Economia

BNDES lucra R$ 5,5 bi pelo desinvestimento em empresas, como na Petrobras

Banco aumentou provisão para risco de crédito de 1,7 bilhão de reais, influenciada pela revisão das classificações das empresas pela pandemia do coronavírus

NF

Natália Flach

Publicado em 15 de maio de 2020 às 09h54.

Última atualização em 15 de maio de 2020 às 10h28.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teve lucro líquido de 5,5 bilhões de reais no primeiro trimestre de 2020, principalmente pelos 8,1 bilhões de reais de desinvestimentos realizados em empresas, como a oferta pública de ações da Petrobras, em fevereiro. Esse efeito foi atenuado pelo aumento de provisão para risco de crédito de 1,7 bilhão de reais, influenciada pela revisão das classificações de risco de empresas dos setores mais afetados pela pandemia do novo coronavírus.

O lucro com intermediação financeira, ou seja, com os financiamentos feitos pelo BNDES, atingiu 4,1 bilhões de reais, aumento de 10,1% em comparação com o primeiro trimestre de 2019. Mesmo com o cenário de menor demanda por empréstimos no período, houve resultado positivo com disponibilidades no exterior.

O ativo do Sistema BNDES totalizou 718,3 bilhões de reais em 31 de março de 2020, queda de 9,9 bilhões de reais (-1,4%) no trimestre. A redução da carteira de participações societárias para 59,2 bilhões de reais (ante 111,9 bilhões de reais no fechamento de 2019) reflete em parte a estratégia de desinvestimento (vendas de 23,8 bilhões de reais) e também os movimentos recentes do mercado, que levaram à desvalorização dos investimentos em empresas não coligadas (redução de 28,8 bilhões de reais). "A volatilidade [do valor carteira de participações] não é bem-vinda, mas reforçou a importância de venda de participação", afirma Gustavo Montenzano, presidente do BNDES, em teleconferência de resultados com jornalistas, nesta sexta-feira.

"Quando o mercado está volátil, os preços mudam de forma dinâmica e a execução [de venda de ações] fica mais difícil. A gente gostaria de ter menos ações e mais caixa. Mesmo assim, temos níveis de capital adequados", acrescenta Montezano.

A carteira de crédito líquida somou 442,1 bilhões de reais no encerramento do trimestre, representando 61,6% dos ativos totais e apresentando variação positiva de 0,7% em relação ao fechamento de 2019, quando totalizava 441,8 bilhões de reais.  

A inadimplência (atrasos superiores a 90 dias), desconsiderando operações com honra da União, recuou de 0,84% em 31 de dezembro de 2019 para 0,37% em 31 de março, abaixo do índice do Sistema Financeiro Nacional (3,17%).

O FAT se manteve como principal fonte de recursos do BNDES. No trimestre, ingressaram 4,46 bilhões de reais do FAT Constitucional e o volume de recursos do fundo com o Banco totalizou 298,34 bilhões de reais em 31 de março de 2020. Juntamente com o PIS-Pasep, o FAT respondia por 44,4% das fontes de recursos do Banco. O passivo com captações externas totalizou 36,263 bilhões de reais em 31 de março, acréscimo de 26,1% no trimestre, em função, principalmente, de efeito cambial.

Já o Tesouro Nacional encerrou o trimestre respondendo por 27,7% das fontes de recursos do BNDES. O valor devido pelo BNDES ao Tesouro se manteve estável, atingindo R$ 199,29 bilhões em 31 de março. No trimestre, os pagamentos ordinários totalizaram R$ 3,8 bilhões e não houve liquidações antecipadas.

O patrimônio de referência, base para o cálculo dos limites prudenciais estabelecidos pelo Banco Central, totalizou R$ 167,014 bilhões em 31 de março (ante R$ 191,684 bilhões em 31 de dezembro de 2019).

O Índice de Basileia encerrou o primeiro trimestre em 35,4%, enquanto o Índice de Capital Principal (Basileia III) foi de 25,4%, níveis bastante confortáveis em relação aos 9,25% e 5,75% exigidos, respectivamente, pelo Banco Central, conforme a resolução 4783 de 16 de março deste ano.

Ações emergenciais

As iniciativas buscam buscam preservar as atividades econômicas das empresas durante esse período, incluindo pequenas e médias empresas, além de investimentos no  setor de saúde. Em todas as suas ações emergenciais, o BNDES já soma 13 bilhões de reais em aprovações, apoiando empresas que empregam 2,2 milhões de pessoas.

Em menos de dois meses, 19 mil clientes já solicitaram a suspensão temporária de pagamentos de financiamentos junto ao BNDES, totalizando 8,7 bilhões de reais. Estima-se que essas empresas empreguem 1,62 milhão de pessoas.

Já a linha de capital de giro para micro, pequenas e médias empresas totaliza 2,3 bilhões de reais em aprovações. Por sua vez, o programa para financiamento da folha de pagamentos de pequenas e médias empresas contabiliza 73 mil operações aprovadas, totalizando 1,6 bilhão de reais. Estima-se que o apoio dessa linha tenha contribuído para o pagamento do salário de 460,5 mil pessoas.

Até o momento, o programa emergencial que tem como foco a ampliação imediata de leitos, além de materiais e equipamentos médicos, aprovou 198,2 milhões de reais, que viabilizarão a entrega de 3.126 leitos, 500 mil novos testes rápidos de COVID-19 e 1.500 novos monitores.

A essas iniciativas se somam às seguintes, que já estão em curso: transferência realizada pelo BNDES de 20 bilhões de reais do PIS-Pasep para o FGTS, ação de financiamento coletivo que já arrecadou 9 milhões de reais (metade desse valor aportado pelo BNDES) para compra de materiais, insumos e equipamentos para Santas Casas e hospitais filantrópicos; chamada pública para seleção de fundos (com aporte total de até  4 bilhões de reais do BNDES) com a finalidade de ampliar o acesso de micro e pequenas empresas ao crédito, por meio de canais não bancários, como fintechs e empresas de gestão de pagamentos por meio de máquinas eletrônicas.

 

 

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