Economia

BNDES quer pagar dívida de R$ 180 bi com o governo com ações

A estratégia envolve uma grande negociação com a troca de ativos, inclusive ações de empresas públicas, como a Petrobras

O principal temor do BNDES é ficar sem recursos suficientes para responder à demanda de crédito que pode crescer com a retomada da economia (Marcelo Sayão/VEJA)

O principal temor do BNDES é ficar sem recursos suficientes para responder à demanda de crédito que pode crescer com a retomada da economia (Marcelo Sayão/VEJA)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de setembro de 2017 às 09h39.

Brasília - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda uma alternativa à devolução antecipada de R$ 180 bilhões em empréstimos concedidos pelo Tesouro Nacional ao banco.

A estratégia envolve uma grande negociação com a troca de ativos, inclusive ações de empresas públicas, como a Petrobrás, que estão na carteira do BNDES, segundo apurou o 'Estadão/Broadcast'. A instituição ainda vai discutir essa possibilidade com o Tribunal de Contas da União (TCU).

A medida em avaliação pelo BNDES é uma reação ao pedido oficial do governo para que o banco devolva de forma antecipada R$ 180 bilhões entre 2017 e 2018.

Nos últimos anos, o Tesouro repassou recursos bilionários ao BNDES como forma de engordar o caixa do banco e ampliar os financiamentos. Com a crise e a mudança de governo, no ano passado, a orientação mudou.

Em dezembro, o BNDES já devolveu R$ 100 bilhões. A dívida atual com o Tesouro, mesmo assim, ainda supera os R$ 450 bilhões.

A estratégia em estudo agora pelo BNDES é mais um sinal da forte resistência do banco de fomento em aceitar as condições, o cronograma e o valor pretendidos pela União.

O principal temor do BNDES é ficar sem recursos suficientes para responder à demanda de crédito que pode crescer com a retomada da economia.

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, não deu detalhes da medida, mas admitiu ao Estadão/Broadcast que há estudos sobre uma alternativa.

Segundo ele, a proposta em avaliação prevê que o banco "coloque alguns recursos à disposição do governo federal" para que a União possa reduzir a dívida pública e cumprir a chamada "regra de ouro", que impede a emissão de nova dívida para financiar despesas correntes e que corre o risco de ser violada pelos sucessivos déficits do governo.

Essa grande negociação pode envolver um amplo acerto de contas (débitos e créditos), não só com a União, mas também com outras empresas estatais, apurou a reportagem.

Mas tudo terá de passar pelo crivo do TCU, a exemplo dos passos adotados pelo BNDES antes da primeira devolução antecipada de R$ 100 bilhões. O órgão de controle foi consultado previamente sobre a regularidade daquela operação, o que deve se repetir agora.

A arquitetura financeira dessa nova proposta pensada pelo banco já está delineada, mas ainda é preciso verificar se ela vai atender às normas do Banco Central e do Tesouro Nacional.

O TCU já deixou claro no primeiro acórdão sobre devoluções antecipadas pelo BNDES que o Tesouro é obrigado a usar esse dinheiro exclusivamente para abater o saldo da dívida pública.

Na área econômica, a ideia é vista com ressalvas técnicas, uma vez que as regras contábeis não permitem o uso desses ativos para o abatimento da dívida pública, e também porque o governo não tem uma tesouraria para vender esses ativos e então reduzir seu endividamento.

A avaliação é de que o BNDES tem muitos recursos parados em caixa e que a União precisa cumprir a regra de ouro, sob o risco de o presidente Michel Temer incorrer em crime de responsabilidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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