Economia

Efeito Mad Men: Kentucky tem mais barris do que gente

Cultura do drinque, produtores artesanais e novos sabores fazem uísque ganhar espaço; a economia do Kentucky e do Tennessee agradecem, mas pode haver escassez

Barris de bourbon na destilaria Woodford em Versailles, no Kentucky (Ken Thomas/Wikimedia Commons)

Barris de bourbon na destilaria Woodford em Versailles, no Kentucky (Ken Thomas/Wikimedia Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de maio de 2015 às 13h59.

São Paulo - Em 2013, o estado do Kentucky tinha mais barris de bourbon envelhecendo (5,3 milhões) do que residentes (4,3 milhões).

A economia agradece: a destilaria é o segundo principal setor de manufatura do estado, respondendo por mais de 15 mil empregos diretos com salário médio anual de 91 mil dólares. Em 2013, o setor contribuiu com US$ 3 bilhões para o PIB, aumento de 67% em 2 anos.

Os dados são da Associação de Destiladores do Kentucky e do Conselho de Destilados dos Estados Unidos (DISCUS) e foram compilados em uma nota da consultoria Convergex assinada pelo estrategista Nicholas Colas.

A concentração geográfica não é por acaso. O Congresso americano e acordos comerciais definem que bourbon de verdade, só se for americano, e o Kentucky é responsável por 95% da oferta mundial.

Vale lembrar: todo bourbon é uísque, mas nem todo uísque é bourbon - este exige pelo menos 51% de milho na composição e envelhecimento em barris novos de carvalho branco.

A falta deste recurso, aliás, tem sido o maior freio para a expansão. Considerando uma demanda em alta e os muitos anos que separam o início da produção e o consumo, é possível que haja escassez de produtos de qualidade em um futuro próximo.

Bourbon e Uísque

Somando o bourbon com o uísque do Tennessee (lar do Jack Daniel's), a receita da economia americana com este tipo de bebida cresceu 9,6% só em 2014 e 46,7% nos últimos 5 anos, atingindo US$ 2,7 bilhões.

2014 foi o quinto ano seguido em que o uísque roubou participação de mercado da cerveja nos EUA. O crescimento é puxado por marcas mais caras, que mais que dobraram a receita no período.

Tudo isso é prova de que apesar de alguns sinais negativos, a economia americana está vivendo um bom momento: "A demanda robusta por bourbon, especialmente nas marcas de alta qualidade, sinaliza um nível saudável de renda disponível entre consumidores americanos, que estão dispensando cerveja barata em favor de bebidas mais caras", diz a nota.

E mesmo a alta do dólar em relação às outras moedas não segurou as exportações, que atingiram um recorde de US$ 1,02 bilhão. Canadá, Reino Unido, Alemanha, Austrália e França são os maiores mercados. 

Os fabricantes atribuem o sucesso a uma nova "cultura" de drinques (o "efeito Mad Men"), melhora na qualidade e a entrada no mercado de produtores artesanais (há hoje 7 vezes mais destilarias pequenas do que em 2010). 

O consumidor médio é o homem entre 28 e 45 anos, mas a chegada dos uísques com sabor (como o Jack Daniel's Honey) tem atraído mulheres e jovens adultos. Os produtores afirmam que a bebida deixou de ser vista como o "drinque do vovô".

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