Economia

Bolsa Família é coisa pequena que faz diferença, diz Levy

Ministro elogia programa dizendo que a despesa do programa é pequena, comparada a seu efeito sobre a economia


	Bolsa Família: "Nós temos de ser muito claros sobre o Bolsa Família. É uma coisa que não custa muito dinheiro", diz ministro da Fazenda
 (Ana Nascimento/Ministério do Desenvolvimento Social)

Bolsa Família: "Nós temos de ser muito claros sobre o Bolsa Família. É uma coisa que não custa muito dinheiro", diz ministro da Fazenda (Ana Nascimento/Ministério do Desenvolvimento Social)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2015 às 16h03.

Marrakesh - Em tempos de corte de gastos e busca frenética por novas receitas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez um afago no principal programa social do governo federal.

Para Levy, a despesa com o Bolsa Família é "pequena" e "faz muita diferença". O elogio a uma das ações mais importantes para o Palácio do Planalto e para o PT acontece em um momento em que o partido da presidente Dilma Rousseff ameniza críticas ao ministro. Levy nega que tenha mudado de discurso. "Eu não mudei, continuo (falando) a mesma coisa."

"Nós temos de ser muito claros sobre o Bolsa Família. É uma coisa que não custa muito dinheiro. Aumentou um pouco mais nos últimos anos, mas mesmo agora é 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB)", disse Levy durante painel especial em evento sobre cooperação atlântica realizado no Marrocos. O argumento do ministro é que o gasto é pequeno se comparado ao efeito positivo gerado por esse dinheiro na economia.

Questionado por uma pessoa da plateia sobre o futuro do programa social, o ministro disse que o Bolsa Família "traz milhões de pessoas para um diferente passo na vida" e que permite que os beneficiários "participem da economia de mercado, especialmente no interior". "É extremamente valioso. É pequena coisa que faz grande diferença. No geral, esse custo não é um problema", disse. O ministro reconhece que é preciso apenas monitorar esse gasto. Ele diz que outras despesas, como a aposentadoria rural, podem gerar economia muito maior ao governo.

Ajuste fiscal

O ajuste fiscal que tem corte de gastos e aumento de impostos para arrumar as contas públicas voltou a ser defendido por Levy. O ministro reconhece que a fórmula pode ser "muito desagradável" pelo aumento de tributos, mas lembra que outros Países, como o Reino Unido, adotaram receituário idêntico em momentos de crise. "Temos de consertar nosso fiscal. Esse é o primeiro e essencial passo", disse.

Durante painel especial que recebeu o ministro brasileiro como convidado especial, Levy voltou a defender a arrumação das contas públicas com o corte de gastos e o aumento da arrecadação. "Temos de melhorar a perspectiva fiscal no longo prazo e criar novos impostos. É muito desagradável, mas é o que outros Países fizeram", disse, ao lembrar que o governo inglês aumentou o imposto sobre consumo para reagir à crise. "E é isso que estamos fazendo, ao mesmo tempo em que estamos tentando vender ativos".

Parte desse processo de mudanças das contas públicas, lembrou, precisa passar pelo Congresso. "O Brasil é uma democracia e, às vezes, você tem de convencer o Congresso. Nesse trabalho, eu percebi que nem todo mundo no Congresso pensa em economia todo dia e a toda hora", disse.

Crédito agrícola

O ministro também defendeu que o crédito à agricultura é um dos elementos que explicam o sucesso do Brasil no agronegócio nos últimos anos. Em debate sobre a economia verde no Marrocos, o ministro que tenta executar um profundo ajuste fiscal reconheceu que o crédito agrícola "às vezes é caro (para os cofres públicos), mas é necessário".

Ao ser questionado sobre a experiência brasileira e o sucesso do País no agronegócio, Levy respondeu que o governo criou instituições que apoiam toda a cadeia produtiva e o crédito e a inovação são exemplos. "No Brasil, o sucesso também é ligado à oferta de crédito. Eles são, às vezes, caros (para os cofres públicos), mas são necessários", disse. A Embrapa foi citada como exemplo de inovação no setor.

Durante a palestra do evento "The Atlantic Dialogues", o ministro explicou que o apoio é dado a todas as etapas de produção. "Isso começa com o produto que planta milho, vai crescendo até chegar na grande empresa agroindustrial", disse, ao citar como exemplo a cadeia que produz proteína no País.

Plateia

Durante o painel que debateu a economia verde na África, um dos presentes perguntou por que o debate era feito por quatro homens - entre eles, Levy - sendo que são as mulheres que lideram a produção agrícola familiar no continente africano. Minutos depois, Levy respondeu a algumas questões e, logo no início da fala, lembrou que o Brasil tem uma ministra da Agricultura, a empresária goiana Kátia Abreu. Quando o ministro fez menção à colega do ministério, um dos presentes na plateia gritou "ruralista" em português.

Pré-sal

A perspectiva de flexibilização das regras de exploração do pré-sal foi reconhecida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A regra que prevê presença obrigatória da Petrobras pode ser alterada para dar mais "liberdade", afirmou o ministro. "Nós podemos rever isso, podemos dar mais liberdade para isso", disse ao ser questionado sobre a presença obrigatória Petrobras nos campos de petróleo.

Em evento sobre a colaboração atlântica realizada no Marrocos, Levy ressaltou que as grandes petroleiras internacionais já estão nos campos brasileiros de exploração do pré-sal, mas que, mesmo assim, o tema pode ser alvo de eventual "adaptação". "Vamos deixar claro: o pré-sal está sendo feito por vários outros parceiros. A Shell está lá. No campo de Libra, você tem a Total. Estão os chineses", enumerou durante evento "The Atlantic Dialogues". "A Petrobras não está fazendo tudo sozinha. A Exxon está lá. A Chevron também", completou.

Levy também elogiou o trabalho da nova direção da Petrobras e o plano de venda de alguns ativos. "Eles estão fazendo a coisa certa e estão focando no negócio principal", disse, ao dar como exemplo a venda de gasodutos pela estatal. "Com isso, você pode atrair mais empresas para investir", disse.

Livre comércio

Durante o painel, um dos presentes o questionou sobre o papel brasileiro no comércio mundial e o ministro respondeu que o Mercosul deve entregar em novembro a proposta de acordo com a União Europeia. "O Mercosul, inclusive Argentina, vai apresentar proposta de comércio à UE em novembro", disse, ao lembrar que o Brasil tem avançado em outros acordos como com o México e a Colômbia.

Após deixar a palestra, Levy foi questionado se teria mudado o discurso em meio ao movimento do Partido dos Trabalhadores de amenizar as críticas às medidas austeras do ministro da Fazenda. "Eu não mudei, continuo (falando) a mesma coisa", disse Levy. "Eu tenho chamado atenção que a gente tem de ver a qualidade do gasto público. Tenho falado da aposentadoria rural, e a presidente fez um movimento com o seguro defeso (programa de benefícios para os pescadores artesanais). O Bolsa Família é importante e exige monitoramento permanente que tem sido feito". Levy participou do evento "The Atlantic Dialogues" na cidade marroquina de Marrakesh.

Acompanhe tudo sobre:Bolsa famíliaJoaquim LevyMinistério da Fazenda

Mais de Economia

Governo reduz novamente previsão de economia de pente-fino no INSS em 2024

Lula encomenda ao BNDES plano para reestruturação de estatais com foco em deficitárias

Pacheco afirma que corte de gastos será discutido logo após Reforma Tributária

Haddad: reação do governo aos comentários do CEO global do Carrefour é “justificada”