Economia

Governo popular pode sinalizar futura crise em emergentes

Alta na popularidade do governo em países emergentes acende sinal amarelo para futura eclosão de crise financeira, diz estudo da VoxEU


	Balão na Turquia, onde a crise em 2000 foi precedida por um aumento forte na popularidade do governo
 (GettyImages)

Balão na Turquia, onde a crise em 2000 foi precedida por um aumento forte na popularidade do governo (GettyImages)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 8 de setembro de 2014 às 17h04.

São Paulo - Uma das coisas mais difíceis no mundo da economia é prever a eclosão de uma crise financeira.

Especialistas costumam olhar para números de expansão do crédito ou preço de ativos financeiros, mas um novo trabalho aponta para outro fator: a popularidade de um governo.

"Booms políticos, definidos como um aumento da popularidade de um governo, precedem crises financeiras em mercados emergentes. A opinião pública em relação ao governo atual melhora significativamente na escalada para a quebra financeira de um país", diz o estudo publicado na VoxEU por Helios Herrera, do HEC Montreal, Guillermo L. Ordoñez, da Universidade da Pennsylvania, e Cristoph Trebesch, da Universidade de Munique.

Se o processo vem junto com um boom de crédito, a tese fica ainda mais forte: "um mercado emergente que experimentou um boom político e de crédito ao mesmo tempo tem muito mais chance de sofrer com uma crise do que um país que experimentou apenas um deles".

Curiosamente, a explicação não vale para países desenvolvidos, onde ocorre o contrário: uma queda na popularidade nos 5 anos antes da crise estourar.

Em média, os 5 anos pré-crise registram aumento de 53% na popularidade do governo em países emergentes e uma queda de 21,5% em períodos equivalentes no caso de mercados avançados. O Brasil não está entre os países analisados.

Razões

Os autores argumentam que isso ocorre porque uma regulação mais forte tem alto custo político. Em uma situação normal, cabe a um governo avaliar se a expansão econômica é saudável e sustentável, para aplicar remédios preventivos caso o rumo precise ser corrigido.

Mas isso pode revelar ao público que a situação não é tão boa quanto parece, enquanto simplesmente surfar no crescimento e popularidade rende dividendos pelo menos no curto prazo.

Os autores também encontraram nos países emergentes uma correlação negativa entre regulação financeira e popularidade do governo, na qual um afrouxamento de regras favorece aqueles no poder: "Nestes mercados, a maior parte das crises foi precedida por um afrouxamento regulatório (não um aperto), sugerindo que essa era uma das razões por trás de crises"

A tese é que os países em desenvolvimento são mais suscetíveis a esse processo porque seus políticos costumam ter, em média, uma popularidade menor e menos confiança da população do que os políticos de países desenvolvidos.

Isso torna a opinião pública mais sensível a melhorias de cenário e aumenta o incentivo para que os políticos de países emergentes que estão no poder aproveitem booms econômicos a qualquer custo para se destacar de seus concorrentes.

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