Economia

Bolsonaro admite discussão sobre furar teto de gastos e critica mercado

Durante live, o presidente também afirmou que ainda há a possibilidade de "reconciliação" com o PSL

Bolsonaro: presidente cogita voltar para o PSL ante dificuldade em criar novo partido (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro: presidente cogita voltar para o PSL ante dificuldade em criar novo partido (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 13 de agosto de 2020 às 22h01.

Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 22h16.

O presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta quinta-feira discussões internas no governo sobre furar o teto de gastos públicos, acrescentando que a intenção seria arranjar recursos para obras no Nordeste, e ainda fez críticas ao mercado financeiro, cobrando "patriotismo".

"A ideia de furar teto existe, é só um debate, qual é o problema?", disse o presidente.

A declaração, feita em transmissão ao vivo pelas redes sociais, ocorreu um dia após Bolsonaro ter participado de reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sobre a política econômica, afirmando após o encontro respeitar o teto de gastos e que quer responsabilidade fiscal.

Apesar de reconhecer as discussões por membros do governo, o presidente destacou que a intenção de furar o teto não foi levada adiante, e questionou ainda a reação do mercado financeiro ao que chamou de "vazamento" de informações.

"Foi uma discussão de pauta... que resolvemos não levar adiante. Mas alguém vazou e todo mundo apanhou, eu apanhei nessa questão. O mercado reage, dólar sobe, a bolsa cai. Mas o mercado tem de dar um tempinho também, né? Dar um tempinho também, um pouquinho de patriotismo não faz mal a ele, não ficar aí aceitando essa pilha", afirmou.

Bolsonaro disse que, em razão da pandemia, a emenda constitucional que permitiu gastos extraordinários —batizada de PEC da Guerra — autorizou o governo a furar o teto de gastos em 700 bilhões de reais.

O presidente revelou que foi questionado por membros do governo sobre furar o teto em mais 20 bilhões de reais, e detalhou que a intenção de "arranjar" esses recursos seria para obras e ações no Nordeste, citando a revitalização do Rio São Francisco.

Bolsonaro criticou aqueles que disseram que já haveria "tudo articulado" para se furar o teto. Sem citar o nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ele cutucou-o indiretamente ao afirmar na transmissão que disseram no "outro Poder" que não vão aceitar jeitinho para driblar a emenda constitucional que limita o crescimento das despesas públicas.

Maia e Guedes têm sido dois dos principais defensores da manutenção da responsabilidade fiscal dos gastos públicos, admitindo apenas as despesas extraordinárias decorrentes da pandemia do novo coronavírus.

O presidente disse que a questão foi discutida porque todo mundo quer mais recursos e ele dá liberdade para que o debate seja realizado. Ele contou que em torno de 95% dos recursos do Orçamento público brasileiro estão comprometido e a "briga" por recursos é salutar, lembrando que no próximo ano vai haver problemas porque a arrecadação vai cair.

Bolsonaro afirmou que a reunião da véspera foi chamada com a intenção de acertar os ponteiros, depois que dois secretários do Ministério da Economia deixaram o governo nesta semana. Segundo ele, o encontro serviu para acalmar o mercado e foi um grande passo, apesar de afirmar que "plenamente satisfeito a gente nunca fica."

PSL

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que foi convidado por três partidos para se filiar e reconheceu que ainda há a possibilidade de "reconciliação" com o PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018, mas do qual se desligou após divergências com a cúpula da legenda.

Na transmissão, Bolsonaro disse que um dos convites partiu do PTB, do ex-deputado federal Roberto Jefferson.

O presidente admitiu que não pode colocar todas as suas fichas apenas no Aliança — legenda que tenta criar desde que saiu do PSL após uma briga com o presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE) — e justificou isso diante da dificuldade de se formar um partido no Brasil.

Bolsonaro disse que a burocracia é enorme e a pandemia atrasou os planos para se criar o Aliança. Citou, ainda, que a formalização do partido passa pelo Tribunal Superior Eleitoral, insinuando que poderia haver resistência de alguns ministros da Corte à nova agremiação partidária.

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