Jair Bolsonaro no palco do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça (Arnd Wiegmann/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 19h33.
Última atualização em 22 de janeiro de 2019 às 20h21.
São Paulo - No início do seu discurso em Davos nesta terça-feira (22), Jair Bolsonaro classificou a sessão no Fórum Econômico Mundial como "uma grande oportunidade".
Ele foi o primeiro presidente do hemisfério sul, primeiro da América Latina e primeiro fora do G7 a abrir o evento, e tinha todos os olhos da imprensa mundial curiosa para saber quem ele é e o que pensa. A julgar pelas reações, a oportunidade foi perdida.
A avaliação geral é que o presidente não tomou nenhum grande risco nem cometeu erros grosseiros, mas também não empolgou a plateia ou esclareceu o que será, afinal, o seu governo.
O discurso foi curto, por qualquer critério. Lula, Dilma e Temer ficaram na faixa dos 30 minutos, incluindo a sessão de perguntas e respostas; Bolsonaro não ficou nem metade desse tempo.
O correspondente Jamil Chade, do Estadão Conteúdo e um veterano de Davos, disse que nunca havia visto um discurso abaixo de 10 minutos no evento até hoje.
O mercado financeiro, que esperava possíveis sinalizações firmes ou detalhes da agenda econômica, não reagiu de forma positiva.
Redes sociais
EXAME acompanhou a movimentação no Twitter através dos mecanismos de busca da ferramenta após o discurso e fez um apanhado de comentários.
A própria conta oficial de destaques do Fórum, com 3,3 milhões de seguidores, não tinha qualquer menção à fala de Bolsonaro até às 19h45 desta terça-feira (22h45 em Davos).
Brian Winter, editor-chefe da revista America Quaterly, disse ter recebido manifestações de colegas não brasileiros "e sem agenda política" chamando o discurso de "bizarro" e um "desastre".
Just for the record: Neither of these people who sent me messages are Brazilian - or have any political agenda. Both are investors who really want Brazil to succeed.
Have received several other similar messages over past hour. It did not go well.
— Brian Winter (@BrazilBrian) January 22, 2019
"Outra pessoa nos emails da audiência de Davos: 'desastre. eu queria gostar dele mas ele não disse nada. Por que ele veio afinal?'
"Só para registro: nenhuma das pessoas que me mandou esta mensagem é brasileira ou tem qualquer agenda política. Ambos são investidores que realmente querem que o Brasil tenha sucesso. Recebi várias outras mensagens similares na última hora. Não foi bem".
Heather Long, correspondente econômica do jornal americano The Washington Post, classificou a fala como um "big fail".
And...that's a wrap. Brazilian President Bolsonaro spoke for less than 15 minutes. Big fail. He had the entire world watching and his best line was to tell people to come vacation in Brazil.
Bolsonaro is billed as "South American Trump" but he appeared tepid.#Davos #WEF19
— Heather Long (@byHeatherLong) January 22, 2019
"E.... acabou. O presidente brasileiro Bolsonaro falou por menos de 15 minutos. Grande fail. Ele tinha o mundo inteiro assistindo e sua melhor frase foi chamando as pessoas para passar férias no Brasil. Bolsonaro é chamado de Trump sul-americano mas parecia morno".
Ben Marlow, editor-executivo de Negócios do jornal britânico The Telegraph, disse que o presidente não atendeu às expectativas e fez um discurso engessado.
Fair to say Bolsonaro didn’t not live up to the billing. Pretty lifeless, wooden speech lasting less than 15 minutes, which felt overly- scripted and whizzed through a long list of already-stated pledges. Can’t imagine him being invited back in a hurry. #Davos2019
— Ben Marlow (@benjaminmarlow) January 22, 2019
"É justo dizer que o Bolsonaro não sustentou sua escalação. Discurso bem sem vida, engessado, que durou menos de 15 minutos, pareceu roteirizado demais e voou por uma longa lista de compromissos já feitos. Não consigo imaginá-lo sendo convidado novamente tão em breve"
Sylvie Kauffmann, diretora editorial do jornal francês Le Monde, chamou a atenção para a falta de sintonia com a plateia e para o tom genérico do discurso.
Bolsonaro not a good match with the Davos crowd. Short campaign speech, very general, then avoids to give concrete answers to Klaus Schwab’s questions. Definitely no standing ovation #WEF2019
— Sylvie Kauffmann (@SylvieKauffmann) January 22, 2019
"Bolsonaro não teve uma boa correspondência com o público de Davos. Discurso curto de campanha, muito genérico, e depois ele evitou dar respostas concretas para as perguntas de Klaus Schwab. Definitivamente sem aplausos de pé".
Carlos Andreazza, editor-executivo do Grupo Editorial Record, viu a falta de brilho no discurso como uma qualidade.
Discurso de Bolsonaro em Davos foi curto, genérico e sem graça. Ou seja: ótimo.
— Carlos Andreazza (@andreazzaeditor) January 22, 2019
Marina Silva, candidata à Presidência nas últimas eleições, focou na sua área de especialidade (o meio ambiente) destacando que o novo governo tem implementado ações na direção contrária das que pareceu celebrar ao dizer que o país é líder em preservação.
Bolsonaro disse em Davos, “somos o país que mais preserva o meio ambiente” e os “que nos criticam têm muito o que aprender”. Só esqueceu de mencionar que os avanços na área ambiental são resultado de ações opostas às que seu governo tem implementado. https://t.co/7omfIvGS3Q
— Marina Silva (@MarinaSilva) January 22, 2019
O ex-tucano, agrônomo e político Xico Graziano, que havia sido cotado para a pasta do Meio Ambiente, também viu a simplicidade como uma vantagem.
Curto e grosso, o discurso de @jairbolsonaro em Davos não agradou àqueles que adoram falas rebuscadas. Lembro que em 2010 o Fórum de Davos premiou Lula como o “Estadista do Ano”. Lula era especialista das palavras fáceis, aquele lero-lero enganoso que viciou a política.
— Xico Graziano (@xicograziano) January 22, 2019
Maurício Santoro, Professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, destacou a falta de menção ao rombo fiscal e medidas para saná-lo, em especial a reforma da Previdência.
Bolsonaro herdou menor inflação e taxa de juros desde redemocratização. Seu problema mais urgente é déficit público e reforma da previdência necessária para reduzi-lo. Impressiona negativamente que não tenha abordado o tema no seu discurso em Davos.
— Maurício Santoro (@msantoro1978) January 22, 2019
Lucas de Aragão, professor de risco político e sócio da Arko Advice, lembrou que a importância do discurso deve ser colocada em proporção, já que o investidor estrangeiro está mais preocupado com decisões concretas e sua viabilidade política.
O estrangeiro tá querendo saber o que o Guedes vai propor. Se vai ter adesão no Congresso ou não. Se passar, ou se não passar a Previdencia, ninguém vai lembrar do que foi, não foi ou poderia ter sido o discurso do Davos.
— Lucas de Aragão (@LucasdeAragao) January 22, 2019