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BNDES anuncia R$ 10 bi para comprar participações acionárias de empresas até o fim do ano

Decisão representa guinada na política para a carteira de participações. Nas gestões anteriores, banco de fomento vendeu fatias em grandes companhias, como Vale e Petrobras

Agência o Globo
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Publicado em 23 de junho de 2025 às 17h01.

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A BNDESPar, empresa de participações societárias do BNDES, fará um investimento de R$ 10 bilhões, até o fim do ano, em ações de empresas, tanto diretamente quanto via fundos, informou nesta segunda-feira o banco de fomento. Segundo o BNDES, a decisão vem após “quase dez anos” sem investimentos diretos em participações acionárias.

Os aportes do banco de fomento para comprar fatias de empresas abertas estão no rol de polêmicas envolvendo o BNDES nas gestões anteriores do PT. Parte da política que ficou conhecida como “campeões nacionais” — a estratégia de reforçar o apoio de grandes companhias privadas para permitir que competissem internacionalmente — foi levada a cabo com participações acionárias.

Um dos casos mais conhecidos foi o da empresa de alimentos JBS. Após uma série de aportes bilionários, o BNDES acabou com fatia relevante do capital da companhia. As operações chegaram a entrar da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal, mas as investigações eximiram os técnicos do banco de fomento de participação em eventuais irregularidades.

Vendas de ações da JBS

Hoje, o BNDES ainda tem 18% do capital da JBS — entre abril e maio, após vendas bilionárias, a participação caiu de 20,8% para 18,18%. E, apesar das polêmicas, uma fonte que acompanhou as operações, que, entre meados de março e meados de maio, o BNDES ganhou de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões com o investimento na participação acionária na JBS.

Com as polêmicas e a decisão, nos governo Michel Temer e Jair Bolsonaro, de reduzir o peso do BNDES na economia, a BNDESPar vinha vendendo suas participações acionárias.

A saída total do capital da mineradora Vale, que acabaria por reduzir o poder de influência da União na companhia, e uma oferta de R$ 22 bilhões em papéis da Petrobras, em fevereiro de 2020, foram marcos dessa estratégia.

“Após quase dez anos sem realizar novos investimentos diretos em renda variável e de um longo período focado em desinvestimentos maciços e desmobilização da carteira, fruto das gestões anteriores, o governo do presidente Lula retoma a missão da BNDESPar de desenvolver o país com o fortalecimento do mercado de capitais”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, segundo uma nota divulgada pelo banco.

De acordo com o comunicado, os R$ 10 bilhões anunciados nesta segunda-feira serão divididos em dois. Metade irá para aportes diretos no capital de empresas, “disponíveis para empresas que solicitem recursos até dezembro deste ano”.

Os R$ 5 bilhões restantes serão aplicados “via fundo de investimentos”, distribuídos por meio de uma chamada pública que será anunciada na COP-30, a conferência anual das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que será em Belém (PA), em novembro.

Segundo o BNDES, será “a maior chamada de fundos da história do banco”, com investimentos de até R$ 5 bilhões, alavancando mais de R$ 15 bilhões de terceiros.

Nos dois formatos, o foco são “companhias com projetos e iniciativas voltadas à transição ecológica, descarbonização e inovação” e podem pleitear os recursos empresas de todos os portes. “A prioridade integra a nova Estratégia de Investimentos em Renda Variável da BNDESPar, aprovada pelo Conselho de Administração no ano passado”, diz o comunicado do BNDES.

Carteira de R$ 87,6 bi

A BNDESPar é um dos maiores investidores institucionais do país. A carteira de participações terminou o primeiro trimestre avaliada em R$ 87,6 bilhões. Desse valor, R$ 4,4 bilhões estão alocados em fundos.

A estratégia de investir em participações acionárias de empresas via fundos, incluindo aí os de seed money ou venture capital, conhecidos por investir em startups, foi mantida mesmo nas gestões recentes que deram prioridade à venda de ações.

Uma das vantagens dos fundos é mobilizar recursos privados. Tipicamente, quando o BNDES lança um fundo, faz uma chamada pública para selecionar um operador, geralmente uma gestora do mercado financeiro, e se compromete a aportar determinado valor. Para o fundo sair, o operador precisa levantar valor equivalente junto a investidores privados.

Atualmente, a BNDESPar tem uma carteira de 53 fundos, nos quais o BNDES se comprometeu a aportar R$ 8 bilhões. A isso se somam R$ 27 bilhões de capital comprometido por outros investidores.

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