Economia

Blanchard: Quantitative easing tem impacto marginal em fluxo

Olivier Blanchard contradiz a posição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vem atribuindo culpa à política do Fed pela entrada de “capital especulativo” em mercados emergentes

Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI: "há razões para ficar preocupado" (Getty Images)

Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI: "há razões para ficar preocupado" (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2011 às 19h19.

São Paulo - Os fluxos de capital para os mercados emergentes não vão desacelerar significativamente quando o banco central dos Estados Unidos encerrar sua política atual conhecida como quantitative easing 2, ou segundo alívio quantitativo, disse Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional.

“O QE2 tem apenas um impacto marginal sobre os fluxos”, disse Blanchard hoje a repórteres no Rio de Janeiro. “Quando acabar o QE 2 eu não espero que vá haver alguma mudança significativa nos fluxos de capital.”

O comentário contradiz a posição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vem atribuindo culpa à política do Fed pela entrada de “capital especulativo” em mercados emergentes. Segundo ele, tal fluxo está contribuindo para a aceleração da inflação e apreciação das moedas nos países emergentes. Em 27 de abril, Mantega disse que esperava que o presidente do Fed, Ben S. Bernanke, não anunciasse mais um alívio quantitativo.

Blanchard também disse que um aumento recente do investimento direto estrangeiro no Brasil é “suspeito”, já que os investidores podem disfarçar fluxios de investimento para driblar restrições do governo.

Fluxos

Os fluxos de IDE superaram a previsão de economistas pelo décimo mês seguido em abril. O País recebeu US$ 23 bilhões em IDE nos primeiros quatro meses do ano, contra US$ 7,7 bilhões no mesmo período de 2010, segundo dados divulgados pelo Banco Central. Investimentos estrangeiros em ações e títulos domésticos caíram de US$ 14,3 bilhões para US$ 532 milhões no mesmo período.

Como parte dos esforços para conter os ganhos da moeda brasileira, em 26 de março o governo elevou para 6 por cento o imposto cobrado sobre os empréstimos tomados por empresas e a venda de títulos do exterior. Alguns dias depois, o governo determinou a cobrança da nova alíquota também sobre empréstimos renovados, renegociados ou transferidos com prazo de até dois anos.

Antes, as empresas pagavam 5,38 por cento sobre empréstimos de até 90 dias, e zero quando o prazo da operação era maior do que três meses. Em outubro, o País triplicou para 6 por cento o imposto cobrado nas compras de títulos de renda fixa feitas por investidores estrangeiros. No ano passado, Mantega disse que países estavam desvalorizando suas moedas provocando uma “guerra cambial” global.


A fatia de ativos de mercados emergentes que estão sob controle de investidores internacionais ainda pode crescer, disse Blanchard hoje a repórteres. Segundo ele, o crescimento econômico da América Latina e Ásia, mais rápido do que os dos países desenvolvidos, atrai o fluxo de capital.

Ele disse que outros instrumentos deveriam ser usados, como taxa de juros, política fiscal, acúmulo de reservas, antes de implementar medidas de controle de capital para conter fluxos “excessivos.”

Nicolás Eyzaguirre, diretor do Hemisfério Oeste no FMI, e ex-ministro da Fazenda no Chile, disse que os governantes da América Latina devem se preparar para resistir a pressões cambiais nos próximos anos, encontrando caminhos para estimular a produtividade e aumentar a poupança.

“Não se enganem, há uma parte disso que é permanente”, disse ele no mesmo evento de hoje, que teve a participação de representantes de bancos centrais da Tailândia, Turquia, Colômbia e Chile para discutir os fluxos de capital para mercados emergentes.

O dólar caía 1 por cento frente ao real às 4:50 p.m. A moeda brasileira acumula ganhos de 45 por cento desde 2009, no topo da lista das 25 moedas de países emergentes seguidas pela Bloomberg.

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