Economia

Bolsonaro usa critérios errados e diz que pesquisa do desemprego é "farsa"

Ao contrário do que Bolsonaro afirmou, quem recebe Bolsa Família ou seguro-desemprego não é classificado como empregado no Brasil

Jair Bolsonaro: Em setembro, o IBGE registrou 12,5 milhões de desocupados, um recuo de 3,7% em relação à pesquisa anterior (Sergio Lima/Bloomberg/Getty Images)

Jair Bolsonaro: Em setembro, o IBGE registrou 12,5 milhões de desocupados, um recuo de 3,7% em relação à pesquisa anterior (Sergio Lima/Bloomberg/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de novembro de 2018 às 10h09.

Última atualização em 6 de novembro de 2018 às 11h15.

Rio de Janeiro - O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi alvo de crítica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para quem a pesquisa relativa ao mercado de trabalho "é uma farsa". "Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil", disse, ao conceder entrevista à TV Bandeirantes no início da noite de segunda-feira, 5. Bolsonaro afirmou ainda que gostaria que o instituto de pesquisa divulgasse os dados de emprego e não de desocupação, como é feito atualmente. Para especialistas ouvidos pelo Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) e pelo jornal O Estado de S. Paulo, o presidente eleito demonstrou desconhecimento do tema.

"Quem recebe Bolsa Família é tido como empregado. Quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado. Quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Temos de ter uma taxa não de desempregados, e sim de empregados. Não tem dificuldade para ter isso aí e mostrar a realidade para o Brasil", afirmou, em resposta a uma pergunta sobre os últimos dados do IBGE referentes à contínua queda do desemprego. Em setembro, o IBGE registrou 12,5 milhões de desocupados, um recuo de 3,7% em relação à pesquisa anterior.

As estatísticas relativas ao mercado de trabalho são divulgadas mensalmente dentro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). As informações são coletadas em 210 mil residências, em 3,5 mil municípios de todas as regiões do País. A série histórica foi iniciada em janeiro de 2012, em substituição à Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que não era tão abrangente e não atendia às últimas recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Ao contrário do que Bolsonaro afirmou, as pessoas beneficiadas pelo programa social Bolsa Família não são inseridas na Pnad Contínua como empregadas. A qualificação na estatística depende da atividade que estejam exercendo. Se realizarem algum trabalho, ainda que não remunerado, podem ser consideradas ocupadas. Mas podem também entrar na conta de força de trabalho subutilizada ou mesmo não ser inserida na população economicamente ativa.

Da mesma forma, não são considerados empregados os que buscam um reposicionamento no mercado há mais de um ano ou os que recebem o seguro do governo, ao contrário do que afirmou o presidente eleito. "Evidentemente, Bolsonaro estava mal informado", disse o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do IBGE de 1994 a 1998. Ele destacou, porém, que o Instituto possui um conselho técnico que pode analisar mudanças na divulgação dos dados, apesar das metodologias utilizadas seguirem definições da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Comissão de Estatística da ONU.

O IBGE disse apenas que não recebeu qualquer notificação do governo reivindicando mudanças na metodologia.

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