Economia

Bolsonaro pode surfar em onda de alta do petróleo

Produção da Petrobras pode subir até dois dígitos em 2019 e exportações devem crescer justamente num momento de alta do preço do produto

Reviravolta do petróleo dá ao governo mais do que dinheiro (Germano Lüders/Exame)

Reviravolta do petróleo dá ao governo mais do que dinheiro (Germano Lüders/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 18h19.

Última atualização em 29 de outubro de 2018 às 19h37.

Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro assumirá o posto na hora certa para colher os frutos de uma onda positiva do petróleo.

Após uma década de produção praticamente estagnada, os megacampos do Brasil estão prestes a gerar uma dupla boa notícia: as exportações devem crescer justamente num momento de alta do preço do petróleo, com o Brent confortavelmente acima de US$ 70 o barril.

Isso significa aumento de receitas num país que sofre com déficit fiscal, além de aquecimento de uma indústria chave da economia, disse Decio Oddone, diretor geral da ANP.

A reviravolta do petróleo dá ao governo mais do que apenas dinheiro - promete reativar a maré de sorte da Petrobras, empresa que historicamente é fonte de orgulho para brasileiros, mas que passou os últimos anos atolada em escândalos.

Como são necessários anos para que um campo de águas profundas comece a produzir, e é provável que Bolsonaro obtenha todo o crédito de decisões de investimento tomadas no passado.

"Muitos brasileiros podem ver isso como o efeito de uma política ou postura que ele implementou e não necessariamente a continuação das políticas existentes", disse Roberta Braga, diretora associada com foco em América Latina para o Atlantic Council, think tank sediado em Washington. "Se isso der resultados, a imagem dele vai melhor significativamente."

O presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, disse na semana passada que a produção aumentará “espetacularmente” em 2019 e que a empresa está reabrindo um escritório em Cingapura para ajudar a impulsionar o aumento das exportações.

A produção da Petrobras deverá subir 9 por cento em 2019, de 2 milhões de barris por dia para 2,4 milhões, segundo o UBS Group. O Morgan Stanley espera um aumento ainda maior, de 12%.

Embora a Petrobras ainda não tenha anunciado uma meta oficial para 2019, um recorde de oito plataformas começaram a ser instaladas neste ano e vão gradualmente aumentar a produção ao longo de 2019. Juntas, as plataformas flutuantes têm o potencial de quase dobrar a capacidade de produção de petróleo da Petrobras.

O aumento se dá graças às grandes reservas de petróleo encontradas há cerca de uma década em águas profundas do Atlântico. As chamadas reservas do pré-sal, que ganham este nome por ficarem abaixo de uma camada de sal, agora são responsáveis ​​por mais da metade da produção do país e estão atraindo investimento crescente de grandes petroleiras.

Essa região é a principal fonte de valor para a Petrobras, com produtividade incomparável e exploração de baixo risco, disseram os analistas do Morgan Stanley Bruno Montanari e Guilherme Levy em um relatório de 23 de outubro.

Mesmo que a produção tenha sido estável para declinante em 2018, a combinação de preços mais altos do petróleo e variação do câmbio já estão gerando lucros inesperados. A Petrobras pagou 28 por cento a mais em impostos e royalties no primeiro semestre de 2018, ou 75 bilhões de reais, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A empresa divulgará o balanço do terceiro trimestre em 6 de novembro.

A Petrobras também voltou a pagar dividendos e o segundo trimestre foi o mais rentável desde 2011. Isso contrasta fortemente com as baixas contábeis de bilhões de dólares registradas após investigações da Lava Jato.

Uma fonte de incerteza é quem vai liderar a Petrobras sob Bolsonaro, que toma posse no dia 1º de janeiro. Ele não nomeou sua equipe de energia, que inclui o ministro das Minas e Energia, ou possíveis recomendações para o conselho e a diretoria da Petrobras.

“Passada a eleição, as atenções se voltam, agora, para a fase de transição de governo e a definição de nomes para a futura equipe ministerial", disse o analista do Bradesco, Fernando Barbosa, em nota aos clientes na segunda-feira.

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