender como gerir bancos e direcionar o crédito para onde os políticos pensam que é necessário. Isso é algo que o Brasil fez, mesmo quando estava fora de moda", afirma a revista, em uma reportagem com o sugestivo título de "Reaping the rewards of indolence" (algo como "Colhendo os frutos da indolência"). "É um sinal dos tempos que uma recente nota do Goldman Sachs sobre o Brasil listou o envolvimento do Estado nos bancos como uma vantagem", diz a Economist.

A revista lembra que o governo federal controla o Banco do Brasil, um dos maiores do país e, recentemente, envolvido em fortes movimentos de aquisição de outras instituições, como a paulista Nossa Caixa. A União também controla a Caixa Econômica Federal - líder em crédito imobiliário -, e o BNDES, banco de desenvolvimento que vem incentivando a expansão de alguns setores a juros baixos. "Sob circunstâncias que mudaram, essas lamentáveis políticas repentinamente parecem perspicazes, dada a freada global, um inesperado matiz ao Brasil".

Outra fraqueza que se transformou em vantagem durante a crise é a severa lista de exigências para a liberação do crédito no Brasil, que incluem garantias, entradas e altas taxas de juros que elevam o custo do financiamento. Segundo a publicação, isso desencoraja consumidores e empresas a assumirem os "selvagens riscos" que quebraram vários bancos na Europa e na América. "Em vez disso, o crédito no Brasil está suavemente decaindo, e não em colapso".

Dívida menos pesada

Para a Economist, a redução do peso da dívida pública, nos últimos anos, é o principal fator de resistência do Brasil neste momento. A dívida está próxima de 40% do PIB. O governo vem trocando os títulos atrelados ao dólar por papéis referenciados em reais, de modo que a disparada do câmbio não surtiu um impacto profundo sobre o perfil dos compromissos. Além disso, apesar das flutuações, as reservas brasileiras estão ao redor de 200 bilhões de dólares - suficiente, por ora, para defender o real. O déficit em conta corrente é pequeno.

O mais importante, segundo a Economist, é que a inflação permanece sob controle. Isso vem permitindo ao Banco Central reduzir a taxa básica de juros, o que barateia os custos da dívida pública. "Esta é a primeira vez que o Brasil é capaz de adotar uma política monetária anticíclica", afirma a revista.

Em ano pré-eleitoral, a publicação mostra-se preocupada com a capacidade de o governo manter o equilíbrio das contas. Com a campanha presidencial veladamente iniciada, o governo federal tende a aumentar os gastos para inaugurar obras e agradar potenciais aliados. A revista cita o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, para lembrar que, tradicionalmente, o Brasil eleva os gastos públicos em anos pré-eleitorais.

Efeitos menores

Em épocas normais, isso poderia deixar os detentores de títulos públicos alarmados, já que o superávit primário é a garantia de que o governo honrará seus compromissos. Mas, em meio à crise atual, em que outros países estão tão ou mais comprometidos, o Brasil não é a a maior dor-de-cabeça dos investidores.

Para a revista, o país não escapará ileso à crise, mas sentirá impactos bem menores do que em outras ocasiões de turbulência mundial. "Em comparação com o passado recente do Brasil, e com o que está acontecendo com outros países, a economia está bem fundamentada", afirma. A publicação cita as projeções do FMI. O Fundo aposta que somente os países em desenvolvido da Ásia - mais pobres que o Brasil -, da África e do Oriente Médio terão desempenho melhor que o Brasil em 2009. "Dada a tendência anterior do Brasil sofrer um ataque cardíaco sempre que as outras economias ficavam estressadas, isso é impressionante", diz.

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