Economia

BofA: Banco Central fixou piso de R$ 1,80 para câmbio

A opinião é do chefe de economia e estratégia para Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker

Os leilões de compra da moeda americana realizados pelo BC deram margem à interpretação de que o governo fará tudo ao seu alcance para não deixar o dólar cair abaixo de R$ 1,80 (Alex Wong/Getty Images)

Os leilões de compra da moeda americana realizados pelo BC deram margem à interpretação de que o governo fará tudo ao seu alcance para não deixar o dólar cair abaixo de R$ 1,80 (Alex Wong/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2012 às 09h18.

Montevideu - O Banco Central estabeleceu para o mercado, depois das intervenções na semana passada, um novo piso para a taxa de câmbio: R$ 1,80 por dólar. A opinião é do chefe de economia e estratégia para Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker. "Há até algumas semanas, eu achava que o governo estava satisfeito com o câmbio a R$ 1,70", disse Beker, em entrevista à Agência Estado, durante um dos encontros paralelos na reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ontem, em Montevidéu. "Mas de acordo com o padrão de intervenção recente do BC esse número está próximo de R$ 1,80. Aliás, (para o BC) um pouco acima de R$ 1,80 é bom, qualquer coisa abaixo não é aceitável, essa é a minha impressão."

Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já ter deixado clara uma banda de flutuação aceitável para o real entre R$ 1,70 e R$ 1,90, os leilões de compra da moeda americana realizados pelo BC na quinta e sexta-feira passadas deram margem à interpretação de que o governo fará tudo ao seu alcance para não deixar o dólar cair abaixo de R$ 1,80. "O mercado vai ficar com medo de testar esse piso porque tanto o Mantega quanto o BC estão mostrando os dentes" para defender esse piso, ressaltou Beker.

No dia 12, o governo adotou mais uma medida na bateria recente de regras para desestimular a entrada de capital: elevou para até cinco anos o prazo mínimo para a isenção da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas liquidações de operações de câmbio contratadas a partir daquele dia.

Além disso, o BC, por sua vez, parece ter adotado também um novo padrão de intervenção no câmbio para desestimular a entrada do capital que visa apenas tirar vantagem do diferencial de juros entre a Selic e as taxas do mercado internacional, nas chamadas operações de "carry trade", disse Beker. "Ao fazer intervenções inesperadas no mercado de câmbio, em termos de frequência, de magnitude e de instrumentos (usando os swaps), como aconteceu na semana passada, o BC gera mais volatilidade no câmbio", explicou Beker. "E volatilidade reduz os ganhos das operações de carry trade, outra forma de reduzir os incentivos para a entrada desse tipo de capital."

Em relação à última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), Beker considera que o piso para a redução dos juros básicos, ou a taxa Selic, de 9%, como foi interpretado pelo mercado, também não é um piso imutável. Para ele, os riscos externos terão um peso grande na decisão do BC de ater-se a esse piso ou ampliar os cortes de juros para abaixo de 9%.

Segundo Beker, o maior risco externo é uma desaceleração maior da economia dos Estados Unidos. Os economistas do banco projetam uma desaceleração do PIB americano do patamar de 2% a 2,5% no primeiro semestre deste ano para 1% a 1,5%. "Se isso acontecer, a taxa Selic poderia cair até 8,5%", afirmou. Por enquanto, Beker mantém aposta de juros a 9% em acordo com o cenário base traçado na ata do Copom. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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